Caros fiéis,
O mês de março é dedicado ao “Salvador do Salvador do mundo”. Essa expressão de São Francisco de Sales lança luz sobre o papel de São José e o de todos aqueles para quem ele é modelo. De acordo com o Papa Leão XIII (Carta “Quamquam pluries”; 1889), há muitos que podem seguir seu exemplo: “Há razões para que todos os homens, qualquer que seja sua condição ou origem, se recomendem e se confiem ao poder e a proteção de São José: os pais têm em São José a mais bela personificação da vigilância paterna e da previdência; as esposas, um modelo perfeito de amor, de união dos corações e de fidelidade conjugal; as virgens, um modelo e também um protetor da pureza virginal”. O Papa continua listando várias condições sociais. Vamos nos ater à consideração dos pais dos quais esperamos futuras vocações sacerdotais e religiosas.
São José protege o Menino Jesus da vontade assassina de Herodes. Esse rei depravado simboliza os vícios que podem arrebatar a presença divina de nossas almas. Todos os pais dignos desse nome devem proteger seus filhos contra eles. Depois de lhes dar a vida divina por meio do batismo, esse é seu dever mais imperativo. São José salva a vida humana de Nosso Senhor. Mas Nosso Senhor é o Salvador das almas. E a de São José não faz exceção. Essa relação mútua de salvador/salvo entre o pai e o Filho manifesta o mistério da Encarnação: o mistério de um Deus feito homem. Isso nos lembra a resposta sublime de Nosso Senhor aos fariseus que se recusaram a reconhecê-lo como Messias: o Messias é filho de Davi, mas por que então Davi o chama de Senhor (Mateus 22,44)? Esse mistério é encontrado no sacerdote que trabalha para a salvação das almas. No dia da sua ordenação, seu pai pode chamá-lo de “Meu Pai”.
Ao meditar sobre essas coisas entendemos que Deus compartilha sua autoridade paterna para o bem daqueles que estão sujeitos a ela. Deus quer que as pessoas sejam salvas. Ele quer que elas progridam na virtude. Que pai não se alegra com o sucesso de seu filho? Aquele que ama quer o bem de seu amado. E ele quer que a pessoa amada tenha esse bem mais do que ele mesmo. Um pai não tem inveja do fato de seu filho ser mais bem-sucedido do que ele. Pelo contrário, ele tem orgulho legítimo disso. Emseus sucessos, o filho tem os méritos pessoais devidos a seus esforços. Mas seus méritos são baseados na herança familiar, como um fruto que floresce em um tronco amarrado a raízes sólidas.
O Evangelho diz muito pouco sobre a infância de Nosso Senhor. O pouco que ele nos diz é, portanto, essencial. “E desceu com eles, e foi a Nazaré, e era-lhes submisso” (Lucas 2,51); “E Jesus crescia em sabedoria, em idade, e em graça diante de Deus e diante dos homens” (Lucas 2,52). A pessoa de Cristo foi obediente às suas próprias criaturas, que se tornaram seus pais. A pessoa de Cristo cresceu em sua natureza humana sob a influência atenciosa e santa de São José e da Bem-Aventurada Virgem Maria. Se Deus quis colocar o Salvador entre duas pessoas tão perfeitas, não foi apenas por respeito à majestade do Redentor; foi também porque elas eram as mais adequadas para prepará-lo para sua missão. Da mesma forma, Deus confia cada filho aos pais como confia um tesouro para ser protegido e crescer. Tudo o que os pais dão a um filho pode ser resumido em uma palavra: herança. Essa herança é crucial para que o filho responda ao chamado de Deus.
É verdade que São José não era um sacerdote. No entanto, com o passar dos anos, Nosso Senhor pôde contemplar em seu pai um terreno com todas as virtudes necessárias para fazer um bom sacerdote. Abençoados são os filhos que podem aprender com o exemplo de seus pais o temor de Deus, a piedade, a preocupação com o bem comum, a pureza e todas as virtudes.
O pai que joga videogame sentado no sofá- para citar um exemplo entre muitos- perde sua autoridade e não consegue dar um bom exemplo. Se seus filhos conseguirem evitar os caminhos errados, terão de trilhar os seus próprios caminhos, apesar dele. Que triste! Sabemos que um testemunho vivo é muito mais poderoso e inspirador para a ascensão espiritual, mesmo que seja limitado no espaço e no tempo, do que as melhores palavras. Não disse o próprio Cristo: “Dei-vos o exemplo, para que, como eu fiz, façais vós também”? (João 13,15). O ensinamento de São José é um testemunho de vida. Que ele nos ajude a nos tornarmos salvadores da presença de Deus nas almas e na sociedade. Peçamos ao santo padroeiro da Igreja universal que interceda por aquele que é seu chefe na terra, para que sua doença lhe permita passar por uma verdadeira conversão e para que ele possa se apresentar sereno diante de Deus quando chegar a hora de prestar contas da mais importante autoridade confiada a um homem.
Deus os abençoe.
Padre Jean-François Mouroux, Prior