COMO MANTER A PACIÊNCIA?

Teresa de Lisieux – Wikipédia, a enciclopédia livre

Fonte: Le Sainte-Anne n ° 336 – Tradução: Dominus Est

Já perto do final de sua vida, Santa Teresa do Menino Jesus admitiu ter recebido percepções (inspirações) particulares sobre a caridade fraterna. Três meses antes de sua morte, ela escreveu: “Este ano, minha Mãe querida, o bom Deus me concedeu a graça de compreender o que é a caridade; antes a compreendia, é verdade, mas de forma imperfeita” (manuscrito C, 11v). Não devemos nos surpreender com este aprofundamento de uma noção que é tão fundamental, nem pensar que Santa Teresa só descobriu ou começou a praticar a caridade fraterna no último ano de sua vida! Mas, como observa o Padre Philipon O.P.: “Os santos estão sujeitos à lei do progresso, personificam até mesmo sua realização mais viva; sua vida é uma ascensão contínua.”

As percepções (inspirações) que o bom Deus concede às almas generosas não são, aliás, meramente especulativas. Os conselhos que Santa Teresa dava às noviças sob sua tutela incluem considerações muito práticas, que se beneficiam de uma experiência e de uma sabedoria crescentes. Como, então, podemos mostrar-nos sempre caridoso? Que “táticas” adotar? Na verdade, não é difícil imaginar que a paciência, por vezes, seja duramente testada em uma comunidade fechada de cerca de vinte mulheres! Como manter a calma ou evitar um comentário provocativo que tanto contribuiria para uma turbulência interna diante das repetidas indelicadezas de uma ou de outra?

Santa Teresa procurava primeiro mostrar como eram frágeis os julgamentos humanos. Ela mesma tinha sido objeto de “correções fraternas” por atos muito delicados de caridade mas que haviam sido mal interpretados. Era fácil mostrar que as intenções mais profundas de uma alma estavam escondidas de outros, e que os atos externos não permitiam medir os esforços feitos, nem mesmo notar todas as vitórias obtidas contra uma natureza rebelde ou a luta contra as circunstâncias, por vezes complexas – e mesmo dolorosas. Quantas situações dolorosas são ignoradas até mesmo pelos mais próximos! Se o bom Deus quis um julgamento geral(final), foi para revelar todas as coisas e demonstrar a justeza de seu governo providencial, perfeitamente medido pelas disposições e méritos de cada um. Entretanto, a palavra de ordem de Nosso Senhor é bem conhecida: “Quero sempre ter pensamentos caritativos, porque Jesus disse: Não julgueis e não sereis julgado” (C 13v). Além disso, é muito mais encorajador ir além da amargura que cega para perceber as qualidades e os bons exemplos que nunca faltam ao nosso redor!

Mas Santa Teresa compreendeu que todos os seus argumentos, por mais justos que fossem, tinham pouca influência sobre as sensibilidades feridas. De fato, quando o próximo é apanhado em “flagrante delito”, não é continuando a olhar para ele – mesmo que esteja tentando animar o seu coração com os pensamentos mais caridosos – que se consegue conter a indignação. Santa Teresa convidou então as suas noviças a elevar os olhos a Deus que, na sua Providência, havia permitido esta pequena prova. A uma delas, que era sua irmã Celine, ela dizia: “Chateia-se tão facilmente porque não amolece seu coração de antemão. Quando está irritada com alguém, a maneira de encontrar paz é rezar por essa pessoa e pedir a Deus que a recompense por ter te feito sofrer.” (Conselhos e memórias, pág. 150)

No fundo, esta é apenas uma aplicação particular de um pensamento que lhe era caro: “Tudo é graça“. Esse aforismo, que ficou famoso por Bernanos, pode ser lido em suas últimas entrevistas. Ela quase morreu sem ter recebido a Extrema Unção, e embora confessasse sua grande devoção aos sacramentos, ela afirmava ter abandonado todo cuidado de sua alma a Deus. “Sem dúvida, é uma grande graça receber os sacramentos; mas quando o bom Deus não o permite, é bom mesmo assim, tudo é graça ”(C. J. 5. 6. 4.). Mas não foi a primeira vez que a Santa afirmou assim a sua fé na Providência Divina. Céline relata que repetia frequentemente esta palavra às noviças sob sua tutela, encorajando-as a agradecer a Deus com frequência.

Ora, Deus, que deseja a perfeita purificação de nossas almas, sabe como usar as boas e as más intenções de nosso próximo para alcançá-la. Mas para obter este resultado, esqueçamos a criatura e adoremos Sua mão todo-poderosa. Elevando-se a Deus, o coração sente menos as “alfinetadas” (carta 81), esquece-se da imprudência ou mesmo da maldade humana e se coloca na verdade de uma presença divina que é totalmente benevolente. É apenas numa segunda etapa que será possível olhar com misericórdia para as fraquezas do próximo.

Pe. Thierry Gaudray, FSSPX