NÃO SE PODE SALVAR A DIGNITATIS HUMANÆ

“Alguns teólogos tentaram salvar a qualquer custo a declaração do Vaticano II sobre a liberdade religiosa, demonstrando que ela estaria em continuidade com a Tradição. A posição de suas tentativas e fracassos.”

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Todos os católicos concordam em dizer que ninguém pode ser constrangido a aderir à fé. A questão da liberdade religiosa reside em um outro ponto. Ela consiste em saber se um Estado católico tem o direito de reprimir o exercício público das falsas religiões, exatamente porque são falsas. Toda a Tradição responde de forma afirmativa. O Concílio Vaticano II o nega.

O ensino tradicional da Igreja simplesmente considera uma tolerância aos falsos cultos para evitar um mal maior. Ao contrário, “o regime da liberdade religiosa proíbe essa intolerância legal, segundo a qual alguns cidadãos ou algumas comunidades religiosas seriam reduzidas a uma condição inferior quanto aos direitos civis em matéria religiosa.”[1]

À primeira vista, a questão é muito mais importante do que poderia parecer, pois envolve a obra da Igreja no mundo e seu fim. Ora, o fim (chamado também causa final) influi sobre toda a ação, desde o princípio desta. É “uma questão de vida ou morte para a Igreja.”[2] Ela recebeu a missão de fazer seu Esposo reinar ao ponto de ser estabelecida uma cristandade, ou suas prerrogativas reais serem plenamente reconhecidas. O Concílio Vaticano II, ao contrário, se associou ao ideal da democracia moderna, onde o Estado deve velar para que “ninguém seja forçado a agir contra sua consciência, nem impedido de agir, em justos limites, conforme sua consciência, em privado como em público, sozinho ou associado a outros.”[3] Os falsos cultos não deveriam ser somente tolerados, mas protegidos. Continuar lendo

COMO MANTER A PACIÊNCIA?

Teresa de Lisieux – Wikipédia, a enciclopédia livre

Fonte: Le Sainte-Anne n ° 336 – Tradução: Dominus Est

Já perto do final de sua vida, Santa Teresa do Menino Jesus admitiu ter recebido percepções (inspirações) particulares sobre a caridade fraterna. Três meses antes de sua morte, ela escreveu: “Este ano, minha Mãe querida, o bom Deus me concedeu a graça de compreender o que é a caridade; antes a compreendia, é verdade, mas de forma imperfeita” (manuscrito C, 11v). Não devemos nos surpreender com este aprofundamento de uma noção que é tão fundamental, nem pensar que Santa Teresa só descobriu ou começou a praticar a caridade fraterna no último ano de sua vida! Mas, como observa o Padre Philipon O.P.: “Os santos estão sujeitos à lei do progresso, personificam até mesmo sua realização mais viva; sua vida é uma ascensão contínua.”

As percepções (inspirações) que o bom Deus concede às almas generosas não são, aliás, meramente especulativas. Os conselhos que Santa Teresa dava às noviças sob sua tutela incluem considerações muito práticas, que se beneficiam de uma experiência e de uma sabedoria crescentes. Como, então, podemos mostrar-nos sempre caridoso? Que “táticas” adotar? Na verdade, não é difícil imaginar que a paciência, por vezes, seja duramente testada em uma comunidade fechada de cerca de vinte mulheres! Como manter a calma ou evitar um comentário provocativo que tanto contribuiria para uma turbulência interna diante das repetidas indelicadezas de uma ou de outra?

Santa Teresa procurava primeiro mostrar como eram frágeis os julgamentos humanos. Ela mesma tinha sido objeto de “correções fraternas” por atos muito delicados de caridade mas que haviam sido mal interpretados. Era fácil mostrar que as intenções mais profundas de uma alma estavam escondidas de outros, e que os atos externos não permitiam medir os esforços feitos, nem mesmo notar todas as vitórias obtidas contra uma natureza rebelde ou a luta contra as circunstâncias, por vezes complexas – e mesmo dolorosas. Quantas situações dolorosas são ignoradas até mesmo pelos mais próximos! Se o bom Deus quis um julgamento geral(final), foi para revelar todas as coisas e demonstrar a justeza de seu governo providencial, perfeitamente medido pelas disposições e méritos de cada um. Entretanto, a palavra de ordem de Nosso Senhor é bem conhecida: “Quero sempre ter pensamentos caritativos, porque Jesus disse: Não julgueis e não sereis julgado” (C 13v). Além disso, é muito mais encorajador ir além da amargura que cega para perceber as qualidades e os bons exemplos que nunca faltam ao nosso redor! Continuar lendo

PADRE PIO E AS ALMAS DO PURGATÓRIO

Pio

Na vida do Padre Pio, as manifestações de almas do purgatório eram bastante frequentes. Abaixo encontram-se relatos de dois desses surpreendentes encontros.

Fonte:  Le Sainte-Anne n ° 337 – Tradução: Dominus Est

Um morador de rua

Em maio de 1922, estava Padre Pio em seu convento numa noite de inverno, após uma forte nevasca, sentado junto à lareira do salão comunitário, absorto em suas orações, quando um homem idoso, vestindo um casaco antiquado, mas ainda usado pelos camponeses do sul da Itália (na época), sentou-se ao seu lado. Deste homem, Padre Pio declarou: “Eu não conseguia imaginar como ele pôde ter adentrado no convento àquela hora da noite, porque todas as portas estavam fechadas. Eu perguntei a ele: “Quem sois vós? O que o quereis? “

O velho respondeu: “Padre Pio, sou Pietro Di Mauro, filho de Nicola Precoco.” E prosseguiu dizendo: “Morri neste convento em 18 de setembro de 1908, na cela número 4, quando ainda era um hospício. Uma noite, enquanto estava na cama, adormeci com um charuto aceso, que incendiou o colchão e acabei morrendo sufocado e queimado. Ainda estou no purgatório e preciso de uma Santa Missa para ser libertado. Deus me permitiu vir até vós e pedir ajuda”. Continuar lendo

A PERSEVERANÇA É MERITÓRIA?

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A cada comunhão que oferece, o sacerdote repete: “Que o Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo guarde vossa alma para a vida eterna!” 

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Na noite de Páscoa, Nosso Senhor “fingiu” afastar-se dos discípulos de Emaús, que imediatamente “O exortaram, dizendo: Fica conosco, porque faz-se tarde, e o dia declina” (Lc XXIV, 29). Sem este convite imediato, a graça de reconhecer o Cristo ressuscitado ter-lhes-ia escapado. Quando o tempo pascal se aproxima do fim, fazemos nossas as orações deles. Queremos que a alegria da Páscoa permaneça conosco.

Cristo, que “ressuscitou para nossa justificação” (Rm IV, 25), quer que participemos desta vida na Sua paz, através da graça da perseverança em seu amor. Pela Paixão e Ressurreição de Nosso Senhor, estamos mortos para o pecado e vivos para Deus (cf. Rom. VI, 11). Assim como Cristo retomou a posse de sua vida para nunca mais morrer, assim, a alma redimida deve conservar para a vida eterna o dom precioso da graça. O altar onde se renova o sacrifício de Cristo é a nova árvore da vida onde o fiel católico encontra o alimento que lhe permitirá permanecer, livre de faltas, no amor do bom Deus segundo esta promessa: “Quem come a Minha carne e bebe Meu sangue permanece em mim e eu nele.” (Jo VI, 57). A cada comunhão que oferece, o sacerdote repete: “Que o Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo guarde vossa alma para a vida eterna! “

A perseverança é, antes de tudo, uma virtude que enfrenta a longitude do tempo. Santo Tomás ensina que ela “tende a perseverar” apesar da perspectiva de uma vida de luta, mas acrescenta imediatamente que não se segue necessariamente que, tendo virtude, a pratiquemos inevitavelmente até os últimos dias [1]. Entretanto, o termo perseverança também designa o fato de permanecer em estado de graça até o final. Às almas que se salvam, “o que é dado pela graça de Cristo não é apenas poder perseverar, mas perseverar de fato”, observa Santo Agostinho [2] . Continuar lendo

A UNIDADE DA HUMANIDADE

L'unité du genre humain • La Porte Latine

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

O Bom Deus quis que os homens nascessem de um só homem e de uma só mulher – que ela mesma fosse tirada dele – para que a unidade da raça humana fosse perfeita. De fato, “Porque ninguém aborreceu jamais a sua própria carne, mas nutre-a e cuida dela”(Ef. 5, 29). Foi o pecado que destruiu este plano de Deus. Assim, o Gênesis conta o assassinato de Abel por seu irmão Caim, imediatamente após a narração do pecado original.

A Redenção deveria restabelecer as coisas da maneira mais maravilhosa no mistério do Verbo Encarnado, mas não suprimindo toda divisão entre os homens. Ao contrário, Deus se dirigiu à serpente tentadora, profetizando: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua raça e a dela” (Gn 3, 15). Toda a História Sagrada descreve as muitas separações que o Bom Deus permitiu ou ordenou: Abraão deixou sua família; Isaac, e não Ismael foi o escolhido; Jacó foi preferido a seu irmão Esaú … O que São Paulo disse ao louvar a fé poderíamos repetir sobre as divisões e separações que narra a Sagrada Escritura: “E que mais direi ainda? Fartar-me-ia o tempo, se eu quisesse falar de Gedeão, de Barac, de Sansão, de Jefté, de David, de Samuel, e dos profetas.“(Hb. 11, 32)

Os homens nunca aceitaram este plano divino. Não é incrível que o único evento narrado pelo Gênesis entre o Dilúvio e o chamado de Abraão seja a construção da Torre de Babel? Nada é dito sobre a história dos homens sobre como eles se multiplicam novamente, exceto a tentação de estabelecer uma unidade da humanidade sem recorrer a Deus. “Vinde, façamos para nós uma cidade e uma torre, cujo cimo chegue até ao céu: e tornemos celebre o nosso nome antes que nos espalhemos por toda a terra.”(Gn. 11, 4). Deus não demorou a castigar esta pretensão de restabelecer uma união dos homens que não fosse baseada no amor e serviço de Deus: “Vinde pois, desçamos, e confundamos de tal sorte a sua linguagem, que um não compreenda a voz do outro.”(Gn. 11, 7) Continuar lendo