DAI-NOS VOCAÇÕES RELIGIOSAS!

Pelo Pe. Martellière, FSSPX

Fonte: FSSPX Distrito de Benelux – Tradução: Dominus Est

Raríssimas são as redes sociais que falam da crise atual na verdade de Deus. Com efeito, o infortúnio de nosso tempo reside na falta de padres que ofereçam santamente o santo Sacrifício da Missa, em vista de apaziguar a justiça de Deus. A mensagem que guia o nosso pensamento é a de Nossa Senhora de La Salette, de 19 de setembro de 1846.

Por um lado, o que estas redes sociais também não evocam é a consideração da beleza celeste de nossa religião e da união íntima e mística com o nosso Redentor. A alma que entra na imensidão da sabedoria e do amor da Santíssima Trindade encontra a plenitude da alegria, pois as perfeições de Deus satisfazem perfeitamente as aspirações legítimas de nossas inteligências e de nossas vontades. O culto que prestamos a Deus não tem outro ideal senão fazer Sua graça viver em nossas almas. O que alegra a Deus tanto quanto a nós. Assim, quanto mais tivermos santos padres, mais as bênçãos divinas cairão em abundância sobre os homens. Por outro lado, se os homens rejeitam constantemente e violentamente a presença divina, como Deus, como bom Pai, não se irritaria?

Religião encarnada

Como aprendemos em nosso catecismo, Deus, o Ser infinitamente perfeito, sustenta a nossa existência ao nos comunicar a todo instante sua potência para vir habitar em nosso ser intimamente. Nosso Senhor, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, se encarna sobre a terra afim que O recebamos em nossa inteligência, vontade e coração, e isso por meio da Santa Comunhão. Todavia, em vista de restabelecer a amizade mística entre Deus infinitamente bom e uma humanidade ferida pela falta original, o Santo Sacrifício expiatório da Missa redime, para cada um de nós, os pecados da inteligência, da vontade e do coração.

Missão das vocações religiosas: vivificar a Igreja

Contudo, não devemos esquecer a missão específica das vocações religiosas no mistério de nossa religião. O padre, de acordo com o Coração Sacerdotal de Jesus, deve subir ao altar do Sacrifício com os seus sentimentos divinos, assim como meditamos na última correspondência espiritual. Todavia, levando em conta a psicologia realista(1), pertence mais à religiosa encarnar a presença de Deus na alma. Com efeito, se o padre deve tender à perfeição para ser amigo de Cristo, a religiosa encontra sua plenitude interior se tornando uma verdadeira esposa(2) de Cristo. De fato, na ordem natural, assim como na ordem sobrenatural, a esposa perfeita possui uma maior capacidade de união íntima com o ser amado. Assim, a religiosa personifica mais particularmente, mais sensivelmente, a presença sobrenatural de Jesus Cristo por uma vida interior mais profunda da que se pode vivê-la um amigo do Filho de Deus.

Certamente, o padre está unido objetivamente a Cristo pelo sacramento da Ordem, porém, interiormente, assim como a religiosa, ele também deve buscar a união mística com a Santíssima Trindade, de acordo com a sua natureza e a sua boa vontade.

Criando dois gêneros diferentes, Deus quis manifestar, deste modo, duas missões particulares na Igreja, para revelar sua infinita sabedoria. A obra da Redenção, que permanece única, comporta, portanto, dois aspectos principais, a saber: o Santo Sacrifício pelo ministério público do sacerdote, e o sacrifício interior da religiosa. Assim, se o padre torna o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo presentes no altar, a religiosa, por sua vocação de esposa de Nosso Senhor, vivifica as graças do altar e as tornam vivas nas almas. O sol que ilumina a terra e que a aquece por seus raios oferece uma imagem sensível de uma realidade sobrenatural de duas missões diferentes, mas que são complementares no Corpo Místico de Cristo.

Precisamos de várias considerações espirituais se quisermos compreender melhor este belo mistério, que também pertence a todo fiel(3) que quer viver neste mundo uma maior união com Deus. O exemplo que a vida religiosa oferece é uma grande graça para a Igreja, e deve encorajar todo católico a seguir este caminho da perfeição. Infelizmente, estas riquezas da vida interior são muito pouco conhecidas, ou, pior ainda, são corrompidas pela pobreza religiosa atual.

A oração das religiosas: uma grande bênção para a Igreja

Assim, a Sabedoria eterna dispensa as graças necessárias à salvação dos homens pelo mistério do padre, completado por aquele da religiosa. É por isso que o Papa Pio XI recorda a necessidade de obter santas vocações sacerdotais e religiosas, em vista de superar a fraqueza dos homens no cumprimento de seus deveres religiosos(4).

“Logo, é de elevadíssima importância que não falte jamais à Igreja intercessores, livres de qualquer outro cuidado, para implorarem incessantemente a misericórdia divina e fazer descer do céu, sobre os homens, deveras desatentos com a sua salvação, benefícios de toda a sorte…”

“Se foi necessário em outras épocas que a Igreja de Deus contasse com santos religiosos, hoje, mais do que nunca, faz sentido existirem e prosperarem, enquanto vemos tantos cristãos, que negligenciando a meditação das coisas celestes, até mesmo rejeitando qualquer pensamento de salvação eterna, buscam, sem qualquer freio, os bens da terra e os prazeres do corpo, adotando costumes pagãos completamente contrários ao Evangelho e exibindo-os tanto em sua vida privada como em sua vida pública…Compreende-se facilmente : estes, cujo zelo assíduo devota-os à oração e à penitência… contribuem ao progresso da Igreja e à salvação do gênero humano“.

Assim, oferecer a Deus Missas para pedir numerosas vocações religiosas(5)  é uma obra que agrada infinitamente ao nosso Salvador : seu divino Coração busca avidamente verdadeiras esposas para a glória de sua Igreja e de seus numerosos filhos.

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Notas:

(1) A psicologia realista é extraída da filosofia de São Tomás, que permanece na ordem do bom senso cristão.

(2) O modelo e o conceito de esposa não devem ser considerados com a mulher moderna, imbuída das ideias feministas, mas de acordo com a Santa atitude da Virgem Maria, modelo de todas as mulheres, tanto quanto a Deus como de São José, quanto dos homens. O rito de consagração das virgens centra a alma da religiosa nas nupcias místicas com a humanidade do Salvador, tal como Santa Teresa d’Ávila, entre outras, concebeu para suas filhas.

(3) Santa Teresa d’Ávila, em seus escritos, como nas Moradas, se dirige em alguns momentos às almas deste mundo.

(4) Pio XI, A vida contemplativa na Igreja. Ensinamentos Pontifícios de Solesmes, Os Institutos de vida perfeita, nº 427.

(5) Uma vez por mês, na quarta-feira, adicionamos as orações para obter vocações sacerdotais e religiosas.