DEUS É CARIDADE

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

“ECCE AGNUS DEI”

A estas palavras, diz-nos São João, eles o seguiram. Contudo, ele nos comunica apenas um nome, André. Porém, ao lermos os detalhes, compreendemos que São João fazia parte da aventura. E, pela primeira vez, aquele que Jesus mais amava esconde sua identidade.

O que se passa em uma alma apaixonada é muito misterioso. As lembranças do primeiro encontro com o amado são episódicas, mas muito precisas. É uma lembrança que marca definitivamente, uma atitude, um lugar, uma palavra… é um momento. É o que encontramos na narração, tão simples e tão detalhada, do Evangelho, onde acontece o abalo de um primeiro encontro com alguém que faz vossa vida mudar de rumo: era neste lugar, às margens do Jordão, na segunda hora, que Jesus passava. Temos a impressão de ver sua silhueta, ouvimos o Batista falar. João se lembra de tudo. Como não poderia se lembrar de todos estes detalhes aquele que Jesus mais amava?

Não se tratava de um amor humano, como aquele de um simples discípulo que se afeiçoa ao seu mestre, ou como aquele do esposo que encontra pela primeira vez sua esposa. O amor humano nasce da bondade de uma pessoa, de um objeto. Essa bondade é a expressão de uma certa semelhança, de uma certa proporção. Aquele que ama se encontra naquele que ele ama, e sai de si mesmo para se ligar a este outro que o eleva, o completa.

O amor cristão é completamente diferente, é uma resposta. É um amor correspondente do homem a um amor original, o amor de Deus, que o precede, o justifica, que lhe comunica toda sua impulsão. “E nós, cremos na Caridade”, escrevia São João em sua epístola. É a palavra Caridade que devemos pronunciar quando falamos do amor cristão. Isto é necessário para evitarmos a confusão com o amor humano, limitado à bondade criada. É evitar que pensem que Deus está ao nosso alcance, como se estivesse à nossa disposição.

Deus é Caridade”, dir-nos-á ainda aquele que Jesus mais amava. Quando fala assim de Deus, ele não faz da Caridade um atributo divino. A Caridade, esse amor original, é a substância própria de Deus. Se, por antropomorfismo, aquele que viu o sagrado Coração transpassado nos demonstrará ternura ou compaixão, atenção ou solicitude, ciúme ou misericórdia, sempre precisaremos entendê-lo como ele entendeu: radicalmente diferente de um amor humano, de uma natureza completamente diferente, de outra dimensão, infinitamente incompreensível e injustificável. Pois Deus é Caridade, e Ele é Caridade porque é Deus.

Não se deve confundir o amor humano, que se exprime diversamente em ternura ou compaixão, com o verdadeiro amor por Deus. A Caridade de Deus não é dada ao homem senão pela graça, sem nenhuma consideração por seus méritos pessoais ou por suas qualidades morais. Há algo de natural e sobrenatural no amor cristão. E se, como dizia justamente São Francisco de Sales, “Deus é Deus do coração humano”, somente a graça pode converter o amor em Caridade. Todo amor, por mais humano ou demasiadamente humano que seja, canta desesperadamente uma graça ausente e original da qual ele sente saudade.

Simples assim… eles seguiram Jesus.

Pe. Vincent Betin, FSSPX