A educação que se faz inteiramente no seio da família, será preferível à que, tendo começado sob a inspeção materna, vai terminar num pensionado? Não ousamos responder a esta questão. O ilustre bispo de Orleans, a quem a grande experiência dá tanta autoridade sobre o que diz respeito à mocidade, não quer que a educação pública comece muito cedo, mas julga-a preferível à educação privada.
Digamos todavia algumas palavras, acerca do preceptor, porque um certo número de mulheres cristãs, não querendo ver seus filhos subtraídos à sua solicitude, ou querendo a todo o transe subtraí-los às escolas sem Deus, os confiam a um preceptor encarregado de os instruir, e de os educar, sob os olhos de seus pais. Entre as crianças, que, durante o ano escolar, seguem o curso dum pensionado, um grande número são confiadas, durante as férias à vigilância dum mestre, que lhes repete as lições do colégio. Não é, pois, inútil dizer à mãe quais devem ser as qualidades do preceptor de seu filho.
A fé, tal é a primeira e a mais essencial das condições a exigir dum mestre. Não é a fé efetivamente o que um homem tem de mais precioso neste mundo, visto que sem ela é impossível agradar a Deus, e esperar os bens eternos? E não é tão necessária esta virtude, visto que a mulher cristã deve primeiro que tudo conservá-la intacta no coração de seus filhos? Mas quem o não vê? Um preceptor incrédulo roubaria tanto mais facilmente a fé a um jovem, quanto maior influência tivesse sobre ele. Não ousaria de certo professar a impiedade, ou o racionalismo, numa casa, onde se conservam, como o mais sagrado depósito, as tradições religiosas dos antepassados; mas de quando em quando deixaria escorregar algumas palavras de dúvida ou de desprezo; deporia dessa forma no coração dos seus discípulos algum germem fatal de incredulidade, e a incredulidade é um vento ardente que seca quanto de virtude possa existir num coração de criança.
É preciso, em segundo lugar, que o preceptor, seja duma grande pureza de costumes; sem esta qualidade, em vez de educar almas para o Céu, abatê-las-ia, por suas palavras envenenadas, ou por seus exemplos perversos, ao nível da sua própria corrupção. «Nada é mais funesto ao discípulo, que a vida desregrada do mestre», disse um filósofo cristão. «Escolhei, escrevia S. Jerônimo a uma senhora romana, escolhei um mestre, cuja idade e vida irrepreensível o coloquem ao abrigo de toda a suspeita». Conta-se que Alexandre, esse conquistador do Universo, conservou até à morte, tanto nos costumes, como nas palavras, os defeitos que imitou desde a infância a Leonidas, seu preceptor.— «E que o mestre que escolherdes tenha também a necessária ciência, acrescentava S. Jerônimo. Efetivamente sem ciênçia, seria desprezado de seus alunos, que não tardariam a reconhecer-lhe a incapacidade, perdendo assim toda a influência que lhe teriam grageado as suas virtudes. — Enfim «a piedade, diremos nós, com Mgr. Dupanloup, uma piedade verdadeira, nobre, simples, amável, é de todas as qualidades dum professor, a que se deve preferir a todas as outras, e que lhes faz acrescentar um preço infinito. Ela só inspira aos mestres um zelo, um ardor, uma dedicação pelo bem dos seus discípulos, que sobre todos atraem as bênçãos do Céu.»
Enganam-se completamente os pais, que, deslumbrados pela reputação de ciência dum homem aliás pouco recomendável, se empenham em ligá-lo à educação de seus filhos. Não são menos culpados os que entregam os filhos ao primeiro que se apresenta, sem se terem informado cuidadosamente dos seus princípios e do seu comportamento. Contra semelhante abuso, já se pronunciava S. João Crisóstomo: — «Se possuírmos, diz ele, um fértil domínio, procuramos com grande cuidado um homem de confiança, para o fazer prosperar, e desprezamos o que nos deve ser mais caro que tudo o mais, isto é, deixamos à rebelia a escolha dum homem fiel, que defenda e conserve a inocência a um nosso filho! Haverá pois, uma propriedade, uma quinta, que nos deva ser tão cara, como nossos filhos, para quem nós amontoamos riquezas? Não será uma loucura vigiar com mais cuidado pelos nossos bens, do que por quem os deve herdar?
Pudésseis vós, piedosas mães, encontrar para vossos filhos um mestre, que desejasse tanto como vós, a sua felicidade, e a sua salvação eterna, e que trabalhasse com igual zelo, em formá-los para a virtude!
Quando o tiverdes encontrado, respeitai-o, para que vossos filhos, por vosso exemplo, aprendam a respeitá-lo. Evitai de censurar, na presença dos filhos, a maneira como ele os trata e os corrige; isso seria tornar odiosa a sua autoridade, e paralizar o seu zelo. Andai sempre de harmonia com ele, sem cessar todavia de o vigiardes.
M.me Acarie, escreve o seu biógrafo, desejava encontrar nos mestres que dava aos filhos a vigilância e a firrneza, juntas à ciência, e à virtude. E depois de ter tomado tantas precauções, para colocar seus filhos em mãos seguras, ainda assim se não julgava desonerada de os vigiar ela própria.
É inútil acrescentar que uma mulher cristã exigirá das pessoas encarregadas de instruir a sua filha todas as qualidades que acabamos de enumerar, falando do preceptor. Consentiria ela que uma menina recebesse as lições dum mestre, não estando ela ou seu pai a vigiar?…
A Mãe segundo a vontade de Deus – Pe. J. Berthier