DUAS VERDADES QUE SE DEVEM ENSINAR ÀS CRIANÇAS – PARTE 2

Imagem relacionadaEu creio: isto é, estou firmemente convencido das ver­dades que vou professar. Estou certo de que não erro, cren­do-as, porque me foram ensinadas por Jesus Cristo, o Filho de Deus, que não pode enganar-Se, nem enganar-nos; por­que a razão nos faz compreender, e o próprio Deus nos ensi­nou, que é a perfeição infinita. Estas verdades foram depois ensinadas pelos apóstolos, os amigos de Jesus Cristo, que receberam de Deus o privilégio de não poderem nem enganar-se, nem enganar os homens, privilégio de que goza hoje, e de que gozará até à consumação dos séculos a santa Igreja Romana, isto é o Papa, e os Bispos conjuntamente com ele, porque Jesus Cristo prometeu estar com eles até ao fim do mundo, afim de os preservar de todo o erro. 

A divindade de Jesus Cristo, e da Sua Igreja, têm afinal sido demons­tradas pelos maiores milagres, atestados pela história mais certa, e tem convertido os maiores incrédulos; também todos os apóstolos e os santos mártires acreditaram e acreditam o que Deus revelou e a Igreja ensina.

Creio em Deus: isto é, estou certo que Deus existe, que há um só Deus, e que este Deus é o fim de toda a criatura.

Creio em Deus Padre, a primeira pessoa da Santíssima Trindade. O Seu poder não tem limites. Fez do nada, por Sua única vontade, o Céu, a terra, e tudo quanto existe.

Creio em Jesus Cristo, como creio em Deus Padre. Creio que é Filho verdadeiro de Deus, a segunda pessoa da adorá­vel Trindade, o mesmo Deus que o Pai. É o nosso soberano Senhor, e o Seu poder estende-se sobre todas as criaturas.

Sei e creio que o mesmo Filho de Deus Se fez homem, tomou um corpo e uma alma como nós, sem deixar de ser Deus. Não nasceu à maneira dos outros homens, porque não teve, como homem, pai verdadeiro. Por obra do Espírito Santo, o Seu corpo foi formado no seio de Maria, a mais pura das virgens, que o deu à luz, sem dor, duma forma mila­grosa.

Este mesmo Jesus Cristo padeceu durante trinta e três anos a pobreza e os sofrimentos, sobretudo no tempo de Póncio Pilatos, governador da Judeia. Pregaram-Lhe as mãos e os pés numa cruz, por meio de grossos cravos, e morreu neste afrontoso suplício. O Seu corpo, separado da Sua alma, foi metido no sepulcro. A Sua alma desceu ao lugar em que as almas dos justos, mortos antes da vinda do Salvador, espera­vam que Ele fosse livrá-las e abrir-lhes o Céu, até então fe­chado, pela desobediência de Adão.

No terceiro dia depois da sua morte, reuniu-se a alma ao corpo, e saiu vivo e glorioso do sepulcro, para subir ao Céu quarenta dias depois, pela virtude da Sua Onipotência. No Céu está sentado sobre um trono à direita de Deus, e acima de todas as criaturas. Um dia virá, em que Ele aparecerá sobre as nuvens, com grande majestade e poder, para julgar todos os que foram resgatados pelo Seu sangue, isto é, os justos e os pecadores, todos os que morreram depois de Adão até ao fim dos tempos, e os que estiverem vivos no fim do mundo.

Creio no Espírito Santo, da mesma maneira que creio no Padre e no Filho. É a terceira pessoa da Santíssima Trindade, igual ao Padre e ao Filho, e o mesmo Deus que o Padre e o Filho. —Creio que há uma só verdadeira Igreja de Jesus Cristo, que é uma sociedade de verdadeiros fiéis servindo a Deus, como Ele quer ser servido; o Papa é o seu chefe visí­vel, e todos nós lhe devemos obediência. Assiste-lhe o Espí­rito Santo e ela não pode enganar-se no que nos manda acre­ditar, e não manda fazer, senão o que é justo. É santa em Jesus Cristo, seu chefe invisível, santa na sua doutrina, santa nos sacramentos, santa num grande número dos seus mem­bros. Os santos do Céu, os católicos da terra e as almas do Purgatório fazem todos parte da Igreja de Jesus Cristo. Os santos do Céu, e as almas dos justos da terra podem auxiliar-nos com as suas orações. As nossas boas obras tendem a aliviar as almas do Purgatório. É a isso que se chama a comunicação dos santos. — Creio que Jesus Cristo deu à Sua Igreja o poder de perdoar os pecados, e fora da Igreja os pecados não podem ser perdoados. — No fim dos séculos os corpos de todos os homens hão de unir-se às respectivas almas, e nunca mais se separarão. Creio que depois do julga­mento há de haver uma vida eternamente feliz para os justos e uma vida eternamente infeliz para os réprobos.

Aquele que nos revelou o que devemos crer, também nos ensinou o que devemos fazer para merecer o Céu. Deus deu dez mandamentos a Moisés, sobre o monte Sinai, onde fez brilhar o Seu poder por meio de trovões e relâmpagos que encheram de espanto o povo de Israel, reunido ao pé da montanha. A Igreja declarou que estes dez mandamentos são obrigatórios para todos os fiéis, e todos, por conseguinte os devem conhecer. Eis aqui em resumo o que cada um destes mandamentos nos proíbe e nos prescreve:

1.º Amar a Deus sobre todas as coisas.

Este primeiro mandamento obriga-nos à prática das vir­tudes da fé, da esperança, da caridade e da religião.

Peca-se contra a fé: negando uma só que seja, das ver­dades que a Igreja nos manda acreditar; alimentando no nosso espírito alguma dúvida acerca de qualquer dessas verdades; deixando decorrer muito tempo, sem fazer atos de fé; e proferindo palavras ou lendo escritos que ataquem a religião.

Peca-se contra a esperança: desconfiando da Providên­cia; murmurando contra ela; desesperando de se corrigir dos seus defeitos ou de chegar à vida eterna; pensando que será salvo sem o socorro da graça, ou sem as boas obras; e adiando para outra ocasião a sua conversão, sob o pretexto de que Deus é misericordioso.

O amor que devemos a Deus deve levar-nos a nunca aborrecer este soberano bem de nossas almas, a evitar que O sirvamos com tibieza, e a obrigar-nos a recitar freqüentes atos de caridade.

A religião ordena-nos que prestemos a Deus o culto que Lhe é devido, convida-nos a honrar os santos, e principalmente a Santíssima Virgem, Mãe de Deus. Obriga-nos também a orar.

À religião proibe-nos que prestemos à criatura o culto que só se deve prestar a Deus; que tenhamos costumes e con­versas supersticiosas, e que procuremos conhecer o futuro, ou a fazer coisas maravilhosas, por intermédio do demônio. É um sacrilégio maltratar as pessoas consagradas a Deus, ou profanar os lugares santos; é também um sacrilégio tratar com desprezo as relíquias, as imagens, e principalmente rece­ber os sacramentos sem as disposições necessárias.

2.º Não jurar o nome de Deus em vão.

Este segundo mandamento ordena-nos que respeitemos o nome adorável de Deus. Condena a blasfêmia, os juramen­tos falsos ou injustos, o costume de certificar o que se afirma, por juramento, erguendo a mão ou de qualquer outra ma­neira, e enfim a violação dos votos que se fizeram, ou a ne­gligência em cumprí-los.

3.º Guardar domingos e festas de guarda.

Este terceiro mandamento obriga-nos a ouvir missa aos domingos, e dias santificados, abstendo-nos nesses dias de obras servis.

4.º Honrar pai e mãe.

Os meninos devem a seus pais amor, respeito e obediên­cia. Tornam-se culpados aos olhos de Deus, desejando mal aos autores da sua vida, não lhes assistindo nas suas doen­ças ou necessidades, dirigindo-lhe palavras injuriosas, baten­do-lhes, ou recusando fazer aquilo que eles lhes mandam. Devem também respeito e amor ao sacerdote, e aos mestres que são a seu respeito os representantes de Deus.

5.º Não matar.

Devemos, pelo amor que temos a Deus, amar todos os homens, como nossos irmãos, visto que foram feitos à ima­gem e semelhança de Deus; devemos assistir-lhes nas suas necessidades, e desejar a salvação de todos. A cólera, a in­veja, a discórdia, a avareza que rejeita os rogos do pobre, o ódio, o desejo da vingança, e o homicídio são crimes que este quinto mandamento condena. O escandaloso, que induz uma alma ao pecado, é mais culpado ainda que o assassino. — Devemos conservar a nossa vida, porque só Deus é Senhor dela. Faríamos mal, se desejássemos a morte por impaciên­cia, e seria um grande crime dá-la a nós mesmo, antes que Deus nos quisesse retirar deste mundo. Quem despreza a salvação da sua alma, e persevera muito tempo no pecado mor­tal, torna-se também culpado perante Deus.

6.º e 9.º Guardar castidade. — Não desejar a mulher do teu próximo.

Estes dois mandamentos proibem-nos todo o pensa­mento, todo o desejo, toda a palavra, todo o olhar e toda a ação que fira a modéstia e o respeito, que devemos à pre­sença de Deus.

Condenam também indiretamente a ociosidade, o excesso no beber e no comer, e todas as ocasiões perigosas que suscitam facilmente pensamentos ou ações pecaminosas.

7.º e 10.º Não furtar.— Não cobiçar as coisas alheias.

Nunca nos apossemos, senão daquilo que nos pertence; entreguemos os objetos que acharmos às pessoas que os per­deram; paguemos as nossas dívidas o mais breve possível. Não desejemos mesmo apropriar-nos, por meios injustos, do que não possuímos; este desejo é condenado pelo décimo mandamento.

8.º Não levantar falso testemunho.

Por este oitavo mandamento, proíbe-nos Deus as men­tiras, os juízos temerários, a maledicência, as calúnias, os falsos testemunhos, e em geral tudo o que se diz ou se faz, com a intenção de enganar, especialmente, quando por esse meio, se atenta contra a honra, ou contra a reputação do pró­ximo.

A Igreja, isto é o Papa e os Bispos, a quem Deus nos mandou obedecer, impôs-nos leis que devemos conhecer e respeitar.

1.º Ouvir missa inteira aos domingos e festas de guarda.

Obrigação grave, por conseguinte para todo o fiel que chegou à idade da razão, de ouvir missa e de se abster das obras servis, nos dias santificados, assim como nos domingos: entendendo-se que ouve missa inteira o que assiste à leitura do Evangelho, e se conserva daí em diante com todo o res­peito e humildade, pensando na morte e paixão do Divino Redentor.

2.º Confessar-se, ao menos, uma vez cada ano.

É um pecado mortal ficar mais de um ano, sem se con­fessar, desde que uma pessoa entra no uso da razão, sobre­tudo sentindo a consciência sobrecarregada com alguma falta grave.

3.º Comungar pela Páscoa da Ressurreição.

Obrigação grave de receber o bom Deus, na comunhão, ou, pelo menos, no tempo pascal, desde que qualquer pessoa já fez a sua primeira comunhão.

4.º Jejuar, quando manda a Santa Madre Igreja.

Todas as pessoas que têm vinte e um anos completos, devem, se não tiverem razões legítimas que as dispensem desta obrigação, não tomar senão uma única refeição, durante quarenta dias da quaresma, as quatro têmporas e as vigílias dos Apóstolos, e de algumas grandes festas.

5.º Não comer carne às sextas-feiras e sábados.

Não se pode, sem pecado, comer carne à sexta-feira e ao sábado, depois dos sete anos completos, a menos que se não tenha obtido uma legítima dispensa.

Para observar os mandamentos, carecemos do socorro de Deus. Sem a graça, somos como uma criança que cai a cada instante, se a mãe a não ampara, ou como um doente tão en­fraquecido que não pode fazer o menor movimento, sem ser auxiliado por mão estranha. O Senhor estabeleceu dois meios para obter a graça, a saber: a oração e os sacramentos.

Deus mandou-nos orar, e prometeu conceder-nos tudo o que Lhe pedíssemos. A primeira e a mais importante de todas as orações é o Padre-Nosso; a mãe deve ensiná-lo de cor a seu filho, e explicar-lhe o sentido.

Meu Deus, o Pai e o Criador de todos os homens, Vós que reinais nos Céus — que o Vosso nome seja conhecido, res­peitado e abençoado por todos os Vossos filhos. Reinai sobre todas as almas, pela Vossa graça! E reinemos nós conVosco um dia na glória! Os anjos do Céu, ó meu Deus, são fiéis em executar as Vossas ordens; observem, pois, todos os homens a vossa lei, com tanta fidelidade, como os anjos! Dai-nos hoje a graça, esse pão que sustenta as nossas almas. Dai-nos também a alimentação, de que carecemos para o nosso corpo. Perdoai-nos todos os pecados que cometemos, como nós perdoamos tudo aos que nos ofenderam. Não per­mitais que fiquemos expostos ao perigo de Vos ofender. Am­parai-nos, quando nos inclinarmos para o mal; livrai-nos das tentações do demônio, nosso inimigo, e de tudo quanto nos pudesse acontecer de mau, quer seja para o corpo ou para a alma.

Inútil seria recomendar a uma mãe cristã que ensinasse a seu filho a Saudação angélica, ou o Ave-Maria, etc.

Há sete sacramentos, que são; o batismo, a confirmação, a comunhão, a penitência, a extrema-unção, a ordem e o matrimônio.

Sacramento é um sinal sensível, instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, para produzir a graça e santificar-nos.

Toda a criança que nasce, vem incursa no desagrado de Deus, em conseqüência do pecado original que Adão, por sua desobediência, transmitiu a todos os homens. O Batismo, o mais necessário de todos os sacramentos, lava o pecado original, e faz-nos filhos de Deus e da Igreja. Para administrar o sacramento do Baptismo, derrama-se água natural sobre a cabeça da pessoa que se batiza, tendo a intenção de fazer o que faz a Igreja, e dizendo ao mesmo tempo : — «Eu te batizo em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo.»

Toda a pessoa pode batizar, em caso de necessidade.

Depois do batismo, o mais necessário dos sacramentos é a Penitência, ou a confissão. Vamo-nos confessar, para obter o perdão dos nossos pecados. Em vez, porém, de encontrar a graça e a amizade de Deus, cometeria um sacrilégio quem, ao confessar-se, ocultasse voluntariamente um pecado mortal, ou não tivesse um pesar sincero de todas as faltas graves, de que se acusa, e a firme resolução de nunca mais as co­meter.

O mais augusto de todos os sacramentos é a Eucaristia, que contém real e verdadeiramente o corpo, o sangue, a alma e a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, sob as apa­rências do pão e do vinho. A hóstia que o sacerdote coloca sobre a língua dos que vão comungar, é o Filho de Deus, feito homem. Para, pois, se receber a Deus condignamente, é preciso estar em jejum, e não ter pecado mortal na consciência. Seria um enorme sacrilégio, receber Jesus Cristo numa alma, manchada por uma culpa grave. Sobre o altar, durante a santa Missa, Jesus Cristo Se imola, para a glória de Seu Pai, como foi imolado outrora no monte Calvário.

A confirmação é um sacramento que nos dá o Espírito Santo, com a abundância das Suas graças, que nos torna per­feitos cristãos, e nos dá a força de confessar a fé de Jesus Cristo, mesmo à custa da nossa vida.

Para receber dignamente este sacramento, é preciso tam­bém estar em estado de graça.

Os nossos leitores compreenderão a utilidade desta exposição das principais verdade da fé.

Fomos pouco extenso acerca deste importante assunto; mas, para não sermos muito prolixo contentamo-nos em indicar o livro da Educação das meninas, que fornecerá pormenores muito práticos, sobre este ponto. As Horas de Piedade, editadas pela editora desta obra também melhor do que qualquer outro livro português poderá ser­vir para este fim. O nosso mais ardente desejo seria que este livro fosse lido no seio de todos as famílias. Terminamos, por estas palavras do ilus­tre arcebispo do Cambrai: — «É preciso sem que apertemos muito as crianças, fazer com que elas desde princípio, se afaçam a conhecer a Deus. Fazei-as compenetrar das verdades cristãs, sem lhes permitir assomos de dúvida». Temei ainda mais tornar-lhes penoso o estudo do catecismo, do que o do alfabeto ou da gramática; «deixai brincar uma criança, e misturai a instrução com o brinque­do, de forma que a sabedoria se lhe não apresente, senão por intervalos, e com rosto risonho.» Imagens ou quadros representando as principais verdades da religião, seriam um meio inteiramente fácil, interessante e eficaz para instruir.

Se houvesse mães que não pudessem dar a seus filhos o conhecimento das primeiras verdades, e dos primeiros deveres da nossa santa religião, deveriam tratar de os mandar instruir imediata­mente, por alguma pessoa virtuosa. Em todas as vilas e aldeias, e mais facilmente ainda nas cidades, podem-se encontrar almas caridosas, que se julgam felizes, ensinando as criancinhas a conhecer a Deus. E as nossas leitores fariam bem, podendo, se se aplicassem a esta obra, que as escolas sem Deus tornam hoje, mais do que nunca, necessária.

A Mãe segundo a vontade de Deus Pe. J. Berthier, M.S