Igreja de St. Patrick’s, Nova York, refletida na fachada de um edifício de escritórios.

A Revista Angelus fez, recentemente, a um grupo de empresários católicos tradicionais, uma série de perguntas relacionadas à Fé e seu trabalho diário. Os entrevistados foram mantidos anônimos.

Fonte: Angelus Press – Tradução: Dominus Est

Angelus Press: O senhor pode nos dizer como a Fé influencia suas práticas de negócios?

“Procuro ver todas as decisões importantes à luz da Fé, que me mantém fundamentado em questões morais, especialmente princípios de justiça. Pensamentos de eternidade ou mesmo apenas a presença silenciosa do Santíssimo Sacramento ajudam a colocar as coisas em perspectiva, tornando até mesmo grandes problemas administráveis”.

“A fé católica influencia nossas decisões de negócios na medida em que tentamos tratar os outros como Cristo nos disse: amar o próximo como a nós mesmos por amor a Deus.”

“Uma área em que a fé católica me influenciou diretamente está em minhas práticas de contratação. Desde os primeiros dias da minha carreira de negócios, eu me esforçaria para dar uma chance aos católicos tradicionais com pouca ou nenhuma experiência na linha de trabalho da minha empresa para ajudá-los a construir sua experiência e colocá-los no caminho para carreiras de sucesso. Além disso, de acordo com os princípios de justiça e o ensinamento social da Igreja, eu me certificaria de pagar aos homens casados ​​com famílias salários mais altos do que os homens solteiros, mesmo que estes últimos fossem mais experientes ou qualificados”.

Angelus Press: Existe algum aspecto particular da doutrina social da Igreja que o senhor tenha considerado relevante?

“Todo empresário ou gestor deve ler e reler a Rerum Novarum.”

“Perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nosso devedores.”

“Demonstramos nosso amor a Deus amando nosso próximo e ajudando-o a prosperar.”

Angelus Press: Como o senhor equilibra prosperidade e sucesso com desapego e humildade?

“Estatisticamente falando, a maioria das empresas fracassa – mesmo as boas – poucos anos após sua fundação. Há uma infinidade de coisas que podem e dão errado e que são quase impossíveis de prever. Supondo que você seja afortunado o suficiente para ter sucesso em alguma medida, isso tem pouco a ver com seus talentos pessoais ou seu valor. Há demasiadas partes móveis. Na medida em que sou bem sucedido, é somente pela graça de Deus e pelo trabalho árduo e lealdade de meus funcionários. Tomar muito crédito pessoal pelo sucesso seria um erro, penso eu.”

“Isso é feito tendo em mente que tudo o que temos é um dom de Deus e tudo o que é nosso são nossos pecados.”

“É uma luta constante para manter o equilíbrio. Mesmo que a pessoa tenha recursos financeiros, praticar a frugalidade ajudará a mantê-lo fundamentado em um espírito de pobreza. Também ajuda a lembrar que somos apenas zeladores da riqueza que temos e que Deus pode tirá-la de nós a qualquer momento.”

“Lembre-se sempre que o que Deus deu, Deus pode tirar! Procure ter uma imagem do Trabalho Justo em sua mente e tenha uma atitude de desapego. Não há problema em ser bem-sucedido, mas nunca perca de vista os menos afortunados. Você pode se encontrar na posição deles algum dia.”

Angelus Press: Existe alguma cruz específica para os católicos no mundo dos negócios hoje?

“Nenhuma que não possa ser superada com perseverança, coragem, trabalho duro e, acima de tudo, confiança em Deus.”

“Sim, mas tento também buscar as vantagens nela. Em uma época em que qualquer pessoa pode colocar um anúncio online prometendo todos os tipos de benefícios de quaisquer bens ou serviços que possam estar vendendo, a honestidade e a boa tratativa aos outros ajuda bastante a diferenciar seu negócio. Se você administra seu negócio de acordo com os princípios católicos e os consumidores ou clientes percebem isso, eles estarão mais propensos a permanecerem leais e, igualmente importante, espalharem palavras positivas sobre sua empresa aos outros.”

“A cruz mais significativa é compreender o grande dever que temos para com nossos funcionários e manter esse equilíbrio com o sucesso financeiro do negócio. A família também carrega a cruz de compartilhar seu tempo com os negócios para o bem comum.”

Angelus Press: Quais são algumas dificuldades particulares de hoje em pagar um salário digno aos funcionários ?

“De minha parte, a primeira dificuldade é saber o que é realmente um salário digno em todas as circunstâncias. Tomemos, por exemplo, duas famílias com rendimentos e despesas semelhantes: uma família pode viver em relativo conforto por ser frugal e a outra família pode viver em perpétuas dificuldades financeiras. Na minha opinião, o convívio financeiro é influenciado tanto pelos hábitos de consumo quanto pelos ganhos.”

“A dificuldade não é tanto pagar um salário digno em si, mas sim manter um negócio bem sucedido que possa pagar tais salários. Se uma empresa é mal administrada e não pode gerar lucros sustentáveis, não pode pagar as contas, muito menos pagar a seus funcionários um salário digno”.

“No contexto das grandes empresas e corporações, a folha de pagamento é a maior despesa e, portanto, a que procuram reduzir sempre que possível. Isso é frequentemente conseguido através da demissão de trabalhadores mais experientes e bem pagos em favor de funcionários de nível básico; redução de benefícios de saúde e aposentadoria; e da imposição de responsabilidades adicionais à equipe de trabalho existente para que não seja necessário contratar mais funcionários. Quando grandes empresas reduzem os salários dessa maneira, torna-se difícil para as empresas concorrentes não fazerem o mesmo sem arriscar a lucratividade e a sustentabilidade. Qualquer empresa concorrente que queira pagar um salário digno terá que encontrar outras maneiras de cortar custos, o que nem sempre é viável em nosso sistema econômico atual”.

Angelus Press: Que dificuldades o senhor teve nos negócios que lhe ensinaram lições e que gostaria de compartilhar?

“As lutas na vida em geral ou nos negócios são superadas pela perseverança, trabalho duro, disposição em assumir riscos, fortaleza e confiança na generosidade de Deus.”

“A realidade vence. Se algo não funciona, geralmente há uma razão. Uma grande luta nos negócios é ter a autoconsciência para observar erros e falhas futuras. Muitas vezes culpei alguém ou alguma outra coisa por algo que deu errado quando, na verdade, foi minha culpa por não ter os mecanismos certos para prevenir a falha e orientar nossas operações para o sucesso. Outra dificuldade é ter tempo necessário para garantir que os números funcionem. Muitas vezes queremos apenas tentar algo e há momentos em que essa é a única maneira de aprender. Entretanto, na maioria das vezes, se reservarmos um tempo para planejá-la, podemos dizer se uma ideia funcionará ou não.”

“Uma lição importante que emerge da luta para manter um negócio bem-sucedido é o valor da verdade e da honestidade, sem falar em fazer bem as pequenas coisas. Nos setores de vendas e serviços, por exemplo, os relacionamentos são fundamentais para construir confiança e atrair mais negócios. Tenho visto muitos desses relacionamentos nas últimas décadas e ser o diferencial entre ter um negócio saudável e bem-sucedido em vez de um fracassado.”

Angelus Press: Que conselho o senhor dá aos rapazes e moças prestes a entrar no mundo para ganhar seu pão de cada dia?

“Encontre um trabalho que você irá desfrutar por toda a vida. Pense fora da caixa ao se candidatar a um emprego. Por exemplo, existem muitos estudantes universitários tradicionais que buscam carreiras na área de ensino e, no entanto, há apenas um número limitado de vagas de ensino disponíveis nas escolas tradicionais. Tenha em mente que as grandes corporações têm departamentos de treinamento interno, departamentos de educação externa, uma necessidade de redatores técnicos e assim por diante. Não tenha medo de expandir seus horizontes ao buscar um emprego. Comece a pensar em seu trabalho anos antes de começar a saber que precisará de referências, currículo e experiência para ajudar a aumentar suas chances de encontrar uma boa posição. Esteja disposto a começar de baixo e subir na organização, e não espere se formar na faculdade e administrar a empresa (a menos que seja sua própria).”

“Meu conselho aos jovens é que não negligenciem uma boa educação em prol de um emprego. Em outras palavras, concentre-se em sua formação com base em artes liberais e você terá muitas portas abertas para você. Não se contente com o simples fato de sobreviver na vida. Se tiver isso, você acabará se sentindo roubado de anos preciosos e tempo melhor gasto com sua família. Meu conselho às jovens é que desenvolvam sua mente também com as artes liberais, pois elas a ajudarão a ser um verdadeiro apoio para seu marido e uma verdadeira parceira em todos os seus empreendimentos. Não se case com um homem que deseja ser medíocre. Você não vai salvá-lo, e ele pode destruir seu futuro e o futuro de seus filhos”.

“ Na minha opinião, no mundo de hoje, enfermagem, ensino, profissões especializadas e engenharia seriam áreas a seguir. Além disso, a importância de estar preparado para trabalhar longas e árduas horas em algum empreendimento útil é inestimável.”

“Estabeleça objetivo para a vida: objetivos espirituais, familiares, financeiras, profissionais, sociais e pessoais são todos necessárias. Sem objetivos, é difícil permanecer no caminho em direção a uma vida boa e útil.

Angelus Press: Como católico, como o senhor vê o valor do dinheiro?

“Vejo o dinheiro como munição na guerra cultural em que estamos engajados. É um tipo volátil de munição, que, se manuseada incorretamente, explodirá e destruirá seu próprio povo. Se manuseado com desapego, pode ser utilizado para combater nossos inimigos, principalmente através daquelas coisas que são boas, verdadeiras e belas. Quando tratamos o dinheiro como um fim, ele já começa a sair pela culatra. Realmente é apenas munição – precisamos de mais e precisamos controlá-la. Se você tem, reze muito por proteção.”

“O dinheiro é uma ferramenta como qualquer outra que nos permite atingir objetivos valiosos Por si só, tem pouco apelo.”

“O dinheiro é necessário de uma forma ou de outra, mas não é o objetivo, mas simplesmente um meio necessário para alcançar nossos objetivos. O quanto uma pessoa precisa depende, em grande parte, de suas circunstâncias e do que ela busca alcançar. Um empresário que procura construir uma empresa de sucesso nas áreas de engenharia ou medicina obviamente precisará de mais do que um pároco ou livreiro. Devemos estar sempre atentos ao quanto realmente precisamos em relação aos nossos objetivos e talentos e pedir sempre a Deus o dom do discernimento em tais assuntos.”

Angelus Press: Após anos de prática empresarial, o senhor faria as coisas de forma diferente se começasse de novo?

“No quadro geral, só Deus sabe realmente se seguimos nosso chamado como Ele deseja. Há erros que cometi que certamente mudaria se pudesse, mas tudo o que posso fazer é buscar o perdão daqueles a quem falhei e pedir a Nosso Senhor força para seguir adiante de acordo com a Sua vontade.”

“Sou grato que, em geral, eu não faria muito diferente. Rezo para que meu sucesso nos negócios, que vem de Deus, tenha me permitido servir melhor tanto a Igreja quanto meus próximos”.

“Espero ter sido capaz de servir bem ao meu próximo e à Igreja.”