O Senado espanhol aprovou uma emenda ao Código Penal que prevê penas de prisão aos pró-vida que se encontrarem próximos às clínicas de aborto. Essa medida já havia sido aprovada no Congresso dos Deputados e foi finalmente aprovada, sem alterações, no Senado, em 6 de abril. Ela entrará oficialmente em vigor assim que publicada no Boletim Oficial do Estado (BOE).
Fonte: DICI – Tradução: Dominus Est
Esta alteração, promovida pelo Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), reforma o artigo 172º-C do Código Penal, que estipula que serão impostas penas de prisão a qualquer pessoa que “a fim de impedir o exercício do direito à interrupção voluntária da gravidez, assedie uma mulher por atos incômodos, ofensivos, intimidatórios ou coercitivos que atentem contra sua liberdade”.
Penalidades semelhantes serão impostas àqueles que interagem com “médicos ou responsáveis por centros autorizados a realizar a interrupção da gravidez com o objetivo de dificultar o exercício da sua profissão ou da sua função”.
As penas incorridas são prisão – de 3 meses a 1 ano – ou prestação de serviços comunitários – de 31 a 80 dias. O tribunal pode proibir pessoas condenadas “de visitar certos lugares [ao redor de clínicas de aborto] por um período de 6 meses a 3 anos“. Especifica-se que “não é necessária a queixa da pessoa lesada ou do seu representante legal”.
Protestos
O Partido Popular (PP) – liberal conservador, a União Popular Navarrense (UPN) – partido regional ancorado à direita e o partido VOX (de Vox Rocio De Meer Méndez, resultante de uma cisão no PP) opuseram-se à medida. Apresentaram duas propostas de veto que foram rejeitadas.
Os representantes do VOX garantiram repetidamente que, quando a medida for publicada no BOE, eles a levarão ao Tribunal Constitucional por violação dos direitos fundamentais de expressão e reunião. Uma decisão que o PP pretende apoiar.
Jacobo González-Robatto, senador do Vox, disse que a proposta é “um exemplo claro de manipulação absoluta da linguagem” pois “abortar é matar, é pôr fim a vida de um ser humano“.
González-Robatto assegurou também que as ações daqueles que se encontram próximos às clínicas de aborto, chamados de “salva-vidas“, “consistem única e explicitamente em dar às mães e aos filhos uma última chance“.
Por sua vez, Fernando de la Rosa, senador do PP, declarou que esta medida é “uma aberração jurídica” e que o PSOE “não pondera os direitos, mas usa o Código Penal como instrumento para difundir sua ideologia e como mecanismo para apontar o dedo para pessoas que não pensam como eles“.
Alberto Catalán, senador da UPN, disse que a lei visa “criminalizar a defesa da vida” e que na sociedade atual é mais fácil “prever a morte do que a vida”.
Bárbara Royo, advogada criminal, disse ao jornal El Debate que “é difícil imaginar como podem ser condenados aqueles que se manifestam com uma faixa em frente a um centro de aborto, porque sua presença não é contra uma mulher em particular, mas contra um prática que, devido às suas crenças ou sua religião, não é admissível”.
“Sem falar que o fato de um simples boletim de ocorrência, sem prévia denúncia da eventual vítima, servir de fundamento para punição, elimina o princípio básico segundo o qual, para que haja crime, deve haver uma vítima designada, neste caso uma mulher, que é o alvo identificável da coação”, disse o advogado.
Para registro, recordemos que a lei francesa tem uma lei semelhante desde 1993, mas as penalidades são muito mais pesadas. Uma pessoa condenada pelo crime de obstrução ao aborto pode ser punida com 2 anos de prisão e multa de 30.000 euros.