Há quase dois mil anos, Deus Incarnado enviou a Sua Igreja para a missão salvífica que lhe cabe, com as seguintes palavras: “-Ide por todo o mundo, e pregai a todas as gentes o Evangelho. Aquele que acreditar e for Baptizado, salvar-se-á; mas aquele que não acreditar condenar-se-á.” O mandato divino à Igreja Católica não poderia ser mais simples: converter o Mundo ao Cristianismo, para a salvação das almas.
Dois mil anos passados, porém, no meio da pior crise de Fé e disciplina que a Igreja jamais experimentou, apresentam-nos esta descrição da missão da Igreja:
Em todo o Seu ser e ações [!], a Igreja é chamada a promover o desenvolvimento integral da pessoa humana à luz do Evangelho. Tal desenvolvimento acontece por se atender aos bens inestimáveis que são a justiça, a paz, e o cuidar da obra da Criação. O sucessor do Apóstolo São Pedro, no seu afã de afirmar estes valores, está continuamente a adaptar as instituições que com ele colaboram, para poderem dar melhor resposta às necessidades dos homens e mulheres que elas são chamadas a servir.
É com estas palavras que abre a Humanum Progressionem, carta apostólica do Papa Francisco que anuncia a continuação do que parece ser um dos temas do seu Pontificado: a Novidade da semana. Desta vez, é a criação de um novo “Dicastério Para Promover o Desenvolvimento Humano Integral” — que irá absorver, abolindo-os, o Conselho Pontifício para a Justiça e a Paz, o Conselho Pontifício Cor Unum, o Conselho Pontifício para a Pastoral de Pessoas Migrantes e Itinerantes, e o Conselho Pontifício para os Trabalhadores dos Cuidados de Saúde.
Portanto, segundo diz Francisco, a Igreja não é chamada a pregar o Evangelho a todas as gentes e a Baptizá-las para a sua eterna salvação, mas sim “a promover o desenvolvimento integral da pessoa humana”, por “atender ao Bens inestimáveis que são a justiça, a paz, e o cuidar da obra da Criação.” Aqui, a “luz do Evangelho” não passa de uma ajuda à promoção da justiça, da paz, e do cuidar da obra da Criação.
E a salvação das almas? A Humanum Progressionem derrogou os Artigos 142.º a 153. da Pastor Bonus, a Constituição Apostólica de João Paulo II que criara estes quatro departamentos vaticanos que Francisco acaba de abolir. Repare-se no seguinte, que é extremamente revelador: A Pastor Bonus começa com estas palavras: “O Bom Pastor, o Senhor Jesus Cristo (cf. João 10:11, 14), conferiu aos Bispos, sucessores dos Apóstolos, e de um modo singular ao Bispo de Roma, sucessor de São Pedro, a missão de fazer discípulos em todas as nações e de pregar o Evangelho a todas as gentes.”
Portanto, por um lado, temos a Pastor Bonus que continua a mencionar a salvação nada menos do que onze vezes, incluindo as expressões “meios de salvação”, “ministério de salvação”, “salvação das almas”, “a obra da salvação no Mundo” e a “missão de trabalhar para a eterna salvação dos povos…”
E, por outro lado, a Humanum Progressionem que não diz uma única palavra sobre a salvação, os meios de salvação, ou a missão salvífica da Igreja, na sua declaração sobre aquilo que a Igreja é chamada a fazer neste mundo. Francisco, o Vigário de Cristo, nem sequer menciona Jesus Cristo!
Mesmo no princípio do seu Pontificado, Francisco declarava: “A Igreja não é uma ONG” — ou seja, uma Organização Não-Governamental que se dedica a obras de caridade seculares. Mas o que é que se há-de pensar de uma Igreja cuja missão vai sendo reformulada diante dos nossos olhos até dar nisto? “-Ide por todo o Mundo e promovei o desenvolvimento humano integral, atendendo aos bens inestimáveis da justiça, da paz, e do cuidar das obras da Criação.”
A “luz do Evangelho” a que Francisco se refere não é certamente a luz da salvação, sem a qual as almas se perdem por toda a eternidade. É algo completamente diferente; algo que emprega a linguagem tradicional para exprimir significados novos e revolucionários. E é a revolução contínua e imensamente destrutiva dentro da Igreja que este Pontificado elevou a um nível absolutamente novo, apressando sem dúvida o dia em que Deus intervirá — de uma forma particularmente dramática — pondo fim à crise sem paralelo que agora testemunhamos.