IMPORTÂNCIA DA SALVAÇÃO – PONTO III

Resultado de imagem para rezando igrejaNegócio importante, negócio único, negócio irreparável. Não há falta que se possa comparar, diz Santo Eusébio, ao desprezo da salvação eterna. Todos os demais erros podem ter remédio. Perdidos os bens, é possível readquirir outros por meio de novos trabalhos. Perdido um emprego, pode ser recuperado. Ainda no caso de perder a vida, se salvar a alma, tudo está preparado. Mas para quem se condena, não há possibilidade de remédio. Morre-se uma vez, e perdida uma vez a alma, está perdida para sempre. Só resta o pranto eterno com os outros míseros insensatos do inferno, cuja pena e maior tormento consiste em pensar que para eles já não há mais tempo de remediar sua desdita (Jr 8,20). Perguntai a esses sábios do mundo, mergulhados agora no fogo infernal, perguntai-lhes o que sentem e pensam; se estão contentes por terem feito fortuna na terra, mesmo que se condenaram à eterna prisão.

Escutai como gemem dizendo: Erramos, pois… (Sb 5,6). Mas de que lhes serve agora reconhecer o seu erro, quando já a condenação é irremediável para sempre? Qual não seria o pesar daquele que, tendo podido prevenir e evitar com pouco esforço a ruína de sua casa, a encontrasse um dia desabada, e só então considerasse seu próprio descuido, quando não houvesse já remédio possível? Esta é a maior aflição dos réprobos: pensar que perderam sua alma e se condenaram por sua culpa (Os 13,9). Disse Santa Teresa que, se alguém perde, por sua culpa, um vestido, um anel ou outro objeto, perde a tranquilidade e, às vezes, não come nem dorme. Qual será, pois, ó meu Deus, a angústia do condenado quando, ao entrar no inferno, se vir sepultado naquele cárcere de tormentos, e, atendendo à sua desgraça, considerar que durante toda a eternidade não há de chegar remédio algum! Sem dúvida exclamará:

“Perdi a alma e o paraíso, perdi a Deus; tudo perdi para sempre, e por quê? por minha culpa! E se alguém objetar: Mesmo que cometa este pecado, porque hei de me condenar?… Acaso, não poderei salvar-me? Responder-lhe-ei: Também pode ser que te condenes”.

Ainda direi que até há mais probabilidade em favor de tua condenação, porque a Santa Escritura ameaça com este tremendo castigo aos pecadores obstinados, como tu o és neste instante.

“Ai dos filhos que desertam!” (Is 30,1) — diz o Senhor. — “Ai daqueles que se afastam de mim” (Os 7,13).

E não pões ao menos, com esse pecado cometido, a tua salvação eterna em grande perigo e grande incerteza? E qual é este negócio que assim se pode arriscar? Não se trata de uma casa, de uma cidade, de um emprego; trata-se, — diz São João Crisóstomo, — de padecer uma eternidade de tormentos e de perder um paraíso de delícias. E este negócio, que tanto te deve importar, queres arriscá-lo por um talvez?

“Quem sabe — dizes, — quem sabe se me condenarei? Espero que Deus mais tarde me há de perdoar”.

E entretanto?… Entretanto, por ti mesmo te condenas ao inferno.

Por acaso te atirarias a um poço, dizendo: talvez escape da morte? — Não, de certo. Como podes expor tua eterna salvação numa tão frágil esperança, num quem sabe? Oh! quantos, por causa dessa maldita falsa esperança, se perderam!… Não sabes que a esperança dos obstinados no pecado não é esperança, mas presunção e ilusão que não promovem a misericórdia divina, mas provocam sua indignação? Se dizes que presentemente não estás em estado de resistir às tentações, à paixão dominante, como resistirás mais tarde, quando, em vez de aumentar, te faltará a força pelo hábito de pecar? Por uma parte, a alma estará mais cega e mais endurecida na malícia, e por outra faltar-lhe-á o auxílio divino… Acaso, esperas que Deus aumente para ti suas luzes e suas graças depois que tu hajas aumentado ilimitadamente tuas faltas e pecados?

AFETOS E SÚPLICAS

Ah, meu Jesus! Atendendo à morte que por mim padecestes, aumentai minha esperança. Temo que, no fim de minha vida, o demônio me faça cair em desespero, em vista das inúmeras infidelidades que para convosco hei cometido. Quantas vezes prometi não tornar a ofender- vos, movido pelas luzes que me haveis dado, e voltei a afastar-me de vós na esperança do perdão. Foi por não me haverdes castigado, que tanto vos ofendi! Porque usastes de misericórdia para comigo, que tantos ultrajes vos fiz!? Dai-me, meu Redentor, antes que deixe esta vida, profundo e verdadeiro arrependimento de meus pecados. Pesame, ó Suma Bondade, de vos ter ofendido, e prometo firmemente antes morrer mil vezes que separar-me de vós… Permiti, entretanto, que ouça as palavras que dissestes a Santa Madalena: “Teus pecados estão perdoados” (Lc 7,48), e inspirai-me grande dor de minhas culpas antes que chegue o transe da morte. Doutro modo, receio que essa hora vá trazer-me inquietação e desgraça. Naquele momento extremo, vossa presença não me cause receio, meu Jesus crucificado! Se morresse agora, antes de chorar minhas culpas, antes de vos amar, então vossas chagas e vosso sangue me causariam mais susto que esperança. Não vos peço, pois, consolo e bens terrestres para o resto da vida. Peço-vos somente amor e dor. Ouvi-me, amantíssimo Salvador, por aquele amor que vos fez sacrificar por mim a vida no Calvário…

Maria, minha Mãe, alcançai-me estas graças unidas à da perseverança até à morte.

 

Preparação para a morte – Santo Afonso