Há muitas jovens que não se casam. Algumas não sentem desejo, nem inclinação para o casamento, mas não pensam tampouco em ser freiras, e destarte permanecem solteiras por sua livre escolha. Outras há que optariam pela vida conjugal, mas o destino e as circunstâncias não lhes permitem dar tal passo. Devem estas fazer de necessidade virtude e, com sujeição cristã, reconhecer a mão de Deus, no governo de sua vida, entregando-se humilde e pacientemente à sua santa vontade.
Desejaria fazer agora algumas observações para louvor e consolação dessas almas.
1º – As jovens que permanecem solteiras são grandes perante Deus.
Serão grandes perante Ele, se guardaram fiel e integralmente a pureza virginal; pois, mediante esta virtude, se tornam particularmente agradáveis a Deus. A elas se aplica o alto encômio da Sagrada Escritura: “Oh! Quão formosa é a geração casta com seu brilho! Sua memória é imortal, e é louvada diante de Deus e diante dos homens”. (Sal., 4,1) Santo Efrém exclama entusiasmado: “Oh! Virgindade! Tu és o que o Autor de todas as coisas ama com predileção e em ti ocultou riquezas imperecedouras!”
Estas moças serão grandes perante Deus, se rezarem bem e com fervor. Enquanto os demais membros da família desprezam a oração ou a fazem com negligência, elas se entregam muitas vezes a este piedoso exercício conscienciosamente. Oram durante o dia, quando os outros se preocupam em coisas materiais, oram durante a noite e se prostram diante de Deus em seu quarto silencioso, enquanto os demais se entregam somente ao descanso e às diversões; oram na igreja diante do Santíssimo Sacramento, que em regra ninguém como elas tão assiduamente visita; oram durante o trabalho que executam com boa intenção, para honrar e servir a Deus.
As moças que permanecem solteiras são, freqüentemente grandes diante de Deus, em virtude do sacrifício que lhe oferecem. Sacrificam por vezes a sua juventude, com as alegrias e prazeres permitidos a essa idade; sacrificam um casamento que lhes promete esperanças e, com isto, segura garantia para o porvir.
Tais sacrifícios e outros semelhantes fazem-nos elas generosamente, às vezes, por amor de Deus, a quem consagram a sua virgindade, as suas aspirações e toda a sua vida; fazem-nos por amor a seus pais, dos quais desejam ser tutoras na velhice e nas enfermidades ou fazem-nos também por amor de seus irmãos menores, a cuja subsistência já não podem os pais prover sozinhos. Sujeitam-se, destarte, às privações e, durante longos anos, vão acrescentando sacrifícios a sacrifícios, a fim de providenciarem pelo futuro dos seus irmãos. São almas generosas, heroicamente generosas, que merecem a nossa inteira estima a admiração. Como são elas grandes diante de Deus! Como são pequenos e mesquinhos os insensatos, que só tratam com desprezo tão nobres e generosas donzelas!
2º – As moças que permanecem solteiras são também uma benção para os outros.
Em primeiro lugar, para os próprios parentes. Que de vezes não é uma destas moças a consolação e o arrimo dos velhos pais, que ela envolve de amor e carinho! Depois da morte dos pais, não raro se faz educadora dos irmãos e irmãs menores, cuja mãe ela substitui, e para os quais ela será o amparo e sustentáculo nos seus anos perigosos da juventude!
Mais de um exemplo deste gênero tenho eu conhecido. Além disso, amiúde se transforma, como boa e querida tia, em benfeitora para os filhos de um irmão ou irmã casados. É ela com freqüência a causa que impede que desapareça da casa dos parentes o bom espírito cristão. Se ela tivesse casado houvera contribuído para o bem de uma só família, ao passo que ficando solteira contribui para a salvação de três ou quatro famílias, sem que por sua humildade, sequer, o perceba.
A benção da vida e ações de tais donzelas sói, contudo, estender-se a um círculo mais amplo. Quão útil não é, por vezes a uma comunidade inteira o seu exemplo de virtudes! Como esparzem, de quando em quando, os seus benefícios, em toda parte. Que ricos presentes não oferecem para as missões, para o socorro das pobres crianças abandonadas e para outros fins nobres! Que de sacrifícios e esforços não se impõem elas em favor de uma boa causa! Nenhum passo lhes é penoso, nenhum retrocesso molesto.
Não são essas jovens a força motriz e o sustentáculo das associações pias, da Obra dos Tabernáculos e de outras sociedades beneficentes? O que uma única jovem, animada de espírito reto, é capaz de realizar, demonstra-o o exemplo de uma rica dama de Hamburgo. Esta dama com grande pesar observou a triste situação e o abandono moral em que viviam tantos marinheiros, nos portos marítimos, privados de bens materiais e de assistência espiritual.
Fundou então, uma sociedade, onde eles pudessem encontrar o necessário para á vida. Teve a grande alegria de observar que muitos voltaram ao cumprimento dos deveres religiosos e a uma vida de virtudes. Aqueles marujos reconheciam-na como mãe e no alto mar canções em sua homenagem.
3º – Conselhos e exortações para as moças que se conservam solteiras.
Em primeiro lugar, digo-vos: alegrai-vos! Pode acontecer que sejais obrigadas a renunciar a certas doçuras da vida, e que a solidão, que talvez com o correr dos anos se vai fazendo em torno de vós, vos pareça molesta. Pode acontecer eu os vossos parentes e conhecidos são se mostrem justamente gratos por todos os favores que lhes fizestes, e por todos os benefícios que lhes dispensastes. Parentes e conhecidos há, demasiado exigentes, em relação a uma jovem solteira, os quais desfrutam-lhe de tal maneira a bondade, que ela mesma ao depois se vê em dificuldades ou sofre até verdadeiras privações.
Cumpre-vos ser prudentes e em certas circunstâncias permanecer firmes e resolutas contra todas as tentativas que tenham por fim explorar vossa bondade. Sejam quais forem, as experiências por que passardes, guardai-vos do enfado e descontentamento, por quanto, se estes vos dominarem, vosso caráter e toda a vossa vida se envenenarão: vireis a ser insuportáveis e, com o tempo, intoleráveis nas vossas relações com os outros e vossa língua se tornará asperadamente ofensiva.
Cumpre-vos, pois, combater sem tréguas, qualquer sentimento desagradável ao coração; adorai a santa vontade de Deus, que só tem em vista o vosso verdadeiro bem; oferecei-lhe, alegremente, tudo quanto na vossa situação sois forçadas a suportar. Lembrai-vos também que mercê da vossa condição de solteiras, estais livres de muitas cruzes e sofrimentos; pois o estado conjugal é, em regra, para a maioria um estado de dores e contrariedades.
Aproximai-vos muito amiúde dos santos Sacramentos e recebei-os sempre com boa preparação. Assisti, quando as condições o permitirem, assiduamente, e mesmo todos os dias, à Santa Missa, e uni os vossos sacrifícios ao sacrifício infinitamente precioso de Jesus Cristo. Rezai com toda a piedade, praticai uma ou outra devoção predileta, por exemplo, a devoção à Santíssima Virgem, e, sobretudo a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, eu é tão particularmente salutar e rica de graças para nós.
Guardai-vos, porém, na vossa piedade contra toda manifestação ruidosa de sentimentalismo e desagradáveis singularidades; exercitai-a de preferência, com certa jovialidade de espírito, por um trabalho atento e alegre, por um afável julgar e falar a respeito dos outros. Finalmente, mostrai-vos úteis, segundo as vossas forças e sede benfazejas. Se fordes ricas e abastadas, isto vos será fácil e podereis espalhar em torno de vós muitas bênçãos. Se não fordes ricas, mas dedicadas ao trabalho e razoavelmente econômicas, ainda podereis fazer muito bem.
Existem almas nobres que passam fazendo o bem. Em todas as circunstâncias e em qualquer profissão, como: de costureiras, empregadas, funcionárias, que com o dinheiro que economizam, distribuem ricos donativos para nobres fins. Como Deus é infinitamente bom recompensará um dia generosamente a estas boas almas por tudo que fizeram! “Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia”.
Donzela Cristã – Pe. Matias De Bremscheid