INTRODUÇÃO
Em primeiro lugar, creio haver mister uma observação preliminar, não ignorando da possibilidade de existir consciências falseadas. Aliás, a observação não é minha mas de São Pio X na Encíclica “Pascendi”, com a qual condenou o Modernismo. Diz o imortal Pontífice: “Pasmem embora homens de tal casta (=os modernistas) que nós os ponhamos no número dos inimigos da Igreja; não poderá, porém, pasmar com razão quem quer que , postas de lado as intenções de que só Deus é juiz, (sublinhado meu) se aplique a examinar as doutrinas e o modo de falar e de agir de que lançam eles mão” (sublinhado meu). Ao falar dos neo-modernistas podemos e até devemos, aplicar o mesmo princípio acima enunciado. O próprio Divino Mestre declarou que pelos frutos se conhece a árvore.
Outra observação: Entre nós tradicionalistas, ou melhor dizendo, entre aqueles que, pela graça de Deus, permanecem fiéis à Santa Madre Igreja, e, portanto, devem combater o Modernismo, é extremamente necessário que não aja divisão e sobretudo REBELIÃO contra a autoridade legítima; pois isto, é fazer papel de sapa no próprio exército. Em uma palavra: é, mesmo pretendendo combater o modernismo, fazer o papel dos mesmos.
Uma última observação que é de Santo Agostinho: “In principiis unitas, in dubiis libertas, in omnibus charitas” – Nos princípios unidade, nas coisas livres liberdade, em tudo a caridade.
O modernismo, nos últimos tempos, recebeu o nome de “Progressismo”. É o modernismo colocado em prática através do fator “progresso”. Como vimos na postagem anterior, os modernistas ensinam que a Igreja mostra-se incapaz de defender eficazmente a moral evangélica, porque adere obstinadamente a doutrinas imutáveis, que não podem conciliar-se com o progresso moderno; e o progresso das ciências exige que se reformem os conceitos da doutrina cristã sobre Deus, a Criação, a Revelação, a Pessoa do Verbo Encarnado e a Redenção. Como eles sabem que esta mudança na doutrina, nos dogmas da Igreja, não é aceita pelos católicos, nem mesmo por aqueles que só conhecem o Primeiro Catecismo, usam, então, o disfarce, para assim conseguirem uma baldeação ideológica inadvertida. Em outras palavras, não atacam de frente, têm paciência diabólica para trabalhar as mentes aos poucos e de maneira disfarçada. Fazem uma lavagem cerebral mudando as idéias tradicionais, aos poucos, sem a pessoa perceber. Agem mais através dos ambientes que vão criando com imprecisões de linguagem e termos ambíguos. Há, no entanto, um critério para surpreendê-los, critério este que não falha. Qual é? É o seguinte: Todas as suas imprecisões , ambiguidades, novos formulários, etc., obedecem à mesma direção. Operam no sentido de afastar os fiéis da Tradição, das fórmulas tradicionais, dos limites precisos entre a verdade e o erro, dos costumes elaborados lenta e seguramente pelos séculos de Cristianismo, de tudo enfim que indique, sem o menor perigo de engano, o Cristianismo ortodoxo, a fidelidade à Revelação e ao Espírito de Jesus Cristo.
Mas, leiamos o que D. Antônio de Castro Mayer, de santa memória, escreveu sobre o Neo-Modernismo:
“Os modernistas foram sempre muito astutos, de maneira que, uma vez condenados, deixaram de se manifestar em plena luz do dia. Todavia, não desarmaram. Persistem em permanecer no seio da Igreja – pois fora de seu grêmio seria impossível levar adiante sua obra de sabotagem – (Sabotagem é o crime que consiste em invadir um estabelecimento para impedir ou atrapalhar o curso normal do trabalho ou danificar o estabelecimento) – e refugiam-se em sociedade secreta. É São Pio X quem o denuncia: “Os modernistas, mesmo depois que a Encíclica “Pascendi” arrancou-lhes a máscara com que se cobriam, não abandonaram seus desígnios de perturbar a paz da Igreja. Eles, com efeito, não cessaram de procurar e agrupar em uma sociedade secreta novos adeptos. (Motu Proprio “Sacrorum Antistitum”, 1º de setembro de 1910).
ESPÍRITO MODERNISTA
“Pois, de seus antros secretos, eles dirigem uma campanha tenaz contra o Catolicismo tradicional, e em favor de um espírito revolucionário no seio de família de Deus. Não se observa mais tanto a doutrina modernista explícita, a não ser aqui e acolá como notava Bento XV. A obra modernista prossegue através do espírito modernista, difuso um pouco por toda parte. Na sua primeira Encíclica “Ad Beatíssimi”, Bento XV caracteriza a maneira de agir dos que se acham tomados do espírito modernista: “rejeitam com náusea o que tem sabor de antigo, procuram avidamente e em toda parte o novo, na maneira de falar das coisas divinas, na celebração do culto sagrado, nas instituições católicas e mesmo nos exercícios da piedade privada”. A estas notas podemos ajuntar outras fornecidas por Pio XI, cuja primeira Encíclica, ao declarar que ao modernismo dogmático sucedeu o modernismo moral e jurídico e social, assim descreve os neomodernistas: “nos seus discursos, nos seus escritos, e no todo de sua vida agem exatamente como se os ensinamentos e as ordens promulgadas várias vezes pelos soberanos Pontífices, nomeadamente por Leão XIII, Pio X e Bento XV, tivessem perdido seu primeiro valor, ou mesmo não devessem mais ser tidos em consideração” (Enc. “Ubi Arcano“, 23 de dezembro de 1922).
FINALIDADE, TÁTICA E ESTRATÉGIA DOS MODERNISTAS
“Os modernistas queriam reformar a Igreja, de maneira a reduzi-la a uma das muitas manifestações religiosas que há no mundo, dando-lhe por base um mero e cego sentimento religioso; pois que o modernista não acredita na verdade do conteúdo dos dogmas revelados. Para ele tudo não passa de fenômenos ou manifestações de algo incognoscível. O Cristianismo, portanto, não é para o modernista mais que um dos muitos coloridos religiosos que sossegam a excitação sentimental do fiel. Para chegar à sua finalidade, precisavam os modernistas arruinar a estrutura monárquica da Igreja, em que foi Ela constituída pelo seu Divino Fundador; era mister desprestigiar o Magistério Eclesiástico, intérprete autêntico da verdade revelada; era necessário destruir a confiança nas tradições da Igreja, a adesão à Escolástica, o apego às devoções populares, tudo enfim que constitui o arcabouço do edifício multissecular da Igreja de Cristo, e que lhe dá solidez e vida concreta entre os homens.
“Por isso, os modernistas:
- “põem todo o empenho em diminuir e enfraquecer o Magistério Eclesiástico” (Enc. “Pascendi”).
- “ostentam certo desprezo das doutrinas católicas, dos Santos Padres, dos Concílios Ecumênicos, do Magistério Eclesiástico” ( ibid.);
- declaram que “o católico, não se importando com a autoridade, com os conselhos e com as ordens da Igreja, e até mesmo desprezando as suas repreensões, tem direito e dever de fazer o que julgar mais oportuno para o bem da pátria” ( ibid.);
- apregoam que “devem ser transformadas as Congregações Romanas, e antes de todas a do Santo Ofício e do Índice” ( ibid.) – que como sabeis, deve zelar pela pureza da Fé e tem como Prefeito o próprio Papa;
- desterram “a filosofia escolástica para a história da filosofia, entre os sistemas obsoletos” ( ibid.). (Este ódio à Escolástica é tão fundamental nos modernistas, que São Pio X declara que “não há sinal mais manifesto de que começa alguém a volver-se para o modernismo do que começar a aborrecer a Escolástica”);
- no estudo das Sagradas Escrituras, abandonam a interpretação dos Padres da Igreja e as normas do Magistério, para se aterem exclusiva e preponderantemente à crítica textual ou crítica interna, assim chamada (cf. “Pascendi”);
- clamam que se deve diminuir as devoções externas e proibir que aumentem”, e “procuram a todo transe desfazer as piedosas tradições populares” (ibid.);
- dizem que “as virtudes ativas devem antepor-se às passivas” e “desprezam os trabalhos da ascese” (ibid.);
- desejam mesmo “ver suprimido do sacerdócio o sagrado celibato” (ibid.).
AJUSTAMENTO ÀS CONDIÇÕES MODERNAS
“Acobertam a revolução que entendem promover através das medidas táticas acima enumeradas, com a capa de ajustamento da Igreja às condições hodiernas. “A Igreja, dizem, por dentro e por fora deve se pôr de acordo com a consciência moderna” (ibid.). Como estratégia, ocultam o desprezo das repreensões e condenações sob o véu da mais apurada humildade; elevam às nuvens qualquer autor, ainda que medíocre ou nulo, desde que concorde com suas idéias; ao passo que “aos católicos defensores denodados da Igreja, votam-nos ao ódio mais despudorado, não havendo injúrias que lhes não atirem em rosto; chamam-nos especialmente de ignorantes e obstinados. Se, porém, a erudição e o acerto de quem os refuta os atemoriza, procuram descartá-lo, recorrendo ao silêncio” (ibid.). Como conseqüência de semelhante audácia, criam um ambiente de desconfiança em torno dos bons, inutilizando-lhes o trabalho apostólico; enganam os menos avisados, e atemorizam os pusilânimes. Como observa São Pio X: “Da prepotente imposição dos extraviados, do incauto assentimento dos pusilânimes, produz-se certa corrupção da atmosfera que penetra em toda parte e difunde o contágio” (Enc. “Pascendi”, de 8 de setembro de 1907).
Fonte: Zelo Zelatus Sum