“Nunca vi o justo abandonado, nem a sua descendência a mendigar o pão” (Sl. 36,35).
Falta aos cônjuges modernos, mesmos católicos a confiança em Deus. Temos o direito de exprobrar-lhes a falta de generosidade e de esperança. O tremendo egoísmo burguês dessorou os corações.
… O filho é hoje economicamente encarado, “um herdeiro”. Vê-se no filho a nascer mais um leito, mais um prato, mais uma mensalidade de colégio. Pior ainda, talvez: “mais um trabalho”. A própria mãe é quem teme e se queixa.
As queixas mais lamentáveis para lábios maternos: está envelhecendo; não pode mais freqüentar a sociedade; não tem mais tempo para nada; as senhoras antigas podiam ter muitos filhos, mas hoje não! É a linguagem do egoísmo gélido e desalmado. E isto é tanto pior quanto são os aquinhoamentos da fortuna que mais se queixam.
Outros experimentam reais dificuldades. Cresce-lhes a família e não se lhes aumentam os meios. A continuar assim, temem chegar à penúria.
A uns e outros lembramos que a generosidade divina não se deixa vencer. Retrai-se diante dos que retraem. Mas não terá limites com os que põem no Pai toda a sua confiança.
“Quando Deus dá a boca, dá o prato“, diziam os nossos antigos, muito mais cristãos do que nós. E o Livro Sagrado afirma na palavra do Salmista: “Nunca vi o justo abandonado, nem a sua descendência a mendigar o pão” (Sl. 36,35).
As dificuldades econômicas ou pessoais com uma família numerosa são largamente compensadas.
Os que querem filhos bem educados só têm que desejá-los numerosos.
É a família numerosa o melhor ambiente para uma boa educação. Importa, porém, não confundir a boa educação, formadora de homens fortes, viris e santos, com as facilidades que servem apenas para fazer comodistas, gozadores e maricas.
Os bons cristãos não se satisfazem com não pecar pelo escandâlo infundado que venha a provocar seu procedimento correto.Querem dar bom exemplo: que seu procedimento brilhe como a luz do Evangelho, posta sobre o alqueire. Os seus muitos filhos serão estímulo à covardia de uns, à falta de confiança de outros.
Mais. Para os bons cristãos o matrimônio é um Sacramento: coisa sagrada, fonte eficaz das graças divinas, figura da mística e real união entre Cristo e a Igreja. Ao administrar-se este sacramento, a Igreja expressou aos cônjuges seus sentimentos a este respeito.
Está na benção nupcial que a esposa seja “fecunda em prole” e “como vide abundante“; que os filhos “estejam em redor da mesa, como rebentos de oliveira“; e nisto estão as bençãos de Deus: “assim será abençoado o homem que teme o Senhor“. A estes ensinamentos cristãos refere-se a Encíclica Casti Connubbi:
“Daí se vê facilmente quão grande dom da bondade divina e quão precioso fruto do matrimônio sejam os filhos, germinados da força onipotente de Deus e com a cooperação dos cônjuges“.
E, mais expressivamente ainda:
“Os cônjuges verãos nos filhos, recebidos com ânimo pronto e reconhecido das mãos divinas, um tesouro que lhes foi confiado por Deus, não para dele servir-se em sua próprua vantagem nem da pátria terrena, mas para restituí-lo depois, com juros, no dia da prestação final das contas“.
É, sem dúvida, a perfeição cristã. E a perfeição não se impõe. Mas se aconselha. E tem-se o direito de esperar dos bons cristãos, principalmente quando o mundo tanto precisa de bons exemplos e de ação regeneradora.
Noivos e esposos – Pe. Álvaro Negromonte