NADA É MAIS INSPIRADOR DO QUE ESSE PERÍODO CONTURBADO

undefined - © Maxence Malherbe

Essas desordens nos conectam, de alguma forma, aos católicos de antigamente, dos tempos de outras crises que abalaram a Igreja.

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Na vigília de Pentecostes, no início da Peregrinação de Chartres a Paris, a Missa foi celebrada pelo Pe. Gabriele D’Avino, Superior do Distrito da Itália. Reproduzimos aqui a última parte do seu sermão proferido no sábado, 7 de junho de 2025, em frente à Catedral de Notre-Dame de Chartres.

A luta pela tradição não deve ser uma luta desordenada, dispersa, puramente individual. É por isso que D. Lefebvre não se contentou em nos transmitir um ensinamento, em proferir belos sermões, ou mesmo em ordenar padres, bispos, sem um objetivo, sem uma ordem. Ele queria fundar — essa é a sua principal ação, a mais importante que realizou — queria fundar uma fraternidade sacerdotal que reproduzisse, tanto quanto possível, o espírito da Igreja. Foi assim que nos deu uma estrutura jurídica, com autoridade, com superiores.

A crise que assola a Igreja hoje certamente não acabou, muito pelo contrário. Ela já dura muito tempo, e há um risco muito concreto de desânimo, de cansaço, de querer depor as armas, descansar, de nos rendermos a uma pretensa evidência que consistiria em dizer que os homens da Igreja, as autoridades atuais, têm a maioria, que a Igreja mudou hoje e que agora precisamos nos adaptar.

Pois bem, não, queridos peregrinos, não é hora de baixar as armas! Direi, sem rodeios, que não há nada mais inspirador do que o período conturbado em que vivemos hoje, e que não está prestes a terminar. Esta luta que travamos tem como objetivo, pela Providência divina, despertar as nossas consciências, fortalecer e consolidar a nossa fé, encorajar-nos a opor uma vida virtuosa e mortificada à impureza e ao egoísmo que assolam o mundo que nos rodeia e no qual somos chamados a viver, tendo o dever de ser o “sal da terra“, a “luz do mundo“. Este período conturbado, que pode ser qualificado como inspirador, conecta-nos de certa forma aos católicos de antigamente, de tempos de outras crises que abalaram a Igreja.

Pensemos, em particular, na crise ariana de séculos atrás, durante a qual cidades como Alexandria ou Constantinopla estavam inteiramente nas mãos de hereges. Dentro dessas cidades, não havia mais igrejas que não estivessem em suas mãos, e os fiéis católicos eram obrigados a celebrar o culto em casas particulares, às vezes às escondidas, ou em tendas, como fazemos hoje.

Quais eram os meios espirituais de que dispunham esses cristãos na época? Eles tinham os dogmas transmitidos pela tradição que os confortavam e que professavam; tinham fé em Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, consubstancial ao Pai – esse foi o combate específico durante a crise ariana. Tinham a oração, tinham os sacramentos, tinham sobretudo o sacrifício da Missa, e por esses meios obtiveram a vitória de Deus.

O que temos hoje, caros peregrinos, 16 séculos depois? Bem! Temos, hoje, os mesmos meios espirituais! Temos a mesma fé. Professamos os mesmos dogmas, rezamos com as mesmas fórmulas. Celebramos o mesmo culto, o mesmo sacrifício da Missa. Celebramo-lo com as mesmas palavras. E um dia certamente teremos a mesma vitória. (…)

Pe. Gabriele d’Avino, FSSPX