Certo manhã, pouco antes do almoço, descia do trem em Lourdes um senhoraço, completamente indiferente, que mal se resolvera a acompanhar a esposa e a filha ao balneário. Não pensava em demorar-se ali mais que o tempo que medeia entre dois trens: era tudo o que conseguiram alcançar dele a esposa e a filha.
Apenas lá chegadas, correram as duas à gruta para rezar pelo chefe da família, que tanta pena lhes causava por sua irreligião.
Ele, porém, mais preocupado com o estômago do que com a alma, foi à procura do melhor hotel e, chamando o garçom, disse:
– Enquanto espero minha senhora e minha filha prepare para nós três um bom almoço.
– Deseja o Sr. comida como de sexta-feira?
– Como? De sexta-feira?
– É que hoje é dia de abstinência e quase toda gente o guarda, pelo menos aqui.
– Que me importa o dia? diz o livre-pensador. Ora essa! O almoço tem que ser substancioso, e demais sou caçador, quero carne, ouviu?
O garçom inclinou-se respeitoso e deu ordem ao cozinheiro de preparar bife, frango, etc.
Acendendo um bom charuto, o nosso homem dizia de si para si:
– Não hão de dizer que não vi a famosa gruta… irei ver aquilo.
Chegou lá muito antes que as duas senhoras tivessem terminado suas visitas à gruta, à basílica e à cripta, em toda a parte rezando e suplicando por seu querido rebelde…
Quando chegaram de novo à gruta, que surpresa! lá estava o homem ajoelhado, chorando e rezando com todo o fervor. Era ele? Quase não podiam crer. Sim, era ele mesmo. Não se atreviam a falar-lhe, mas ele logo que as viu exclamou:
– Sim, sou eu, rezo e choro. Somente sei que vim sem pensar em nada, mas, achando-me diante desta imagem, uma emoção indescritível se apoderou de mim. Caí de joelhos e, ao ver um padre, perguntei-lhe se podia me confessar. Atrás do pequeno altar da gruta fiz minha confissão. Oh! como sou feliz! Ficaremos aqui hoje e amanhã comungaremos.
Não foi o único a derramar lágrimas; os três choravam e davam graças a Nossa Senhora.
Ao chegar ao hotel, e vendo o salão repleto de gente, exclamou:
– Srs., eu sou o famoso caçador N. N. Quando cheguei aqui ainda era um ímpio; agora tendes aqui um homem que acaba de confessar-se e vai comungar amanhã.
– Garçon, ponha para nós almoço de sexta-feira…
Que surpresa para todos os assistentes!
Desde aquela sexta-feira o Sr. N. N. foi um cristão fervoroso!
Tesouro de Exemplos – Pe. Francisco Alves