O célebre presidente dos estados Unidos, Jorge Washington, quando contava seis anos, recebeu de presente uma machadinha com a qual ia desbastando tudo quanto encontrava; maltratou a tal ponto uma cerejeira inglesa, tirando-lhe a casca, que a árvore devia fatalmente morrer. Na manhã seguinte, quando o pai viu a sua querida árvore em tão lamentável estado, tomou-se de furor e perguntou quem havia praticado aquela ação bárbara. Aparece, entretanto o pequeno Jorge com sua machadinha, e o pai intuiu imediatamente, que este era o culpado. Á vista disso, indagou sério:
– “Jorge, não sabes quem assim maltratou está árvore?” O menino deteve-se por alguns momentos, mas em seguida respondeu com franqueza:
– “Não posso mentir, papai, sabe que não posso mentir, golpeei-a com esta machadinha”.
A resposta abrandou a cólera do pai que, profundamente comovido, assim lhe falou: -“Vem a meus braços, filhinho! O dano que fizeste à árvore reparaste-o, agora, mil vezes com a tua sincera confissão; pois, tal amor à verdade é mais precioso do que milhares de árvores, ainda quando carregadas de frutos saborosos”.
Sim, o amor à verdade é uma bela virtude que te recomendo com toda a energia, e, por isto desejaria prevenir-te contra o feio vício da mentira.
1º – Não mintas – a mentira é abominável a Deus.
Com efeito, Deus é Verdade, a mais pura e a mais límpida, e absolutamente, não pode mentir. Eis porque detesta, em nós, a mentira; esta lhe contraria a essência e se opõe ao escopo que Ele teve em mira ao dar-nos ao dom da palavra. Esta faculdade preciosa, certamente, não nos foi concebida, para camuflar a realidade com a aparência e o engano. A mentira é, portanto, uma subversão da ordem divina, uma revolta contra Deus. Satanás, o primeiro que se insurgiu contra Deus, foi por isso mesmo o primeiro mentiroso, “o pai da mentira”, como denominou o Divino Salvador. Visto, opor-se a mentira à essência divina e à sua santa ordem, Deus a aborrece, e assim se exprime séria e severamente na Sagrada Escritura: “Os lábios mentirosos são abominação para o Senhor”. (Prov., 12,22)
2º – Não mintas – a mentira é também, desdouro na perspectiva humana.
Detestemos a mentira, que é contrária à natureza humana. O homem é, inclinado à verdade, repugnam-lhe a mentira e a falsidade. A criança, ainda não corrompida, diz só o que pensa, seus olhos brilhantes são o espelho fiel de sua alma pura e franca. A primeira que profere, revolta-se a natureza íntima da criança e manifesta-se pelo rubor da face que denuncia a confusão. Detestemos a mentira, porque solapa o fundamento da sociedade humana, que são a veracidade e a confiança, mútuas.
Não desfaleceria toda a confiança mútua; não cessaria a certeza e segurança nas relações diárias a certeza e segurança nas relações diárias, não se tornaria impossível uma vida digna e meritória, se o espírito da mentira dominasse e em todas as circunstâncias se fizesse valer? Que efeitos fatais não sofreriam o corpo, se os seus membros mutuamente se induzissem ao erro? Se, por exemplo, os olhos enganassem aos pés, levando o corpo num pântano, tidos por um prado firme? Algo semelhante aconteceria se os membros da sociedade humana tomassem por regra a mentira e a dissimulação. Destruir-se-ia assim o organismo social. Detestemos, finalmente, a mentira, porque nela se encerra covardia. Admiremos a coragem e a firmeza; desprezemos, porém, a pusilanimidade e a perfídia. Na conscienciosa afirmação diária da verdade, existe muitas vezes, mais coragem e intrepidez, do que no desprezo da morte, que só raro se dá e por causalidade.
Diz, com a razão, o conhecido educador, Forster:
“Penso que a veracidade é sempre a melhor prova de valor, e, portanto, qualquer homem, embora jamais tenha visto um fuzil, encontra diariamente, ocasião de exercitar a coragem, por meio da afirmação sincera e corajosa da verdade, nas coisas mais insignificantes. É, de fato, muito mais fácil, impelido pelo entusiasmo, sacrificar uma vez à própria vida, do que permanecer constantemente invariável, quando surge a tentação de fugir a uma cena desagradável ou à desonra ou ao castigo. Cedo se vê se alguém é, realmente forte contra o medo e o pavor; ou se é um salteador, que se oculta quando prevê o momento do ataque”. Sim, grande coragem manifesta-se no constante amor à verdade, ao passo que, com a mentira, patenteia-se uma lamentável covardia – portanto, detestemo-la.
3º- Não mintas – a mentira corrompe o caráter.
Certo que uma única mentira não será agravo ao caráter, mas mentiras freqüentes, que procedem de uma natureza falsa, tornam de todo impossível, a formação de um bom caráter. Três são as propriedades que constituem o ornato de um caráter nobre, a saber: firmeza, doçura, desinteresse ou desapego de si mesmo. Como pode, porém, formar-se a firmeza de um caráter, se, em qualquer ocorrência e por motivo fútil se deixa o homem subornar, para se desviar da verdade, iludir a outrem, e levá-lo ao erro? Daí resultará, com o tempo, uma vacilação insegura.
Ademais, como pode o mentiroso manifestar a seus semelhantes amável doçura, quando, em geral o verdadeiro amor lhe é impossível, por não possuir nenhuma elevada estima dos demais? Com efeito, se estimo e venero alguém, procuro captar-lhe confiança, e não enganá-lo ou induzi-lo ao erro. Do desinteresse, porém, que é a mais nobre qualidade de um bom caráter, nem se pode falar, em se tratando de um mentiroso.
Na verdade, como pode um homem mostrar-se tão altruísta que se esqueça de si próprio e de bom grado, generosamente sacrifique-se pelos outros se para lograr pequena vantagem ou desviar um pequeno embaraço, deliberadamente, profere a mentira? Tal coisa é de todo inconcebível. Assim, quem tem o vício da mentira, pouco a pouco, corrompe o caráter e por vezes o arruína. Onde prevalece o espírito de mentira e a confusão, não se podem educar nem formar caracteres firmes e grandes.
4º- Não mintas – a mentira é aliada de muitos outros pecados.
A mentira, por si só, não constitui pecado grave, a não ser quando causa grandes prejuízos ao próximo. No entanto embora não seja, em si, gravemente pecaminosa, todavia muitas vezes contribui, para outros pecados, favorece e facilita o hábito de pecar. Para demonstrá-lo, basta apelas para a experiência de cada dia.
Não se serve o orgulhoso da mentira, quando falsamente se ufana de suas prerrogativas e de suas ações, enquanto, por outro lado oculta seus vícios e fraquezas? Os pecados contra a caridade e os pecados da vingança, não exageram e aumentam malignamente as faltas das pessoas odiadas, atribuindo-lhes muitas vezes faltas que não cometeram, ou defeitos que não possuem? A infâmia e a injustiça não crescem junto com a mentira, de tal modo, que se possa dizer à guiza de provérbio: Wer liegt, der stiehlt – “quem mente rouba?” Não é coisa mui sabida que o pecado de impureza, mais do que qualquer outro, torna o homem mentiroso? As jovens que se entregam a este pecado, já não encaram os pais, com olhar franco e límpido, têm alguma coisa que lhes encobrem e os enganam de caso pensado.
Em resumo: Não podem muitos pecados medrar ou ter longa duração, se os não favorecer a mentira. O pecado teme a verdade. A virtude da lealdade é como um sol interno, cujos raios brilhantes afugentam as trevas do vício e das paixões. Ama, portanto, a verdade e foge da mentira. Prefere suportar um pequeno dissabor, uma repreensão, uma correção, a te libertares de uma dificuldade a custa da mentira.
Sobretudo, nunca profiras, deliberadamente, mentira alguma, nem mesmo por brincadeira; porque se facilmente, por gracejo, mentires, depois o farás seriamente. Não sejas do número dos que gostam de caçoar dos outros e se divertem em contar patranhas. Isto não é nobre nem digno. Tem a todos em estima, embora sejam muito insignificantes as suas qualidades. Não te aproveites da fraqueza alheia para crivá-los de sarcasmos e zombarias. Tal proceder a quantos não acovardou por toda a vida!
Ás vezes pode haver casos em que não convém que se diga toda a verdade, principalmente aos que não têm direito de conhecê-la e levados por curiosidade andam a cata de notícias. Em tais circunstâncias, é lícito usar de subterfúgios que simplesmente contornam a verdade. A virtude da veracidade não pode separar-se da prudência cristã. O eu professor, na minha mocidade, fazia-nos escrever amiúde, esta sentença: Alles, was tu sagst, muss warh scin, aber nicht ales, was wahr ist, darfst Du sagen – “Tudo o que disseres, deve ser verdade, mas nem tudo o que for verdade, deves dizer”. Contém esta máxima uma grande sabedoria, que deves seguir sempre.
Acostuma-te também, a manter sempre, a palavra dada. Há jovens que prometem facilmente e, até, sob palavra, mas depois, não fazem nenhum caso do seu compromisso. Merece isto decidida repulsa. Ohne Falsch und Trug – “Sem falsidade, nem embuste”. Seja esta a tua divisa.
Donzela Cristã – Pe. Matias De Bremscheid