O HOMEM FERVOROSO E O HOMEM MORNO

O HOMEM FERVOROSO E O HOMEM MORNO | DOMINUS EST

As considerações abaixo foram escritas para religiosos, mas aplicam-se, com algumas adaptações, a qualquer cristão. Elas são, de fato, sintomas de mornidão, sintomas dos quais devemos estar cientes porque, muitas vezes, encontramo-nos afetados sem que sequer saibamos disso.

Fonte: FSSPX Ásia – Tradução: Dominus Est

O homem fervoroso observa sua regra até nas menores coisas. O menor medo de desagradar o divino Mestre é suficiente para compeli-lo a tudo. Ao contrário, um homem morno muitas vezes viola a sua regra, dispensa os exercícios prescritos tanto quanto pode, não gosta da oração, do estudo ou da leitura espiritual, ele é altamente sensível aos julgamentos humanos e desperdiça seu tempo em uma miríade de trivialidades.

Um homem fervoroso geralmente sente prazer em cumprir seu dever de Estado. Se, por vezes, encontra dificuldades, não desanima, seu fervor transforma as dificuldades em felicidade pela unção que espalha em sua alma. Isso leva-o até a acrescentar orações, austeridades e práticas devocionais às obras obrigatórias, todas as quais ele impõe a si mesmo com a permissão do seu confessor ou superior. Portanto, ele está sempre contente e exibe apenas atitudes gentis e graciosas, mesmo com aqueles que podem causar problemas.

Por outro lado, um homem morno considera as práticas do seu estado um fardo insuportável. Ele suporta toda a amargura sem sentir a doçura ou merecer o mérito. Consequentemente, ele é sempre um fardo para si mesmo e não consegue deixar de torná-lo conhecido externamente.

O homem fervoroso mantém uma grande pureza de consciência e evita deliberadamente cometer quaisquer faltas voluntárias, mesmo as veniais. Ele evita as menores ocasiões que possam levá-lo ao mal e desviá-lo da perfeição. Por outro lado, um homem morno não consegue evitar as ocasiões, ele se recusa a fazer qualquer esforço para isso. Ele comete continuamente faltas voluntárias e, às vezes, são tão consideráveis ​​que nos perguntamos se ele não está em estado de pecado mortal.

Um homem fervoroso, por mais que tenha progredido, trabalha sempre para avançar na santidade, como prescrito pelo grande Santo Agostinho: “Acrescente sempre, caminhe sempre, prossiga sempre; não fique parado, nem volte atrás, nem se desvie; aquele que fica parado não prossegue; aquele que volta não continua; aquele que se desvia se revolta; melhor é aquele que se arrasta no seu caminho do que aquele que se desvia dele.” (Sermão sobre as palavras dos apóstolos). Ao contrário, um homem morno não se preocupa em melhorar. Ele não aproveita as oportunidades para progredir e finge não percebê-las. Sua condição é próxima a da morte, e ele nada teme, de tão cego que está: “Vicina mort labes, torpor animarum: O torpor da alma é uma ruína semelhante à morte”.

Um homem fervoroso torna-se o suporte da regularidade. Pelo seu exemplo, ele mantém tradições santas e exatidão em todos os exercícios. Sua presença mantém os outros em seus deveres. Ao contrário, um homem morno é o destruidor da regularidade. Os pontos da regra, uma vez em vigor, são apenas imperfeitamente observados, os costumes sagrados desaparecem gradualmente, os abusos infiltram-se e a disciplina e a boa ordem diminuem. Ele arrasta consigo aqueles propensos à negligência e, a longo prazo, é capaz de estragar uma família inteira, especialmente se for louvável pela sua idade ou se for um homem de influência, talento ou mérito humano. O infeliz escandaliza não apenas as crianças e os crentes comuns, mas também as almas privilegiadas – almas que deveriam ser a salvação do mundo. Não é uma responsabilidade assustadora?

Oração

Peço-Vos, ó meu Deus, a graça de nunca estar entre as almas mornas, mas entre as fervorosas. Se ainda não possuo o fervor que deveria possuir ou mesmo aquele que tive nos primeiros anos da minha conversão, tendo relaxado devido à minha fraqueza e inconstância, aplicar-me-ei ainda mais a rezar para fortalecer um, para estabelecer o outro e implorar a todos os vossos Santos que intercedam junto a vós para que eu não caia na letargia espiritual.

Pe. Hyacinthe-Marie Cormier, OP