“A qualquer credo pertenças, — nem sei se tens religião ou não — não importa, isso é secundário: o principal é ser honrado. Isso basta!”
Ouvirás por certo estes conceitos: “Isso basta!” dizem eles. O escritor francês Ségur, deu a respeito uma resposta lacônica: “Naturalmente, isso basta para não subir ao cadafalso; mas não basta para entrar no reino dos céus”.
Não quero, todavia, liquidar tão simplesmente uma questão assim importante. Não o quero, para que, apresentando-se-te a dificuldade, possas oferecer uma resposta oportuna a palavras tão ocas.
Em primeiro lugar pergunto: Se fosse coisa indiferente a religião à qual pertencemos, por que se teria esforçado Nosso Senhor por inculcar em nós o verdadeiro sentido da divindade e a maneira melhor de servir a Deus?
E pergunto mais: “O essencial é a honra? Admitido. Mas, poderá ser honrado quem não tem religião?”
Se responderes sem refletir, dirás: “Naturalmente que se pode! Senão, veja fulano e sicrano! Sei com certeza que nunca põem o pé na igreja, que se confessaram a última vez quando se casaram; no entanto, são cavalheiros sem jaça, da cabeça aos pés”.
Depois de madura reflexão, a resposta seria de certo bem diferente. Que haja “homens honrados”, “cavalheiros”, que, infelizmente, não se importam de religião, quem o poderia contestar? Contudo, se examinasses de perto o que eles entendem por “honra” e “cavalheirismo”, haverias de pasmar. Sua honradez se resume em geral na observância escrupulosa das prescrições da cortesia e educação exteriores e na omissão de tudo o que os poderia pôr em conflito com as leis civis.
E o interior? A alma? Seus pensamentos? Seus atos secretos? Disso ninguém sabe coisa alguma. Mas o olhar onisciente de Deus, que penetra até o último, bastas vezes só encontra podridão e imundície atrás de um exterior elegante e debaixo de roupas perfumadas. Eis a opinião de um escritor de renome, acerca dessa espécie de homens corretos: “Segundo a moderna honradez, honesto é aquele que paga suas dívidas mais urgentes, não se deixa apanhar em flagrante mentira, não provoca escândalo, em seus negócios consulta o código penal, contribui para coletas, anda bem vestido, dispõe de regular educação cientifica e pode apresentar os mesmos atributos em seu pai legítimo. (Walter Rathenau)”. Eis tudo.
A sociedade humana precisa de gente honrada. Mas verdadeira honestidade só se encontra em homens religiosos. Aquele a quem falta a religião, carece de força interior que o sustente, em todas as situações difíceis, na senda do dever. Para que não te deixes subornar por vantagens indébitas, embora te oprima a miséria material; para que, como juiz, sejas imparcialmente justo; como mestre julgues com justiça, etc., só uma vida realmente religiosa te poderá habilitar. Por isso escreve Platão acertadamente: “Quem ataca a religião ataca os fundamentos da sociedade humana.”
Se apesar disso vires homens de caráter, realmente honrados, descrentes segundo tua opinião, podes estar certo de que também sua honorabilidade se funda na religião, muito embora não queiram saber dela. Talvez tenham recebido na infância uma educação religiosa, à qual infelizmente se tornaram infiéis; mas isso bastou para que os princípios religiosos os tenham apurado de tal modo que consideram a honradez como virtude natural. Um campo não irrigado se apresenta, muitas vezes, verdejante de viço porque no subsolo corre um fio de água vivificante, sem que ninguém o saiba.
A sociedade moderna não vive totalmente sem Deus, embora pareça o contrário. O cristianismo de vinte séculos embebeu de tal modo nossa vida com pensamentos cristãos, que todos são nutridos por suas forças ocultas, mesmo aqueles que julgam possível uma honradez sem religião. Quando o sol desaparece no ocaso, o céu não escurece imediatamente; há uns raios dispersos que brilham ainda algum tempo.
Se no entanto encontrares algum incrédulo honrado, examina de perto o que o afastou do cristianismo. Será o que é nobre e grande? Não; mas alguma coisa estreita, apoucada ou superficial foi o que o arredou do caminho.
“Procurai um povo sem religião, escreve Hume, pensador inglês, se o achardes, sabei de antemão que ele não diferirá muito das feras”.
É assim mesmo: sem Deus, torna-se a sociedade humana um bando de salteadores e a vida de cada um em particular torna-se insuportável. Espantados nós lemos, todos os dias, notícias sobre suicídios, um dos maiores pecados que se possam cometer. Contudo, não nos admiremos que esse crime ocorra com tanta frequência. A vida não é um brinquedo de crianças, senão um tempo de trabalho árduo e de sérias provações. Quando sobrevém uma torrente de desgraças, nossa única esperança, apoio e fortaleza, é nossa fé em Deus, a certeza de que esta vida é somente uma estação de passagem, que é o tempo da fidelidade, do trabalho, da perseverança; a convicção de que “quem for fiel até a morte, receberá a coroa da vida eterna”. Sem esta fé não se pode viver, e não é de estranhar pois que ante as provações procure refúgio no suicídio aquele que perdeu a fé!
Religião e Juventude – Mons. Tihamer Toth