Fonte: SSPX Great Britain and Scandinavia – Tradução: Dominus Est
Caros fiéis,
Os recentes editoriais do Ite Missa Est lamentaram a existência, cada vez mais restrita, de uma monocultura tecnológica, racionalista, ateísta, materialista e cada vez mais autoritária em que nos encontramos (The Shrinking Universe Nov-Dez 2021 e Going Chinese Jan-Fev 2021), e apontaram para a adesão viva ao Corpo Místico de Cristo como o único caminho para a verdadeira liberdade. Este editorial expande o significado dessa participação viva ao Corpo Místico de Cristo como objetivo da vida cristã, como pode ser adquirida, seus graus de perfeição e como ela nos liberta.
Doutrina do Corpo Místico de Cristo
A doutrina do Corpo Místico de Cristo é desenvolvida com grande clareza e beleza na encíclica Mystici Corporis (1943) do Papa Pio XII. O termo Corpo Místico de Cristo é uma analogia que serve tanto como definição como descrição da Igreja Católica Romana:
“Ora, para definir e descrever esta verdadeira Igreja de Cristo – que é a santa, católica, apostólica Igreja romana – nada há mais nobre, nem mais excelente, nem mais divino do que o conceito expresso na denominação “corpo místico de Jesus Cristo”; conceito que imediatamente resulta de quanto nas Sagradas Escrituras e dos santos Padres freqüentemente se ensina.”
A analogia é esta: tal como os membros individuais de um corpo são unidos por um princípio animador natural (a alma) para contribuir com o bem comum do todo vivo, assim as almas, individualmente, são unidas por um princípio animador sobrenatural (a Vida Divina) ao bem comum da Igreja que é o Corpo Místico de Cristo (ver Tabela 1 ).
Membro vivo do Corpo Místico de Cristo
Um homem se torna um membro vivo do Corpo Místico de Cristo pelo batismo – geralmente o batismo sacramental, mas possivelmente pelo batismo de desejo ou mesmo pelo batismo de sangue. No batismo, a graça santificante eleva a alma a uma nova ordem de existência e a adorna com virtudes sobrenaturais (as virtudes teologais da fé, esperança e caridade e as virtudes morais, das quais as principais são as virtudes cardeais) e dons (os sete Dons do Espírito Santo) para que possa viver com uma vida sobrenatural e apresentar atos sobrenaturais.
Enquanto ele permanecer disposto à vida sobrenatural (pela liberdade do pecado mortal), e enquanto estiver livre de obstáculos para propor atos sobrenaturais (pela liberdade do vício), o homem crescerá em perfeição sobrenatural – ele se tornará mais intenso ou perfeitamente animado pela vida sobrenatural.
Graus de perfeição na vida sobrenatural
Os Padres da Igreja e os teólogos identificam três graus ou estágios no avanço das almas na vida sobrenatural: a via purgativa, a via iluminativa e a via unitiva. Estes são descritos na Enciclopédia Católica como se segue e resumidos na Tabela 2 .
1 – Via Purgativa
Este é o caminho, ou estado, daqueles que são principiantes, ou seja, aqueles que obtiveram a justificação, mas não têm suas paixões e más inclinações em um estado de subjugação que podem facilmente superar as tentações, e que, a fim de preservar e exercer a caridade e as outras virtudes têm que manter uma guerra contínua dentro de si.
2 – A via Iluminativa
A via iluminativa é a daqueles que estão em estado de progresso e têm suas paixões melhor controladas, de modo que facilmente se mantem afastadas do pecado mortal, mas que não evitam tão facilmente os pecados veniais, porque ainda têm prazer nas coisas terrenas e permitem que suas mentes sejam distraídas por várias imaginações e seus corações com inúmeros desejos, embora não em assuntos estritamente ilegítimos. Chama-se via iluminativa porque nela a mente se torna cada vez mais iluminada quanto às coisas espirituais e à prática da virtude.
3 – A via unitiva
A via unitiva é a daqueles que estão no estado de perfeição, isto é, aqueles que têm suas mentes tão afastadas de todas as coisas temporais que gozam de grande paz, que não são agitados por vários desejos nem movidos em grandes medidas pela paixão, e que têm suas mentes principalmente fixadas em Deus e sua atenção voltada, sempre ou muito freqüentemente, para Ele. É a união com Deus pelo amor e a experiência real e o exercício desse amor. Chama-se estado de “perfeita caridade” porque as almas que chegaram a esse estado estão sempre prontas no exercício da caridade por amar a Deus habitualmente e por freqüentes e eficazes atos dessa virtude divina.
O universo em expansão
O homem escapa ao universo encolhido do mundo moderno, lançando-se na expansão infinita do universo espiritual. Neste universo, ele tem total liberdade na medida em que se dirige a Deus. Pois a perfeição da liberdade está no ato de escolher o bem. Por conseguinte, a maior liberdade encontra-se no ato de escolher o maior bem que é Deus, não como um homem escolhendo, mas como um homem participando do ato infinito de Deus escolher a Si mesmo.
Ora, esta participação no ato infinito de liberdade de Deus torna-se possível pelo fato de o homem ser membro vivo do Corpo Místico de Cristo e é proporcional à intensidade da vida sobrenatural nele, de modo que, quanto mais avançado ele estiver na vida espiritual – quanto mais vive de caridade sobrenatural – maior liberdade ele tem.
Hora de escapar
Ao entrarmos no tempo da Quaresma, agora é a hora de fazer uma oferta pela liberdade. Esse é o momento de se libertar do universo encolhido que é o mundo moderno, fazendo um esforço sério para avançar na vida espiritual. Comecemos por ter uma intenção firme. Então, com a graça de Deus, nos separamos do pecado e de todas as coisas que são obstáculos à liberdade: coisas materiais, coisas espirituais (como afeição pela família e amigos) e nossa própria vontade. Então, uma a uma, retomamo-las todos de volta, mas de uma maneira que é ordenada pela caridade sobrenatural a Deus, para que, morrendo para o mundo nesta Quaresma, possamos ressuscitar livres com Cristo nesta Páscoa como membros perfeitos de Seu Corpo Místico.
In Jesu et Maria,
Pe. Robert Brucciani, FSSPX