Essa é a conclusão do jornal La Croix à leitura de uma pesquisa sobre a relação dos franceses com a religião.
Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est
Pela primeira vez, aqueles que respondem positivamente à questão “Você acredita em Deus?” são a minoria. Somente os maiores de 65 anos afirmam, em sua maioria, acreditar em Deus (58%). Nas faixas etárias mais jovens, formadas após a década de 1960, a resposta negativa é que domina. Contudo, a questão era mais ampla, e incluía todas as religiões (54% dos entrevistados acreditam que todas as religiões são iguais).
Não somente a prática, mas o pequeno interesse religioso ainda existente tende a desaparecer: enquanto 38% dos entrevistados mencionam Deus na família, 30% nunca o fazem.
Embora a pesquisa não faça distinção entre religiões, esses números revelam, no entanto, uma profunda tendência que confirma o título dado ao último livro do acadêmico Guillaume Cuchet: O catolicismo ainda tem futuro na França? Esta coleção de artigos fornece outros elementos de análise muito interessantes.
“Cruzando as curvas do fervor”
“Hoje na França, entre os jovens de 16 a 29 anos, 23% se consideram católicos, 2% protestantes, 10% muçulmanos e 64% sem religião” (p.83). Mas outra pesquisa de 2011 mostrou que entre aqueles “que declararam dar grande importância à sua religião“, havia agora na França, em números absolutos, mais muçulmanos do que católicos, “cruzando curvas de fervor” (e não de uma simples identidade) entre o Islã e o catolicismo, que é um acontecimento capital”(p. 85-86).
As práticas religiosas estão se afastando cada vez mais da norma católica. Enquanto em 1965, 94% das crianças nascidas na França eram batizadas nos primeiros 3 meses, hoje elas são apenas 30% batizadas até 7 anos de idade. A prática dominical não diz respeito a mais que 2 a 3% dos franceses “que levam o catolicismo a sério” (p. 67). Quanto à cremação, “a marca de 1% dos mortos cremados só foi atingida em 1980. (…) Ela atinge agora mais de um terço das mortes e metade nas grandes cidades”.
A constatação é ainda mais angustiante quanto os homens da Igreja acreditavam fazer todo o possível para se adaptar ao mundo com o Concílio Vaticano II. E o acadêmico lista alguns dogmas “sacrificados no altar da reconciliação da Igreja com o mundo moderno“: o quase desaparecimento da pregação sobre o inferno (“apenas círculos conservadores, “tradicionalistas” ou “integristas” permaneceram fiéis a este ponto e à antiga teologia“, p. 211), o pecado mortal, o pecado original. Quanto à moral, em particular no que diz respeito ao uso do casamento (quando há casamento), a ideia de qualquer restrição desapareceu das mentes por não ser pregada por clérigos que realmente já não aderem verdadeiramente a ela.
O Crash do Vaticano II
No entanto, a contribuição do livro anterior do mesmo estudioso (Como nosso mundo deixou de ser cristão) mostra, em particular, graças a um estudo detalhado das estatísticas da prática dominical pacientemente estabelecidas na época pelo Cônego Boulard, que este o colapso do catolicismo “assumiu a aparência de um crash, com tudo o que o termo sugere em termos brutalidade e surpresa, inclusive por especialistas que não o esperavam”; e que “este crash ocorreu graças ao Concílio, antes de maio de 68 e da publicação da famosa encíclica Humanae Vitae de Paulo VI sobre o casamento e a contracepção que é tradicionalmente invocada para explicá-lo”. “O Vaticano II foi essa reforma…que desencadeou essa revolução que pretendia evitar.” Outras manifestações desta crise, além do colapso da assistência à Missa dominical precisamente a partir de 1965: a crise do sacramento da penitência (o autor mostra “a extensão estatística do abandono“) e algumas supostas causas – o silêncio do clero sobre certos pontos de pregação, como os fins últimos, as hesitações do magistério conciliar, que dão a impressão de que tudo está aberto à discussão: o autor analisa em particular a procrastinação de Paulo VI em relação à Humanae vitae.
Guillaume Cuchet se defende contra qualquer instrumentalização (“Os livros têm seus destinos próprios pelo qual os autores são apenas parcialmente responsáveis”, p.13). O fato é que se, como um insuportável slogan publicitário proclama, “podemos discutir tudo, exceto os números“, então parece que estes são irrevogáveis e que só podemos subscrever este julgamento profético de Louis Veuillot, citado pelo autor: “A capela liberal não tem entrada, e parece ser apenas uma porta de saída da grande Igreja”(p. 151).
Pe. Benoît Espinasse, FSSPX
Guillaume Cuchet foi entrevistado por Christophe Dickès na webradio Storiavoce.
Fonte original: La Croix, 23 de setembro de 2021.