Fonte: Bulletin Hóstia (SSPX Great Britain) – Tradução: Dominus Est
Para se ter uma ideia de como o Purgatório é organizado, podemos vislumbrá-lo por meio de uma freira francesa que morreu em 22 de fevereiro de 1871 aos 36 anos, e 2 anos depois (em novembro de 1873) ela começou a aparecer do Purgatório para uma colega freira em seu convento. Ela disse: “Posso lhe contar sobre os diferentes graus do Purgatório porque passei por eles. No grande Purgatório, há vários estágios. No mais baixo e doloroso, é como um inferno temporário, e lá estão os pecadores que cometeram crimes terríveis durante a vida e cuja morte os surpreendeu naquele estado. Foi quase um milagre o fato de terem sido salvos, e muitas vezes pelas orações de pais santos ou outras pessoas piedosas. Às vezes, eles nem tiveram tempo para confessar seus pecados e o mundo os considerava perdidos, mas Deus, cuja misericórdia é infinita, deu a eles no momento da morte a contrição necessária para sua salvação por conta de uma ou mais boas ações que realizaram durante a vida. Para essas almas, o Purgatório é terrível.É um verdadeiro inferno, com a diferença de que no inferno eles amaldiçoam a Deus, enquanto nós O abençoamos e agradecemos por ter nos salvado. Aqui, os grandes pecadores que eram indiferentes a Deus, e os religiosos que não eram o que deveriam ter sido estão neste estágio mais baixo do Purgatório. Enquanto eles estão lá [nos reinos mais baixos do Purgatório], as orações oferecidas por eles não os são aplicadas. Por terem ignorado Deus durante a vida, Ele agora, por Sua vez, deixa-os abandonados [sem a ajuda das orações de outros] para que possam reparar suas vidas negligentes e sem valor”.
“Enquanto na terra, não se pode realmente imaginar ou retratar o que Deus realmente é, mas nós (no Purgatório) O conhecemos e O entendemos pelo que Ele é, porque nossas almas estão livres de todos os laços que as prendiam e as impediam de perceber a santidade e majestade de Deus e Sua grande misericórdia. Somos mártires, consumidos, por assim dizer, pelo amor. Uma força irresistível nos atrai para Deus, que é o nosso centro, mas, ao mesmo tempo, outra força nos empurra de volta ao nosso lugar de expiação.”
“Estamos no estado de ser incapazes de satisfazer nossos anseios. Oh, que sofrimento é esse, mas nós o desejamos e não há murmuração contra Deus aqui. Desejamos apenas o que Deus quer. Vocês na terra, no entanto, não conseguem entender o que temos que suportar. Agora tenho apenas o desejo insaciável de ver Deus, um sofrimento bastante cruel, mas sinto que o fim do meu exílio está próximo e que em breve deixarei este lugar onde anseio por Deus com todo o meu coração. Não posso lhe dizer o dia ou a hora de minha libertação. Só Deus sabe disso. Pode ser que eu ainda tenha muitos anos de desejo pelo Céu.
“No segundo Purgatório, que é muito diferente do primeiro, sofre-se muito, mas menos do que no grande lugar de expiação. Vemos São Miguel como vemos os anjos. Ele não tem corpo. Ele vem buscar as almas que terminam sua purificação. É ele quem as conduz ao Céu. Ele é o anjo mais elevado do Céu. Nossos próprios Anjos da Guarda vêm nos ver, mas São Miguel é muito mais belo do que eles. Quanto à Santíssima Virgem, nós a vemos no corpo. Ela vem ao Purgatório em suas Festas e volta ao Céu com muitas almas. Enquanto ela está conosco, não sofremos. São Miguel a acompanha. Quando ele vem sozinho, sofremos como de costume. Quando falei sobre o grande e do segundo Purgatório, foi para tentar fazer vocês entenderem que existem diferentes estágios no Purgatório. Por isso chamo de “grande” ou “pior” aquele estágio do Purgatório onde estão as almas mais culpadas, e onde fiquei por dois anos sem poder dar sinal dos tormentos que sofria. No ano em que me ouviste gemer, quando comecei a falar contigo, eu ainda estava no mesmo lugar.”
“Há, então, um terceiro estágio, que é o Purgatório do desejo, onde não há fogo. As almas que não desejaram o Céu ardentemente o suficiente, que não amaram a Deus suficientemente, estão lá. É lá que estou neste momento. Além disso, nessas três partes do Purgatório, há muitos graus de variação. Pouco a pouco, à medida que a alma se purifica, seus sofrimentos são alterados.”
“Às vezes, vocês me dizem que o aperfeiçoamento de uma alma é um processo longo e também se espantam com o fato de que, depois de tantas orações, eu esteja há tanto tempo privado da visão de Deus. Infelizmente, o aperfeiçoamento de uma alma não leva menos tempo no Purgatório do que na Terra. Há um número de almas, mas são muito poucas, que têm apenas alguns pecados veniais para expiar. Essas não ficam muito tempo no Purgatório. Algumas orações bem ditas, alguns sacrifícios logo as libertam. Mas quando há almas como a minha — e são quase todas aquelas cujas vidas foram tão vazias e que deram pouca ou nenhuma atenção à sua salvação – então toda a sua vida tem de ser recomeçada nesse lugar de expiação. A alma precisa se aperfeiçoar e amar e desejar Aquele a quem não amou suficientemente na Terra. Esta é a razão pela qual a libertação de algumas almas é adiada. Deus me concedeu uma graça muito grande ao me permitir pedir orações. Eu não merecia isso, mas sem isso eu teria permanecido como a maioria dos que estão aqui, por anos e anos mais.”(*)
(*) Último parágrafo complementar retirado do Boletim de janeiro/25