Vamos conversar com Deus sobre o importantíssimo negocio da salvação das nossas almas; porem, para que os nossos infernais inimigos não nos embaracem, armemo-nos primeiro com o sinal da Cruz, dizendo com vivíssima fé: Pelo sinal da Santa Cruz, etc…
Feito o sinal da Cruz, digamos:
Espíritos tentadores e demônios malditos apartem-vos de mim e deste lugar para as profundezas do inferno, e não me estorveis nesta oração, dirigida para a honra e glória de Deus, e salvação da minha alma.
Façamos atos da presença de Deus.
Eu creio meu Deus e Senhor, firmemente, que vós estais aqui presente, dentro de mim, penetrando no meu interior, presenciando ainda os mais ocultos pensamentos do meu coração, sem que eu me possa esconder aos vossos puríssimos olhos; porém (prostrem-se) prostrado por terra com o corpo e com a alma, unido ao mesmo pó, me humilho na vossa divina presença desejo adorar-vos como adora a Maria Santíssima, os anjos e os santos do céu e os justos da terra: – Porem, ai de mim, oh meu Deus! Eu pequei, Senhor, perdoe-me, que eu proponho de me emendar e de não tornar mais a pecar. (levantem-se da prostração)
Ato de petição
Pai Eterno pelo sangue de Jesus Cristo e pelas dores de Maria Santíssima conceda-me as luzes, auxílio e graças para fazer bem e com fruto essa meditação. (Rezar um Pai Nosso e Uma Ave Maria)
Leiam-se agora os pontos da meditação, um de cada vez; e quando se encontrarem esses pontinhos (…) deve-se parar por algum tempo, a fim de se ponderar bem o sentido do que se tiver lido; e depois de cada ponto se ficará em silencio, meditando, pelo menos, dez minutos, de maneira que a meditação dos três pontos perfaça, pelo menos, meia hora; e ultimamente se darão graças ao Senhor.
Breve método da oração
Meditação V – Do inferno
Ponto 1º – Considera que o primeiro e o maior de todos os tormentos que padece um condenado no inferno é a privação da vista de Deus! Triste e horrendo castigo! Todos os outros não fazem senão aumenta-lo, Porquanto não há coisa que mais atormente um condenado, do que esta triste lembrança; Perdi o meu maior amigo, perdi o meu Pai, perdi o meu Deus! Oh! Que lembrança tão aflitiva!… Oh! Que tormento ainda mais insuportável do que mil infernos juntos!… Oh! Perda imensa, perda irreparável, que fará derreter continuadamente os olhos do condenado em arrependimentos inúteis!… Ai de mim, gritará continuamente o desgraçado, ai de mim, que perdi as criaturas mais amáveis e mais amantes; perdi para sempre a Jesus Cristo, meu Pai, que tanto me amou, e nunca mais tornarei a ver Maria Santíssima, minha Mãe, que tanto me beneficiou. Perdi tudo, e tudo perdi para sempre!… Pecador, se não queres chorar, depois da morte, a perda de teu Pai e de tua Mãe do céu, chora agora os teus pecados, lança-te aos pés da Mãe Santíssima, e pede-lhe que pelas suas dores e Imaculado Coração te alcance do teu amado Filho perdão e misericórdia.
Ponto 2º – Considera que o segundo tormento do condenado é o fogo, e fogo, não só real e verdadeiro, mas também sobrenatural e milagroso!… Sim, os condenados no inferno ardem e estão submergidos todos vivos em um mar de fogo, que se não extinguirá jamais!… Fogo que tudo penetra e nada consome, tudo queima e nada desfaz!… Fogo temperado pela justiça divina com todo o gênero de tormentos para abrasar os corpos e os espíritos, e proporcionados às culpas dos condenados!… Fogo que nada clareia, pois que tudo no inferno são trevas; produz, contudo, uma maligna, com a qual os condenados veem os objetos horríveis de que estão cercados!… Ai de ti, infeliz, se chegas a entrar naquele cárcere escuro, estreito, hediondo e pestilente onde encontraras uma cama de fogo, cobras e toda a casta de bichos para manjares, e fel dos dragões para bebida, subministrado em copos de fogo, demônios e condenados para companheiros, todos juntos como montes vermelhos como o ferro em brasa, rompendo em terríveis blasfêmias contra o céu, contra os anjos, contra os santos, contra Jesus Cristo e toda a Trindade beatíssima!… Ai de ti, se chegas ainda a romperem maldições contra Deus!… Ai de ti, se chegas a cair naquela fornalha, onde ficaras ardendo em fogo, desde a planta dos pés ate o alto da cabeça! Pois tal é a sorte que te espera, se, contrito e arrependido, não pedes ao Senhor perdão e misericórdia.
Ponto 3º – Considera que os tormentos, que no inferno afligem os condenados, hão de ser permanentes para sempre, sem que os desgraçados tenham ai o menor refrigério ou alivio por toda a eternidade! Sim, passarão cem anos naquelas penas, e o inferno ainda estará no seu principio; passarão mil anos, passarão cem mil anos, passarão cem milhões de milhares de anos e de séculos, e o inferno estará ainda no seu começo!… U, pintassilgo, sorvendo em seu bico, de mil em mil anos, uma gotinha de agua, terá tempo para secar todos os poços, fontes, rios e mares, e a eternidade ainda estará no seu principio!… Ó eternidade! Eternidade! Se os homens em ti considerassem, por certo que haveria mais que temesse!… Lança, ó pecador, os olhos para o inferno, e verás lá no fundo um Caim, o primeiro condenado, ardendo há perto de seis mil anos, e a eternidade nem por isso se tem adiantado, pois que ainda tem a padecer tanto como que aquele neste instante lá cair. O mesmo te acontecerá, se por desgraça lá cairdes! Sim, todo o tempo que decorrer desde a tua morte até ao fim do mundo, nem um instante diminuirá os teus tormentos: ainda depois terás de ser queimado no fogo, atormentado pelos demônios, despedaçado pelos condenados, devorado pelo bicho roedor, privado do céu, da companhia dos santos, dos anjos, de Jesus e de Maria, por toda a eternidade! Treme, pecador, treme, muda de vida, compadece-te da tua alma e do teu corpo, empenha a terra e o céu para que te livres da eternidade de tormento, e pede a Maria que te acuda, e a Jesus que te perdoe, pela sua infinita misericórdia.
Goffiné – Manual do Cristão