SERMÃO DE D. LEFEBVRE – 24 DE FEVEREIRO DE 1980: AS RAZÕES DA PENITÊNCIA

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Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Meus queridos amigos,
Meus queridos irmãos,

Neste primeiro domingo da Quaresma, a Igreja nos convida à austeridade. Vemos isso nos próprios ritos desta Missa – ritos austeros – e ela também nos convida a meditar sobre as razões que temos para fazer penitência.

E este Evangelho que narra a tentação que Nosso Senhor sofreu nas mãos do demônio deve nos fazer pensar que se o demônio teve a ousadia e a soberba de atacar, propriamente, Nosso Senhor Jesus Cristo, quando sabia perfeitamente que era o Filho de Deus, quanto mais se empenhará em nos destruir. Pois ele sabe que em nós ele tem uma chance muito maior de nos fazer cair em pecado.

E é por isso que precisamos meditar sobre as razões desse jejum que a Igreja nos pede, esse jejum quaresmal à imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos dá o exemplo do jejum que fez durante quarenta dias no deserto.

E para dar alguma expressão concreta às razões, aos motivos de nossa penitência, escolherei três exemplos: o exemplo de Santa Maria Madalena, o exemplo de São Francisco de Assis e o exemplo da Virgem Maria.

Santa Maria Madalena fez penitência porque havia pecado. Sem dúvida, ela havia pecado gravemente, havia levado uma vida dissoluta. Mas, tocada pela graça de Deus, ela se converteu. Assim, ela decidiu se afastar de tudo o que poderia levá-la ao pecado. Ela quebrou o precioso frasco de perfume que possuía e o derramou sobre os pés de Nosso Senhor. Beijou os pés de seu Deus e recebeu estas palavras, tão belas, tão consoladoras para ela: “Muito lhe foi perdoado, porque muito amou”. Este gesto de amor de Maria Madalena para com Nosso Senhor rendeu-lhe uma graça ainda maior: a de ser a primeira a reconhecer Nosso Senhor Jesus Cristo após sua Ressurreição.

É assim que Nosso Senhor recompensa aqueles que fazem penitência e aqueles que choram seus pecados. Todos somos pecadores; portanto, todos temos de chorar por nossos pecados e quebrar tudo o que possa ser uma ocasião para pecarmos, a fim de nos apegarmos a Nosso Senhor Jesus Cristo, como prometemos no dia de nosso batismo.

São Francisco de Assis, por outro lado, até onde sabemos, não levou uma vida dissoluta. Ele ajudou seu pai nos negócios. Mas ele tinha medo. Temia que esse negócio, essa busca por dinheiro, pelos bens deste mundo, o levasse a perder a alma. Ele sentiu sua fraqueza e decidiu – movido pela graça de Deus – romper com todas as coisas aqui deste mundo. Tudo o que pode, de alguma forma, excitar nossos apetites, nossos apetites desordenados.

Pois é nesse ponto que somos fracos. As consequências do pecado original ainda estão inscritas em nosso coração, em nossa alma, como feridas, e estamos doentes; precisamos nos curar. Portanto, para nos curarmos, devemos também fazer penitência a fim de restaurar a ordem dentro de nós. E foi isso que São Francisco de Assis quis fazer. Ele poderia ter ficado rico, escolheu a pobreza. Ele poderia ter se tornado poderoso, escolheu a ignomínia, a humildade.

E Nosso Senhor Jesus Cristo nos mostra, pela recompensa que deu a São Francisco de Assis, o quanto Ele aprecia a penitência que ele fez. E como esse exemplo nos encoraja também a fazer penitência. Nosso Senhor lhe apareceu na Cruz, radiante, e os feixes que saíam dos pés, das mãos e do coração de Jesus atingiram São Francisco de Assis. E ele foi marcado com os estigmas de Nosso Senhor. Assim Deus recompensa aqueles que fazem penitência, derramando em suas almas um amor total por Ele, por Nosso Senhor Jesus Cristo.

E, por fim, a Virgem Maria não tinha motivos para fazer penitência, uma vez que não pecou, uma vez que não experimentou o pecado original, consequentemente também, não experimentou suas consequências ou doenças.

A Santíssima Virgem Maria é toda pura, imaculada em sua conceição. Por que então fazia penitência? E esta é a terceira razão, a mais nobre para nós, para fazer penitência: participar da Redenção de seu divino Filho.

Se Jesus também quis derramar o seu sangue, espalhar o seu Sangue para nos redimir, Ele que era Deus, Ele que não conheceu o pecado – também a Virgem Maria que não conheceu o pecado – quis associar-se à sua dor. E é por isso que ela foi chamada de Mãe das Dores, Nossa Senhora da Compaixão. Rainha dos mártires, porque uma espada lhe trespassou o coração.

Dessa forma, ela associou suas dores, seus sofrimentos, suas provações aos sofrimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. E esta é a razão mais bela, a maior, a mais forte pela qual tivemos que fazer penitência, para que possamos também associar nossas provações, associar nosso sangue, por assim dizer, ao de Nosso Senhor Jesus Cristo, a fim de salvar almas, a fim de participar de sua Redenção.

Estas, meus caros amigos, meus caros irmãos, são as três razões pelas quais devemos fazer penitência, mas sobretudo por amor a Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo desejo de nos associarmos aos seus interesses, aos seus desejos, ao seu objetivo que é salvar as almas e derramar o seu Sangue sobre elas.

Façamos também tudo; aceitemos não só as poucas penitências que impomos a nós mesmos, mas também as penitências que o Bom Deus nos impõe por meio da Providência. Penitência nas dificuldades de saúde que possamos ter; nas dificuldades de cumprir o nosso dever de estado; tantas provações nas nossas famílias, nos nossos conhecidos, nos nossos amigos, em tudo o que nos rodeia; tanta dor, tanto sofrimento. Aceitemos esses sofrimentos em união com os de Nosso Senhor Jesus Cristo para a redenção das almas.

Peçamos à Virgem Maria que nos faça compreender a necessidade deste sofrimento e desta penitência, para que possamos nos associar a ela e receber, como ela, a recompensa eterna.

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.