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Caríssimos amigos,
Caríssimos irmãos,
Cristo Ressuscitou. Nós cremo-lo de toda nossa alma e todo nosso coração. E como dizia o padre ontem, ao dispor os grãos de incenso em forma de Cruz sobre o Círio pascal, repetimos hoje, com ele:
Christus heri et hodie: Cristo ontem e hoje.
Principium et finis alpha et oméga: Jesus Cristo é o Princípio e o fim de todas as coisas.
Ipsius sunt tempora et scæula: A Ele todo os tempos e todos os séculos.
Ipsius sunt gloria et imperium per omnia sæcula: A Ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos.
Gloriosa vulnera custodiant nos: Que suas chagas gloriosas nos conservem na fé.
Sabeis, meus caríssimos irmãos, infelizmente, existe hoje, entre os católicos, um grande número que hesita sobre a realidade da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nosso Senhor não teria reavido seu Corpo. Esse Corpo que ele recebeu da Virgem Maria. Mas teria retomado um corpo espiritual, e não aquele que foi crucificado sobre a Cruz. Ora, Nosso Senhor mesmo quis, para combater esses erros, que houvesse, entre os apóstolos, um incrédulo, São Tomé, que não quis acreditar na realidade da Ressurreição de Nosso Senhor. E, então, Nosso Senhor se apresentou em pessoa, quando Tomé estava presente. Ele lhe disse: “Tomé, vejas, coloques teus dedos em minhas feridas”.
Duvidaremos, caríssimos irmãos, que Nosso Senhor tenha ressuscitado com o Corpo com o qual ele foi crucificado, e que ele recebeu da Santíssima Virgem Maria? Para nós, é nossa fé. E não queremos modificar esta fé.
É claro que essa ressurreição de Nosso Senhor é um argumento irrefutável de sua divindade. O demônio, que tinha acreditado que acabaria com o reinado de Nosso Senhor fazendo-o crucificar sobre a Cruz, encontrará agora outros meios para tentar impedir que seu Corpo Místico cresça; que seus membros se multipliquem após a Ascensão.
E imediatamente, mal ressuscitou, ele empregou os meios que empregará durante todos os séculos. A mentira pelo dinheiro. Pagam os guardas que testemunharam a Ressurreição, a fim que eles mintam e digam que, enquanto dormiam, os apóstolos vieram buscar o corpo de Nosso Senhor. Como dizia tão bem Santo Agostinho ao longo da Lição que lemos durante as Trevas desta noite: Se dormiam, como puderam dizer que eram testemunhas de que os apóstolos vieram buscar o Corpo de Nosso Senhor?
E, assim, mentiras sobre mentiras, que os Príncipes dos sacerdotes conseguiram induzir aos soldados, a fim de negar a Ressurreição de Nosso Senhor. Ora, evidentemente, ela os incomodava. Eles, que eram os servos de Satanás; eles, que também acreditaram poder acabar com Nosso Senhor, e Nosso Senhor ressuscitou.
E, logo faz vinte séculos que esses fatos ocorreram. Em cinquenta e um anos, festejaremos o vigésimo século da morte e da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
E o que aconteceu desde então? Pois bem! A humanidade se dividiu. Há aqueles que estão com Nosso Senhor Jesus Cristo; e há aqueles que estão contra Nosso Senhor Jesus Cristo. E ao longo dos séculos pudemos notar se, no curso de certos períodos da História cristã, houve uma adesão geral, em massa, a Nosso Senhor Jesus Cristo, proclamando a fé na Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Após as perseguições, a partir do reinado de Constantino, pode-se dizer que durante dez séculos, a fé cristã se difundiu pelo mundo. E que, da Irlanda até Mumbai, onde São Tomé pregara o Evangelho, onde ainda encontramos lembranças do apóstolo São Tomé, a fé católica era afirmada por toda parte.
Porém, infelizmente, Satanás, aquele que semeia a cizânia, não estava dormindo! E veio o Renascimento. O Renascimento que não era outra coisa senão um retorno ao paganismo, um retorno à exaltação do homem contra Deus, contra Nosso Senhor. E foi então que nasceu o protestantismo, recusando o magistério da Igreja, recusando a fé na palavra da Igreja, rejeitando a Igreja definitivamente, a fim de ceder lugar à razão, à liberdade de cada um interpretar as Escrituras como quiser.
E então veio, pouco a pouco, aqueles que, definitivamente, criaram todas as peças do evangelho satânico contra o Evangelho de Nosso Senhor, com seus falsos princípios. Princípios dos Direitos do Homem contra os direitos de Deus, princípio da dignidade humana sem dignidade cristã.
Somos dignos na medida em que somos cristãos. Falsa dignidade, consequentemente, aquela que seria do pecador, daquele que está no erro, aquela daquele que busca o vício e o mal.
Depois, liberdade: liberdade religiosa, todos têm sua própria religião, cada um pode crer no que quer. Não há diferença entre o erro e a verdade, não há diferença entre a virtude e o vício. Não há mais dogmas. Há apenas uma busca geral por uma verdade que nunca se conhecerá: Eis o evangelho de Satanás.
E, agora, esse evangelho se espalhou por toda parte. E estamos em uma época espantosa. Que existam inimigos da Igreja, inimigos de Nosso Senhor, Nosso Senhor o anunciara: O mundo me odeia e vos odiará, meus discípulos, não se espantem com isso.
Sim, o mundo odeia Nosso Senhor e odiou Nosso Senhor. Então, não há nada de surpreendente nisso. O demônio está por toda parte; ele busca dividir a humanidade e empurrá-la contra Nosso Senhor.
Mas o que em nossa época é impressionante, inaudito, que, talvez, nunca tenha existido na História da humanidade, é que aqueles que deveriam manifestar sua fé, aqueles que deveriam afirmar sua fé na Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, agora difundem erros sobre essa Ressurreição, e temos sido as testemunhas disso, aqui em Écône.
Pois bem! Em 11 de novembro de 1974, quando nos enviaram visitadores aqui mesmo, em Écône. Bem!, esses enviados de Roma colocaram em dúvida a realidade da Ressurreição de Nosso Senhor.
Como isso é possível? Logo, fomos as testemunhas, de mandatários de Roma, daqueles que vieram aqui para ver se tínhamos a Verdade; para ver se guardávamos a fé… São eles que corromperam a fé! São eles que já disseram para mim mesmo: mas, Monsenhor, não se pode tratar de manter o celibato para os padres. Mais cedo ou mais tarde os padres poderão se casar. E estes eram os enviados de Roma!
Portanto, Satanás entrou na Igreja, e nos encontramos diante de uma conjuração como jamais a Igreja sofreu.
A Igreja sofre sua Paixão hoje. Inimigos penetraram no interior, e espalham agora os erros. Esse catecismo de Satanás, eles o difundem pelo intermédio daqueles que deveriam pregar a Verdade.
Puderam ler nestes dias – se os senhores leem o jornal Présent – um artigo de Hugues Kéraly, que diz abertamente: Os bispos da França renegaram três vezes Nosso Senhor. E adianta os fatos. Três vezes, com efeito, publicadamente, nos escritos que difundiram no meio dos fiéis, os bispos interpretam algumas palavras da Escritura, que afirmam explicitamente a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Os bispos traduzem de tal modo que não se pode reconhecer mais a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Por exemplo, quando Pilatos interroga Nosso Senhor e lhe diz: É verdade que és Rei? Tu dicis quia Rex sum ego. Toda a Tradição traduziu: “Tu o dizes, com efeito, sou Rei”. Os bispos traduzem: É você quem diz que sou Rei”. Não é isso que diz Nosso Senhor. Nosso Senhor diz: “Tu o dizes, sou Rei”, ele afirma sua divindade. Não é uma palavra de Pilatos.
Assim, bispos, publicamente, podem modificar palavras da Escritura que afirmam a divindade de Nosso Senhor colocando, de algum modo, em dúvida, sua divindade.
E vemos coisas surpreendentes. Recentemente pudestes ler nos jornais que, na Inglaterra, teólogos católicos, protestantes e anglicanos se reuniram a fim de acabar com a divisão.
Ah, queira Deus que essa divisão acabe e que os anglicanos voltem para a unidade da fé na Igreja católica. Oh, é o que pedimos ao Bom Deus todos os dias. Mas não se trata disso. Trata-se de uma união entre os anglicanos e os católicos, da qual o papa seria o Presidente de honra. E parece-lhes que agora tudo acabou com as dificuldades que existiram entre os anglicanos e os católicos ao longo dos séculos.
Houve protestos dos bispos?
E isso foi publicado, e me disseram que depois de seis anos de trabalho, agora a questão estava resolvida e que a viagem do papa estando próxima, poderiam proclamar a união definitiva dos anglicanos e dos católicos. A união da Verdade e do erro, a união da Luz e das trevas, a união de Belial e Deus! É o que diz São Paulo. Existe a possibilidade de unir essas coisas?
Esperamos que essas coisas não aconteçam e que elas não podem ocorrer sem destruir a Verdade da Igreja. Ainda aqui, os bispos faltam com seus deveres de pastores, de pastores da Verdade.
Outro exemplo: na Alemanha, por duas vezes se reuniram na diocese de Rotemburgo, 165 teólogos – ou pretensos teólogos católicos – vindos de todas as dioceses da Alemanha.
Eles fizeram uma reunião ao longo da qual disseram, concluíram: Doravante, não queremos mais que haja divisão entre os católicos e os protestantes.
Mais uma vez queira Deus que não haja mais divisões entre os católicos e os protestantes, mas que os protestantes se convertam à Verdade católica. É o único modo de concretizar a unidade.
Não! Para eles, não é assim. Eles concluem: Doravante, a união deve acontecer, nos fatos, na prática, e solicitamos que os padres católicos possam se tornar párocos nas paróquias protestantes, e que os pastores possam se tornar párocos nas paróquias católicas.
Ninguém protestou! Nenhum bispo protestou: 165 teólogos católicos vindos de todas as dioceses da Alemanha!
Vivemos realmente em uma época em que se renega Nosso Senhor; onde não se crê mais na divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Então, caríssimos irmãos, quanto a nós, quanto a nós, aos quais o Bom Deus fez a graça de guardar a fé de nossa infância, a fé que nossos pais nos deram, a fé pela qual morreram tantos mártires e pela qual ainda sofrem tantas pessoas atrás da “cortina de ferro”, abandonaremos esta fé? Não!
Hoje, nesta festa de Páscoa, afirmamos novamente, com a Igreja de sempre, que cremos em Jesus ressuscitado!
Que ele ressuscitou com seu Corpo, com o Corpo com o qual ele foi crucificado e que suas chagas gloriosas nos guardam nesta fé, como dizia a Igreja ontem.
Veremos um dia – com a graça de Deus – as chagas gloriosas de Nosso Senhor, pelas quais fomos resgatados; pelas quais poderemos participar na glória de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Então, não queremos negar a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, ou colocá-la em dúvida. E pediremos à Virgem Maria para nos guardar nesta fé. Pode ela dizer que o Corpo com o qual Nosso Senhor Jesus Cristo ressuscitou não é aquele que ela Lhe deu?
Pode ela pensar uma coisa assim. Ela foi a testemunha da crucificação de seu Divino Filho; ela O seguiu até o túmulo e, ela está segura de que o Corpo que ele retomou é aquele, é, sim, aquele que ela lhe deu, e sempre viu até a sua Ressurreição e Ascensão.
Peçamos à Virgem Maria para que ela nos guarde em nossa fé, nos guarde na fé católica, na fé da Igreja, e não nos deixe arrastar por todos esses erros modernos que nos afastariam de Nosso Senhor, e poderiam nos separar Dele para sempre.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Tradução gentilmente cedida pelo nosso amigo Robson Carvalho