Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est
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Caríssimos irmãos,
Esta festa da Imaculada Conceição, cujo dogma foi proclamado solenemente pelo Papa Pio IX em 1854, foi confirmada posteriormente à Bernadete pela própria Virgem Maria, em Lourdes, em 1858.
Sem dúvida, a festa da Imaculada Conceição é muito mais antiga do que a sua definição, e, precisamente, a definição destes dogmas advém, sempre pelos Sumos Pontífices, depois que a Igreja, em sua tradição e fé, tenha demonstrado, de um modo permanente, que ela acredita nestas Verdades que Nosso Senhor Jesus Cristo revelou por meio de seus apóstolos.
Assim, a verdade que festejamos hoje acerca da Imaculada Conceição da Santíssima Virgem Maria é uma verdade contida na Revelação, afirmada, consequentemente, pelo próprio Jesus Cristo, Nosso Senhor.
Esta festa nos oferece uma grande lição, particularmente aos senhores, caríssimos amigos, que, em alguns instantes, irão pronunciar vosso voto pela primeira vez, ou renová-lo. Acredito que devo chamar vossa atenção sobre o fato de que esse voto requer dos senhores, de um modo bem particular, e verdadeiramente com todo o vosso coração, com toda a vossa adesão, a prática da santa Virtude da obediência.
E, se há uma virtude que se destaca nesta festa da Imaculada Conceição, é precisamente a virtude da obediência. Por quê? Porque o que nos leva a perder a graça santificante, o que nos faz perder a amizade de Deus é o pecado de Eva, da mãe da humanidade.
Por seu pecado, por sua desobediência, ela arrastou consigo todas as almas que a sucederam. Desde que o pecado de nossos primeiros pais interveio na história da humanidade, todos aqueles que nascem, nascem com o pecado original. Salvo a Santíssima Virgem Maria, exceto a Santíssima Virgem Maria.
Desta forma, portanto, Nosso Senhor Jesus Cristo quis. Deus quis que, nesta história da humanidade que foi ressequida, de algum modo, pelo pecado da desobediência da mãe da humanidade, esta falta fosse reparada por uma criatura semelhante, por Nossa Mãe do Céu, a Santíssima Virgem Maria.
Assim como por uma desobediência teve início o pecado na humanidade, é pela obediência da Santíssima Virgem Maria que este pecado é reparado.
Logo, há aqui uma antítese admirável, que foi desejada, ou, no mínimo, permitida pelo Bom Deus. Certamente, o Bom Deus não quis o pecado. Porém Ele permitiu esta falta da humanidade que, como diz a liturgia do Sábado Santo: felix culpa (feliz culpa), de um certo modo, em um certo sentido, nos mereceu tantas graças; nos mereceu ter em nosso meio o Filho de Deus, nos mereceu ter a Santíssima Virgem Maria.
Ademais, precisávamos tirar proveito desta lição e da graça que a Santíssima Virgem Maria nos oferece. Lição de obediência, graça santificante, ela que é cheia de graça. Por que ela é cheia de graça? Porque ela obedeceu, porque ela se submeteu a Deus.
E é precisamente isso que devemos ter como primevo desejo de nossas existências.
A virtude da obediência está no coração de nossa própria santificação.
Ela está no cerne de toda a nossa vida, de nossa vida natural, de nossa vida sobrenatural. Não pode haver verdadeira vida natural sem a obediência. Não pode haver verdadeira vida sobrenatural sem a obediência.
Logo, o que é a obediência? Em quê ela consiste? Parece-me que se poderia defini-la como a virtude de Deus. Virtus Dei omnipotentis: a virtude de Deus Onipotente, que se infunde em nossas almas, em nossas existências, em nossa vontade, em nossa inteligência, em nosso corpo, esta virtude do Deus Onipotente. Virtude que é a força do Deus Onipotente que se inscreve em nossas vidas, em nossa vida cotidiana, em nossas existências. Pois não somos nada sem esta virtude do Deus Onipotente.
E esta virtude do Deus Onipotente é inscrita pelas leis, pelos mandamentos de Deus, pelos mandamentos de vida. Ame teu Deus; ame teu próximo. Eis o que devemos fazer. E é sob esta condição que viveremos, que viveremos tanto na ordem natural quanto na ordem sobrenatural.
Logo, devemos, antes de qualquer coisa, desejar ver esta virtude de Deus, esta virtude natural e sobrenatural de Deus, se infundir em nossas almas, e nos tomar por completo; tudo o que somos. Não escondermos nada em nós desta onipotência de Deus; submetermo-nos inteiramente à graça do Bom Deus, à sua força, à sua vida.
Eis o que é a obediência, e eis o fruto da obediência. A Vida natural, a vida sobrenatural, e, por isso mesmo, a vida da visão beatífica, a vida eterna, tudo está inscrito nesta virtude da obediência.
Esta deve ser para vós, caríssimos amigos, enquanto pronunciais vosso voto, uma disposição profunda de vossas almas: Quero ser obediente por toda a minha vida, obediente a Deus. Submeter-me a este desejo de Deus, de me ver viver, de me comunicar sua vida ao me comunicar sua Verdade, sua Verdade em nossas inteligências, pela luz natural de nossa razão, de nossa inteligência, mas também, e, sobretudo, pela luz da fé. Pois não existe nada além da fé. É a obediência de nossas inteligências à Revelação de Nosso Senhor Jesus Cristo que nos dá sua Verdade, que nos transmite sua Verdade. E esta Verdade é uma fonte de vida. Ela será para os senhores uma fonte de vida, uma fonte de graças. Então, submetam completamente vossas inteligências e vossas vontades a Nosso Senhor Jesus Cristo. Peçam-no, pela intercessão da Santíssima Virgem Maria. Peçam-lhe que ela vos conceda esta graça. Que ela vos dê esta humildade para submeter-vos completamente à Santa vontade de Nosso Senhor. Ela mostrou-vos o exemplo por seu Fiat, por sua humildade.
Quia respexit humilitatem meam; quia respexit humilitatem ancillæ suæ. Cantamos no Magnifcat. Além do mais é sua prima Isabel quem lhe disse: Et beata, quæ credidisti (Lc 1,45): “Bem-aventurada, pois teve fé”.
A fé! E a fé nada mais é do que a obediência de nossa inteligência, a submissão de nossas inteligências à Verdade revelada pela autoridade de Deus.
Eis o que deve ser vossa obediência. E por esta graça de obediência, os senhores transformarão vossas vidas. Vossas vidas estarão plenamente conformes à vontade de Deus.
Evidentemente, no entanto, nas circunstâncias em que vivemos, na confusão na qual a Igreja se encontra hoje, podemos nos perguntar: Mas onde está a obediência hoje? Como acontece a obediência na Santa Igreja hoje?
Bem! Não devemos nos esquecer de que a primeira de nossas obediências, a nossa obediência fundamental, a nossa obediência radical, a nossa obediência deve ser total a Nosso Senhor Jesus Cristo, a Deus. Pois é Ele quem nos pede nossa obediência. É Ele quem nos pede a nossa submissão. E o Bom Deus fez tudo para que sejamos iluminados em nossa obediência.
Durante dois mil anos de existência da Igreja, a luz foi dada, dada pela Revelação, pelos apóstolos, pelos sucessores dos apóstolos, por Pedro, pelos sucessores de Pedro.
E, se por acaso, ocorreu de algum erro ter se insinuado, ou algumas transmissões da Verdade não terem sido feitas de modo exato, a Igreja as corrigiu. A Igreja teve o cuidado de nos transmitir a Verdade de acordo com a Verdade de Deus.
E eis que, por um mistério insondável da Providência, a Providência permite que a nossa época seja, talvez, uma época única na História da Igreja, onde estas verdades não são mais transmitidas com a fidelidade com a qual a Igreja as transmitiu durante dois mil anos. Não procuremos sequer a causa, de um certo modo, não procuremos a responsabilidade por estes fatos. Mas estes fatos estão aí diante de nós. A Verdade que era ensinada às crianças, aos pobres: Pauperes evangelizantur (Mt 11, 5): “Os pobres são evangelizados”, dizia Nosso Senhor aos enviados de São João Batista.
Bem! Hoje, os pobres não são mais evangelizados. Não lhes dão mais o pão, o pão que as crianças reclamam, o verdadeiro pão: o pão de vida.
Transformaram os nossos Sacrifícios, os nossos sacramentos, os nossos catecismos, e, então, ficamos aturdidos. Fomos dolorosamente surpreendidos. O que fazer diante desta realidade angustiante, dilacerante, esmagadora? Guardar a fé. Obedecer a Nosso Senhor Jesus Cristo. Obedecer ao que Nosso Senhor Jesus Cristo nos deu durante dois mil anos.
Em um momento de terror, em um momento de confusão, em um momento de desagregação da Igreja, o que devemos fazer senão nos segurar ao que Jesus ensinou, ao que sua Igreja nos deu como a Verdade para sempre, definida para sempre? Não se pode mais mudar o que foi definido de uma vez por todas pelos Sumos Pontífices, com sua infalibilidade. Não é mais mutável. Não temos o direito de mudar a Verdade que está inscrita para sempre em nossos livros santos. Ora, essa imutabilidade da Verdade corresponde à imutabilidade de Deus. É uma comunicação da imutabilidade de Deus à imutabilidade de nossas verdades. Mudar as nossas verdades significaria mudar a imutabilidade de Deus. Ora, recitamos isto todas as manhãs na hora Prima: Immotus in se permaneus: Deus, que permanece imutável em si mesmo o tempo todo, permanece até o fim.
Portanto, devemos nos subordinar a essa verdade que nos é ensinada de um modo permanente, e não nos deixarmos perturbar pela desordem que constatamos hoje.
Consequentemente, saber, em certos momentos, não obedecer para obedecer. Ora, isto é definitivo. Ora, essa virtude da qual vos falava agora a pouco do Deus Onipotente, o Bom Deus quis que ela nos fosse transmitida, de um certo modo, pelos homens que participam de sua autoridade.
Contudo, na medida em que suas criaturas não são fiéis à transmissão desta vida, desta virtude de Deus, nesta mesma medida não podemos mais aceitar suas ordens e as obrigações que elas nos impõem. Porque obedecer a homens que transmitem de um modo infiel a mensagem que lhes é dada seria desobedecer a Deus. Isto seria desobedecer a mensagem de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Então, quando temos a escolha: obedecer à mensagem de Nosso Senhor Jesus Cristo ou obedecer a mensagem dos homens, que nos são transmitidas pelos homens, na medida em que a mensagem que nos é transmitida pelos homens corresponde à mensagem de Nosso Senhor Jesus Cristo, não temos nenhum direito de não lhes obedecer uma única vírgula.
Contudo, na medida em que essas ordens, ou essas obrigações que nos são dadas não correspondem àquelas que Nosso Senhor Jesus Cristo nos deu, devemos obedecer antes a Deus do que aos homens.
Neste momento, estes homens não cumprem a função pela qual eles receberam a autoridade que o Bom Deus lhes deu.
É por isso que o próprio São Paulo dizia: “Se um anjo do Céu ou nós mesmos – consequentemente ele próprio, Paulo – Se um anjo do Céu ou eu mesmo, Paulo, vos ensinar uma verdade diferente daquela que vos foi ensinada primitivamente, não nos escutem”.
É isso. Estamos diante desta realidade. E eu mesmo diria com prazer, se me acontecesse de vos ensinar algo que seja contrário ao que toda a Tradição da Igreja nos ensinou, não me ouçam. Neste momento, tereis o direito de não me obedecer. E tereis o dever de não me obedecer, porque não serei fiel à missão que o Bom Deus me deu.
Eis o que deve ser a nossa obediência. Antes de tudo, obedecer a Deus.
Este é o único meio para chegarmos à vida eterna. Pois é esta obediência que ordena a via que conduz à vida eterna.
E nisto, seguimos o exemplo da Santíssima Virgem Maria.
Ela foi a própria obediência. Ela é o exemplo mais perfeito, mais belo, mais sublime da obediência, contrariamente à desobediência da mãe da humanidade.
Assim, peçamos hoje, caríssimos amigos, à Santíssima Virgem Maria para nos ensinar esta obediência, para nos fazê-la conservar até a nossa morte. E agir de modo que as promessas que ireis fazer em alguns instantes sejam verdadeiramente a expressão do que tendes no mais profundo de vossa alma. E se, nestas orações, parece-me desejável colocar a bela oração que o Missal romano nos ensina pouco antes da consagração da Eucaristia: Hanc igitur oblationem servitutis nostræ: “Recebas, ó Meu Deus, a oblação de nossa obediência, de nossa escravidão”: Hanc oblationem servitutis nostræ, é o que ides recitar. Pois bem! Que todos os dias, se o Bom Deus vos conceder a graça de serem sacerdotes, quando recitardes essa oração – e desde já, quando a recitardes com o padre – renoves vossa profissão de obediência e de escravidão a Deus e à Santíssima Virgem Maria.
Hoje, que seja esta a graça que o Bom Deus vos conceda.
Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.