VISÕES E APARIÇÕES

Aparição de nossa senhora dia 29-01-12.(video).3gp - YouTube

Tradução de Gederson Falcometa

Vivemos em um tempo, em que se fala facilmente de aparições e visões, de comunicações e revelações divinas feitas a almas privilegiadas. Aqui e ali sussurram-se com uma frequência incomum de taumaturgos, profetas e visionários, que se dizem dotados de carismas especiais, que prenunciam da parte de Deus e da Virgem Santíssima, acontecimentos ora felizes e belíssimos, ora funestos e horríveis, que se apresentam com a função de alguma missão celestial extraordinária.

Diante desses fatos, sentimentos e juízos seguem as mais opostas direções. Aqui temos uma credulidade excessiva, precipitada, pouco esclarecida, favorecida pelas circunstâncias dolorosas em que nos encontramos. O cansaço, os medos, as ansiedades, o desejo de alívio e de paz excitam fortemente a alma e aquecem a fantasia. O homem nas suas dores, nas suas necessidades e perigos, invoca apaixonadamente a ajuda e a proteção do Céu, e na expectativa febril, no fervor e no entusiasmo, é levado a transformar o mais pequeno acontecimento, e torna-se facilmente vítima de sugestões e alucinações. Basta um nada para fazê-lo acreditar que vê e ouve o que não existe. Lá se nota, ao invés, uma incerteza meticulosa, temos almas desconfiadas, de temperamento bastante cético, que certamente acreditam no sobrenatural, mas sempre temem comprometer a religião dando fé a alguns desses fatos extraordinários, divulgados entre a multidão, almas que às vezes se deixam levar pela zombaria e ao ridículo fora de lugar. Em outros lugares, encontramos a descrença aberta e sistemática daqueles que, negando a priori qualquer forma de sobrenatural, consideram logicamente todas as visões e revelações divinas como impossíveis e, portanto, chamam de iludidos ou mentirosos aqueles que afirmam serem seus protagonistas.

Estas diferentes atitudes produzem sempre uma grande confusão de ideias e uma deplorável desordem, como nos atesta a experiência dos nossos dias. Acreditamos, portanto, ser oportuno destacar a verdadeira doutrina católica sobre este assunto. Advertimos, no entanto, que neste estudo não pretendemos examinar factos particulares que se dizem terem ocorrido nos nossos tempos ou fazer aplicações a esta ou aquela revelação específica. Estabelecer alguns princípios de forma concisa, mas clara, simples e, se si quer, elementar: este é todo o nosso plano.

Noções gerais

Para proceder na tratativa com maior ordem e clareza, e também para evitar parênteses e digressões, que podem se tornar enfadonhas e atrapalhar o caminho, precisaremos bem o significado de alguns termos e a natureza de alguns conceitos.

Em geral com o nome de aparição e de visão se define toda manifestação extraordinária e sensível, por meio da qual um objeto, seja espiritual ou corporal, é colocado em comunicação com os sentidos externos ou mesmo internos de um sujeito, que não poderia naturalmente nem percebê-lo e nem conhecê-lo.

Muitos teólogos místicos tomam as palavras aparição e visão como sinônimas e na linguagem corrente empregam indiferentemente uma locução ou a outra. No entanto, as duas expressões em termos de significado não são exatamente idênticas. O nome visão expressa mais propriamente a própria percepção, isto é, o ato de perceber; a aparição, por outro lado, designa mais propriamente aquilo que se manifesta, o objeto que aparece aos sentidos. Bona (1) encontra outra diferença entre visão e aparição, no grau de clareza do fato, ou melhor, na luz comunicada para conhecer a manifestação objetiva. Quando esta se apresenta aos sentidos externos ou à imaginação do vidente, sem que a inteligência consiga discernir aquele que se manifesta sob emblemas ou símbolos externos, conserva o nome genérico de aparição. Quando ao contrário a inteligência chega a conhecer a coisa significada ou simbolizada por meio de emblemas visíveis ou acessíveis aos sentidos, tanto externos como internos, a manifestação milagrosa toma o nome de visão. Mas os fiéis e os teólogos não costumam levar em conta estas diferenças, que de qualquer forma não são fixadas de forma alguma; nós usaremos promiscuamente as duas expressões.

Durante visões ou aparições, Deus às vezes se agrada de comunicar verdades extraordinárias aos videntes. Se dá o nome de revelações privadas ou particulares a estas comunicações diretas, imediatas e pessoais que Deus faz a certas almas privilegiadas, quer seja para lhes dar um conhecimento mais claro dos mistérios propostos à fé comum dos cristãos, ou para lhes dar um vislumbre dos segredos do futuro, ou ainda para lhes revelar, no presente, coisas que são impossíveis de conhecer naturalmente, como os planos livres da Providência divina ou os segredos do coração, como para inspirá-los a realizar certos atos, que sendo diretamente úteis para indivíduos ou para um grupo isolado de pessoas, também retornam, pelo menos indiretamente, para a vantagem geral da Religião.

Se chamam revelações privadas ou particulares para distingui-las da grande revelação pública, também chamada de revelação canônica ou cristã. Esta última é a palavra de Deus manifestado aos Profetas e Apóstolos, e entregue por eles nos Livros Santos com a assistência do Espírito Santo, ou simplesmente transmitida através da Tradição. A Igreja recebeu do próprio Cristo o depósito da revelação pública com a tarefa de guardá-la fielmente, transmiti-la integralmente e interpretá-la autenticamente. Santo Tomás, e todos os teólogos com ele, ensinam que esta revelação é o único fundamento da fé católica: A nossa fé baseia-se na revelação feita aos Profetas e aos Apóstolos, que escreveram os livros canônicos, e não em qualquer revelação, que foi feito com os outros doutores” (2). É a expressão oficial e autêntica da autoridade: quem recusa o seu consentimento entra em estado de revolta contra Deus e naufraga na fé. Por outro lado, as iluminações privilegiadas, isto é, as revelações privadas, têm apenas um caráter relativo e oficioso, e em nenhum caso podem tornar-se a regra da fé católica. Esta observação é muito importante para determinar as nossas obrigações face às revelações privadas.

Diferentes tipos de visões

Deus pode comunicar seus pensamentos aos homens de diferentes maneiras. Se considerarmos as visões segundo o aspecto com que se apresentam às faculdades apreensivas – ratione subiecti – os teólogos místicos costumam distinguir três tipos de visões: visões sensíveis ou externas, visões imaginativas e visões intelectuais.

1) Diz-se que a visão é sensitiva ou externa, quando a causa sobrenatural ou superior que atua produz uma realidade externa, objetiva, que é o objeto imediatamente percebido pelo vidente. Este objeto se manifesta aos sentidos exteriores e, mais frequentemente, ao sentido da visão. Neste caso a ação sobrenatural não influencia imediatamente as faculdades apreensivas para causar uma impressão especial, mas determina um fenômeno objetivo, produz uma realidade externa, que é oferecida aos sentidos do vidente. Assim, quando Deus apareceu a Moisés na chama da sarça ardente, a aparição foi sensível e externa (3) . A visão de Baltazar era igualmente externa. O rei, durante a festa, viu os dedos de uma mão humana traçando as três famosas palavras na parede do salão de festas (4). Na mesma categoria parecem entrar as “vozes” Santa Joana D’Arc ouvia e as aparições com que Santa Bernadete foi favorecida na gruta de Lourdes: ela viu com os próprios olhos a Virgem, uma realidade externa que permaneceu invisível para os outros.

2) Se tem ao invés a visão imaginativa (5) quando resulta de uma ação direta e imediata de causa sobrenatural sobre a imaginação, quando o objeto que aparece não cai sob os sentidos externos, mas sob a imaginação. Esta faculdade, por meio de uma operação sobrenatural ou preternatural, recebe espécies, imagens, que representam de forma vívida e clara os objetos manifestados. Quando Ezequiel viu os ossos secos ganharem vida na planície de Sinar, ele teve uma visão imaginativa (6). Deve-se, no entanto, notar cuidadosamente que a visão imaginativa consiste não apenas nas imagens ou espécies comunicadas à imaginação, mas também na infusão de uma luz sobrenatural que nos fornece a inteligência exata da espécie (7).

A visão imaginativa é chamada de sonho quando ocorre durante o sono; mantém o nome de visão, quando ocorre no estado de vigília. A visão imaginativa ocorre principalmente no momento do êxtase, quando os sentidos externos estão quase completamente fechados à ação do exterior e isolados do mundo sensível externo. A alma é então dominada e absorvida total ou parcialmente pelos fantasmas da imaginação, de modo que as representações das coisas se tornam para o observador como as próprias coisas.

3) A visão enfim é chamada de intelectual quando é produzida direta e imediatamente na inteligência, sem a contribuição dos sentidos externos ou da imaginação (8). Consiste, portanto, numa manifestação clara e precisa feita imediatamente à inteligência. Os SS. Padres explicam com este tipo de visão o rapto de São Paulo ao terceiro céu, onde lhe foi dada a oportunidade de contemplar verdades sublimes sem a intermediação de imagens, palavras ou sinais.

Não é assim, porém, que a nossa inteligência se coloca naturalmente em relação com o seu objeto: naturalmente a contribuição de algum fenômeno de ordem sensível: palavra, sinal, imagem, é indispensável para operar. Contudo, concebemos que o próprio ato de inteligência por si independente desta ajuda externa. Não é, portanto, impossível que uma causa superior à natureza separe o ato intelectual do seu acessório sensível e o faça surgir em toda a sua pureza essencial; não é impossível que a alma seja imediatamente colocada na presença de certas verdades e o que acontece receber inteligência pela ação íntima do divino Mestre, que sabe fazer-se compreender sem falar. Mas a alma iluminada por esta luz sobrenatural nunca é despojada da sua natureza.

Também se dividem em três espécies, como as visões, também palavras sobrenaturais, e esta divisão corresponde à anterior. Temos então as palavras externas ou auriculares que são recebidas pelo ouvido, mas são produzidas de forma sobrenatural. As palavras imaginativas são igualmente compostas de palavras como as anteriores, mas são recebidas diretamente na imaginação sem o auxílio do ouvido. As palavras intelectuais não diferem substancialmente das visões intelectuais e são uma simples comunicação de pensamentos sem palavras e, consequentemente, sem o uso de uma linguagem particular. “Deus, diz Santa Teresa, inicia este modo de falar sem palavras, que é a linguagem da Pátria celeste” (9).

Causa das visões

Surge agora espontaneamente uma questão: De que natureza é a realidade externa que caracteriza, do ponto de vista psicológico, a aparição?

Antes de responder a esta pergunta devemos classificar separadamente as aparições de Cristo relatadas no Novo Testamento. Destinadas a colocar os Apóstolos e discípulos

Em grau de verificar o fato da Ressurreição, essas deviam normalmente comportar a presença do Salvador em seu próprio corpo. As formas externas que Jesus assumiu foram de facto diferentes – mostrou-se a Madalena na forma de jardineiro, aos discípulos de Emaús sob aquela de um viajante -: mas sempre Ele aparecia no seu verdadeiro corpo.

Em outros casos, três hipóteses são permitidas. Primeiro: presença externa no próprio corpo, da pessoa, que é percebida pelo vidente (visão pessoal). Segundo: presença externa da pessoa num corpo, digamos emprestado, sob símbolos e signos (visão impessoal). Terceiro: ação direta, sem intervenção de objeto, sobre o órgão dos sentidos (visão impessoal). Na primeira hipótese, a pessoa representada atua diretamente nos sentidos do vidente; na segunda hipótese não atua diretamente, mas através de outro corpo ou de um símbolo ou sinal, que é a causa eficiente do que acontece. Na terceira hipótese não existe mais um corpo verdadeiro, mas existem raios materiais, luminosos, semelhantes aos que o corpo teria emanado com a sua presença, através dos quais Deus atua sobre o vidente (10).

Passemos agora aos casos particulares. A primeira hipótese pode ser realizada nas aparições de Jesus Cristo antes e depois da Ascensão e nas de Nossa Senhora, ou seja, podem aparecer na realidade do seu corpo glorioso. Mas eles realmente aparecem assim? O assunto tem sido objeto de longas controvérsias. Suarez sustenta que em geral estas aparições são impessoais, isto é, não ocorrem na realidade do corpo de Jesus Cristo e de Nossa Senhora, mas através do ministério dos Anjos ou de alguma outra forma, sob algum símbolo ou sinal (11). Outros teólogos não gostam desta opinião, porque pensam que em tais aparições não há ação pessoal suficiente de quem aparece, que melhor salvaguarda a sua dignidade e verdade (12). Embora – para ser justo – deva ser dito que a verdade é segura mesmo no caso de visões impessoais, uma vez que o símbolo representa imediatamente a coisa significada. As aparições de Lourdes, explicadas através do ministério dos Anjos ou de outra forma, foram manifestações verdadeiras e reais da Virgem: de facto só ela foi representada e expressada através do sinal sensível (13).

Nas aparições de Deus não é certamente o próprio ser divino, a sua substância imaterial, que entra em contato direto e físico com os sentidos do homem que são faculdades orgânicas e materiais. Sua espiritualidade absoluta se opõe a isso. Deus recorre, portanto, a uma causa instrumental, a um intermediário material – forma humana ou outra – que lhe obedece e manifesta ao homem a presença de Deus, os seus pensamentos, a sua vontade. Nas suas aparições, nas famosas teofanias de que fala o Antigo Testamento, Deus se serviu do ministério dos Anjos. Também apareceu de forma simbólica de uma chama, de uma nuvem escura, de um sopro leve. O Espírito Santo desceu sobre Jesus em forma de pomba no rio Jordão após o seu batismo, e em línguas de fogo sobre os Apóstolos no dia de Pentecostes.

Os anjos, sendo espíritos puros, não podem manifestar-se senão através de símbolos. Na maioria das vezes eles apareciam, como lemos na Bíblia e na hagiografia cristã, em formas humanas. Esta forma de aparecer corresponde perfeitamente à finalidade de quem aparece, que é estabelecer relações com os homens, falar-lhes e instruir-lhes. Até o diabo muitas vezes se mostrava de forma sensível e humana. São famosas suas batalhas contra o grande Santo Antônio no deserto. Nos tempos modernos também são lembrados os visíveis ataques que lançou contra o Cura d’Ars. Fatos semelhantes também podem ser lidos na vida de São João Bosco (14).

Na categoria das aparições impessoais também entram as manifestações dos mortos. As comunicações espontâneas do além-túmulo, as mais numerosas e mais bem estabelecidas, referem-se ao momento da morte, como a de São Pedro de Alcântara a Santa Teresa. As comunicações autênticas através de evocações são muito raras. Uma célebre é a de Catarina, pecadora pública, evocada por São Francisco de Jerônimo para atestar ao povo napolitano que estava condenada ao inferno (15) .

Ministério dos Anjos em Visões

Das páginas anteriores pode-se concluir que os agentes comuns das visões são em sua maioria Anjos. Considere que insistimos um pouco neste ponto e de alguma forma determinamos a natureza deste ofício angélico.

Os Anjos, ainda que sejam espíritos puros, exercem todavia uma ação sobre a matéria. Naturalmente dotados de um poder excepcional, realizam efeitos que nos surpreendem com admiração e espanto, porque superam em muito o que podemos fazer. Os Anjos, segundo a doutrina de Santo Agostinho, de Santo Tomás e da Escola, conhecem através da penetração intelectual, forças e propriedades da natureza, que nos permanecem desconhecidas, eles podem combiná-las e utilizá-las com tanta habilidade e destreza, para fazer saltar do seio da natureza as maravilhas e os mistérios que ela contém. De tal inteligência e poder também são dotados os anjos maus. Todavia, se note que nem os anjos bons nem os maus podem operar à vontade. Os bons não exercem o seu poder exceto na medida em que Deus o ordena; os maus, apesar da perversidade das suas intenções, não operam senão da maneira e na medida que Deus o permite. Todas as ações que os Anjos realizam na natureza material e inanimada, todos os fenómenos gigantescos que conseguem produzir, limitam-se portanto a concorrer com as energias já existentes, como também o faz o homem, mas de uma forma muito imperfeita e mais restrita. em comparação com o operar angélico.

Mas qual influência os anjos têm sobre a natureza vivente e espiritual do homem? Notamos que todos os atos vitais, propriamente ditos, sensitivos ou intelectuais, escapam, em sua origem e essência, ao poder do anjo. A saber o anjo não pode obter imediatamente das nossas faculdades uma sensação, um ato, por meio do qual, por exemplo, nós ouvimos ou vemos algo; muito menos pode produzir o movimento íntimo de compreender e querer. O interior da alma racional é um santuário para o qual todo olhar estranho é um olhar profano. Assim, os anjos não podem sequer conhecer diretamente nossos pensamentos ou nossas determinações. Podem apenas ter-lhe uma informação indireta, interpretando os sinais, naturais ou arbitrários, com os quais revestimos os nossos pensamentos, deduzindo deles com maior ou menor probabilidade. Similarmente com meios externos os anjos podem provocar atos internos. É sabido que a visão de um objeto provoca uma reação correspondente: ora os anjos têm o poder de nos apresentar objetos seja através dos sentidos ou da imaginação. Aqui também eles meramente implementam agentes naturais e a influência que estes agentes receberam do Criador.

Falamos apenas do poder natural dos anjos que permaneceu intacto mesmo nos demônios após a queda. Contudo, Deus pode revestir os anjos bons de poder sobrenatural, ou seja, pode usar o seu ministério para realizar obras cujos elementos a natureza não contém. Mas neste caso, Deus é verdadeiramente a única causa eficiente, o anjo é apenas um instrumento.

A partir destas considerações é fácil compreender que tanto o anjo bom como o anjo mau podem exercer a sua influência nas visões externas sensíveis e nas visões imaginativas. Esses por meio da traslação ou formação repentina de corpos ou objetos, podem apresentar ao homem de forma vívida e abrupta um objeto externo, uma realidade corpórea, aparecendo-lhe de diversas maneiras sensíveis. Os teólogos estudam a maneira pela qual os anjos se unem aos corpos que tomam ou formam, e a natureza das operações que produzem com a ajuda desses corpos. Mesmo as visões imaginativas ou subjetivas caem sob o poder dos Anjos. Segundo o ensinamento comum dos teólogos, os espíritos rebeldes podem agir direta e imediatamente sobre a imaginação humana. O Cardeal Bona diz que até o diabo tem os seus profetas e sonhadores, em cuja imaginação ele toca e nela representa e sugere muitas coisas estranhas (16). S. Tomás, falando-nos das aparições subjetivas a obra dos anjos bons, indica-nos em que circunstâncias a aparição celeste seja exterior e em quais circunstâncias ela esteja ao invés encerrada no vidente (17). As visões intelectuais geralmente trazem em si mesmas, como dissemos, o selo de sua origem sobrenatural e, portanto, escapam ao poder dos anjos, os quais não eles não podem exercer nenhuma ação direta e imediata na inteligência e vontade.

Dizemos “geralmente”, porque as visões intelectuais às vezes também poderiam provir de poderes angélicos. É verdade, de fato, que as visões intelectuais são geralmente devidas à formação de novas espécies inteligíveis ou de ideias infusas; mas elas podem também resultar da atuação ou reprodução efetiva de espécies ou ideias adquiridas, as quais permaneceram num estado mais ou menos confuso na memória. Na primeira hipótese, as visões intelectuais são sempre devidas à ação imediata de Deus, o único que pode produzir ou criar espécies inteligíveis no intelecto; mas a ação natural dos anjos poderia ser suficiente para mover as espécies já existentes e a concentrar toda a atividade da inteligência num único ponto.

Neste caso, porém, como em todos os outros, o problema mais importante será sempre o de saber por quais sinais as visões ou aparições que vêm do céu podem ser distinguidas daquelas que são o resultado de alucinações e ilusões, ou são obra de espíritos malvados.

A atitude da Igreja

A Igreja possui, portanto, autoridade e poder para emitir um juízo autêntico sobre visões ou aparições, para aprovar ou condenar. Esta é uma verdade que não é contestada por nenhum verdadeiro católico. Na verdade, a Igreja recebeu de Cristo a missão de ensinar sem restrições e limites tudo o que diz respeito ao reino de Deus na terra e ao corpo místico de Cristo. Assim, para defender a verdadeira revelação, a verdadeira piedade contra falsas visões ou aparições, interveio muitas vezes ao longo dos séculos, quando acreditou ser apropriado. Podemos estabelecer nos seguintes pontos o seu pensamento e a sua atitude em relação às visões e revelações privadas.

A Igreja as tem como possíveis, porque ela jamais as descarta sistematicamente a priori quando são submetidas ao seu julgamento, mas consente em examiná-las. Negar a possibilidade seria negar a possibilidade do próprio milagre. Deus, manifestando-se na revelação pública, que obriga todos os homens, não perdeu o poder nem a liberdade de acrescentar, quando lhe apraz, certas manifestações de uma importância menos extensa e por vezes completamente individual.

A Igreja as crê também reais em certos casos, porque reconheceu e aprovou várias delas, tanto através de processos apropriados, seja nas investigações ocasionadas pelas canonizações de santos personagens, a quem foram feitas, seja com o aprovar e estabelecer festas litúrgicas e de devoção, que com elas têm relações especiais.

Todavia, ela não as considera frequentes, e as julga bastante difíceis de reconhecer devido às múltiplas ilusões que podem se misturar com eles. Por isso ele sempre as examina com extrema cautela, e quase poderíamos dizer com desconfiança.

E quando as aceita, considera-lhes necessariamente como subordinadas à revelação pública, da qual é guardiã, e quer que sejam também justificáveis ​​pela teologia, que é sempre chamada a julgá-las à luz da fé católica.

Em todo caso, são sempre consideradas estranhas ao depósito da revelação pública. A Igreja nunca considera a contribuição das visões ou aparições, qualquer que seja a sua importância, um aumento substancial na riqueza do seu dogma. Às vezes, elas serão capazes de trazer maior luz e esplendor mais vívido sobre verdades antigas ainda envoltas em sombras e trevas. Uma aparição extraordinária, uma revelação privada pode ser uma oportunidade providencial para a definição de uma verdade dogmática e a aprovação de uma nova devoção; nunca será seu alicerce. O verdadeiro fundamento é a harmonia observada desta verdade, desta devoção com o antigo dogma, do qual contém o desenvolvimento providencial; é a oportunidade daquilo que se diz nas aparições e revelações para as necessidades atuais do povo cristão.

Em todo caso, são sempre consideradas estranhas ao depósito da revelação pública. A Igreja nunca considera a contribuição das visões ou aparições, qualquer que seja a sua importância, um aumento substancial na riqueza do seu dogma. Às vezes, elas serão capazes de trazer maior luz e esplendor mais vívido sobre verdades antigas ainda envoltas em sombras e trevas. Uma aparição extraordinária, uma revelação privada pode ser uma oportunidade providencial para a definição de uma verdade dogmática e a aprovação de uma nova devoção; nunca será seu alicerce. O verdadeiro fundamento é a harmonia observada desta verdade, desta devoção com o antigo dogma, do qual contém o desenvolvimento providencial; é a oportunidade daquilo que se diz nas aparições e revelações para as necessidades atuais do povo cristão.

A esta sabia e prudente conduta da Igreja, nós teremos o olhar fixo em um ulterior desenvolvimento do nosso tema, no qual examinaremos e determinaremos em particular os critérios práticos para discernir as verdadeiras visões e aparições sobrenaturais.

Pe. Andrea Oddone, S.J. – La Civiltà Cattolica, Ano 99, Vol. I, Caderno 2344, Roma, 1948


Notas:

(1) Card. BONA, Tract. de discret. spir. , CXV, n. 2 .

(2) Summa Theol., p . I, q. I a. 8 ad 2.

(3) DANIEL, V, 5-6.

(4) Se diz imaginativa, ou, segundo outros, imaginária, não no sentido vulgar e comum de aparições falsas ou ilusórias, um puro engano dos sentidos, mas unicamente por razão da faculdade apreensiva, a imaginação, que é realmente modificada pela ação física de uma causa exterior.

(5) Êxodo, III.

(6) EZEQUIEL, XXXVII .

(7) Este ponto merece atenção. A diferença entre a visão sensível e imaginativa e a alucinação resulta não já de sua natureza, porque a visão sensível e imaginativa e alucinação fundamentalmente que acompanha as visões e do modo com o qual nossas faculdades são colocadas em movimento. Assim os sonhos divinos, como os sonhos dos Magos e aquele de São José (S. Mt 2, 12-13), não só vem de Deus, mas são também acompanhados por uma luz especial que não deixa alguma dúvida sobre a sua origem e impulsiona a operar aquilo que foi imposto no sonho.

(8) BENTO XIV define a visão intelectual do seguinte modo « Est clarissima rerum divinarum manifestatio, quae in solo intellectu , absque figuris et imaginibus, perficitur » ( De Servorum Dei Beatificatione et Beatorum Canonizatione, lib. III, cap . L) .

(9) Vida escritta por ela mesma, c. XXVII, n . 6-7 . Cfr. POULAIN, Delle grazie di orazione. Torino, Marietti, 1926, p. 318.

(10) Já S. TOMÁS admitia que as visões sensíveis podiam resultar seja da verdadeira presença do objeto correspondente seja da alteração das faculdades sensíveis sem a presença do objeto ( Summ. Theol. , p. III , q. 76 a. 8. Cfr. DE BONNIOT, L’allucination in Etudes, 1874, XXXI, 821 ).

(11) De Angelis, 1. VI c. 21. Cfr. S. TOM. , Summ. Theol. , p. III , q. 57a. 6 ad 3.

(12) Veja a questão discutida em POULAIN, Sobre as graças da oração, o. c. , P. 335.

(13) De resto os autores da psicologia mística observam que acerca da natureza íntima das formas que tomam os espíritos no aparecer a nós, é impossível chegar a certezas absolutas. Se procede por conjectura.

(14) A respeito das aparições do demônio e das almas dos defuntos durante as seções espíritas acreditamos que exista muito exagero. Se veja ANTONELLI, Spiritismo e fenomeni medianici, Roma, Pustet, 1907. Cfr. HEREDIA, Spiritism and Common sense. New Nork, Kenedy, 1922 .

(15) Cfr. D’ARIA, Un restauratore sociale , Roma, Edizioni italiane, 1943. v. I , p. 398.

(16 ) Habet quoque diabolus prophetas suos et somniatores. quorum ipse phantasiam commovet, multaque in ca repraesentat ac suggerit » (Tract. de discret. spir. , CXVI) .

(17) Summ. Theol. , p. III , q . 76 a . 8. O Santo Doutor trata do caso das aparições eucarísticas na forma, por exemplo, de uma criança. “O que se vê nestas aparições não é a própria figura de Cristo, mas uma imagem formada por milagre quer nos olhos de quem vê, quer nas próprias espécies sacramentais” (Cfr. DE BONNIOT, De la cause des apparitions, in Études, 1877. XXXVII, 640).