30/06/23 – 35 ANOS DAS SAGRAÇÕES EPISCOPAIS EM ÉCÔNE

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Preferimos continuar na Tradição, esperando que essa Tradição reencontre seu lugar em Roma, esperando que ela reassuma seu lugar entre as autoridades romanas, em suas mentes” — Mons. Marcel Lefebvre

Introdução de Michael J. Matt (editor de Remnant) – Tradução Dominus Est

Em 1976, quando eu tinha dez anos, fui crismado pelo Arcebispo Marcel Lefebvre. Lembro-me de um homem bondoso e santo, de fala suave e verdadeiramente humilde. Mesmo ainda sendo crianças, meus irmãos e eu entendemos que ali estava um verdadeiro soldado de Cristo, que assumira uma posição corajosa e solitária em defesa da sagrada Tradição, em um momento em que não havia nada mais “hip” do que novidade e inovação. Nosso pai estava junto a ele, e esses homens eram “traddies” muito bem antes de “traddy” ser algo legal.

Lembrem-se que o mundo inteiro estava passando por um revolução na época — sexual, política, litúrgica, cultural — e “não havia nada mais antiquado do que o passado“. A resistência solitária dos primeiros tradicionalistas pôde, então, ser comparada a algo tão absurdo (aos olhos do mundo na época) como um homem na lama em Woodstock que insistisse para que os hippies colocassem suas roupas de volta e parassem de tomar ácido e fumar maconha. Ninguém se importava. Eram zombados, riam deles e, por fim, mandados que saíssem da Igreja.

Os tempos estavam realmente ‘mudando’, e com poucas exceções, o elemento humano da Igreja de Cristo acompanhou a loucura — com efeito, poder-se-ia dizer, liderando o caminho.

Quando nos lembramos do motivo desses homens terem resistido à loucura dos anos 60, lembremo-nos de que eles não foram motivados principalmente pela ideia de salvaguardar suas próprias circunstâncias. O Arcebispo Lefebvre, por exemplo, estava aposentado antes que o mundo descobrisse quem ele era. Ele foi persuadido a sair de sua aposentadoria por seminaristas que, de repente, viram-se cercados por lobos em pele de cordeito, nos próprios seminários. Os modernistas estavam, literalmente, em toda parte.

Lefebvre não estava tentando ganhar fama. Ele era um filho leal da Igreja, tentando cumprir o seu dever perante Deus e a Igreja a qual ele havia servido durante toda a sua vida. É importante lembrar disso, e situar o Arcebispo no contexto daquela época.

Ele não era um blogueiro. Ele não estava falando para um canal de TV na Internet. Ele não estava buscando cliques. Ele era um príncipe sério da Igreja — altamente considerado por vários Papas e o chefe de uma grande ordem religiosa — que viu a ascensão do modernismo ao poder como o cumprimento de uma profecia e uma terrível advertência dada à Igreja meio século antes pelo Papa São Pio X. Assim, o nome da Fraternidade de Lefebvre.

Este artigo pode ajudar àqueles católicos que não estavam presentes a entender melhor o que levou esses gigantes católicos a se oporem à revolução na Igreja que eles amavam acima de tudo, como lhes partiu o coração ter que resistir, até mesmo a alguns dentro do próprio Vaticano, quando o seu belo mundo católico estava desabando ao redor deles; e como tudo o que eles faziam era defender os ensinamentos infalíveis da Santa Mãe Igreja e sua antiga liturgia que se encontravam, em todo lugar, sob ataque.

Lefebvre foi o Atanásio da Igreja em nosso tempo, e um dia será canonizado. Michael Davies pensava assim, e também não tenho dúvidas disso. O Papa Francisco, mais do que qualquer outro Papa, inadvertidamente desmascarou o verdadeiro espírito do Vaticano II, tornando claro o motivo pelo qual aqueles que resistiram a esse espírito estavam certos em fazê-lo.

O escrito a seguir deixa absolutamente claro que tudo o que ele fez foi parte de uma defesa emergencial do Reino de Nosso Senhor Jesus Cristo (ignorada completamente pelo Concílio Vaticano II) e uma última batalha desesperada pela Tradição, pelos ensinamentos infalíveis da Mãe Igreja e, claro, por sua antiga liturgia.

Por favor, abram suas mentes para o que realmente aconteceu… e continuem lendo. MJM

* * *

Sagrações Episcopais – 30 de Junho 1988

Excelência, querido Monsenhor Castro Mayer, meus queridos amigos e irmãos:

Encontramo-nos aqui para uma cerimônia certamente histórica. Permitam-me, antes de tudo, dar-lhes algumas informações.

A primeira delas, talvez, cause-vos um pouco de estranheza, pois também me surpreendeu. Ontem à tarde tivemos uma visita, um enviado da Nunciatura em Berna, com um envelope contendo um apelo do Santo Padre, o Papa, colocando à minha disposição um carro que imediatamente deveria conduzir-me a Roma para me impedir de fazer essas sagrações hoje. Tudo isso sem me dizer o porquê, nem para onde eu deveria ir em Roma. Julgueis vós mesmos sobre a oportunidade e discernimento de tal solicitação!

Estive em Roma em diferentes ocasiões ao longo do último ano, inclusive por semanas inteiras, e o Santo Padre não me convidou para vê-lo. É verdade que teria ficado feliz em vê-lo se algum acordo tivesse sido finalizado. Portanto, eis aqui a informação. Eu a comunico aos senhores simplesmente, tal como soube, ontem, por  meio de uma carta da Nunciatura.

Agora, passo a dar-vos algumas informações sobre o significado da cerimônia, e outros aspectos a ela concernentes.

Os futuros Bispos que serão sagrados, já prestaram, pessoalmente, diante de mim, o juramento que se encontra no pequeno ritual que, creio, muitos de vós adquiristes para seguirdes a cerimônia de consagração dos Bispos. Portanto, já se prestou este juramento, além do juramento anti-modernista, como se prescrevia em outro momento para a consagração dos Bispos, juntamente com a profissão de fé. Eles já fizeram esses dois juramentos e essa profissão de fé na minha presença, depois de alguns curtos exercícios em Sierre nestes últimos dias. Não vos surpreendais se começarmos imediatamente pelo questionamento da fé, a fé que a Igreja pede aos que serão consagrados.

Em seguida faço-vos saber, também, que depois da cerimônia poderão, é claro, pedir a benção desses Bispos e beijar-lhes o anel. Não é habitual na Igreja beijar as mãos dos Bispos como se beijam as mãos dos novos sacerdotes, tal como o fizeram ontem. Em vez disso, pede-se a eles a bênção e se lhes beija o anel.

Por fim, estão à vossa disposição uma série de livros e panfletos que contêm todos os elementos que podem fazer-vos entender o porquê desta cerimônia, aparentemente feita contra a vontade de Roma, absolutamente não é, de forma alguma, um cisma. Não somos cismáticos. Se os Bispos da China, separados de Roma e sujeitos ao governo chinês, foram excomungados, compreende-se muito bem por que o Papa Pio XII os excomungou. Absolutamente, não se trata entre nós de separar-nos de Roma e submeter-nos a qualquer poder estranho a Roma, ou formar uma espécie de Igreja paralela como fizeram, por exemplo, os bispos de Palmar de Troya, na Espanha, nomeando um papa e formando um colégio cardinalício. Está fora de questão fazermos essas coisas. Longe de nós esse pensamento miserável de nos separarmos de Roma!

Pelo contrário, realizamos essa cerimônia para manifestar nossa união com Roma. Para manifestar a nossa união com a Igreja de sempre, com o Papa e com todos aqueles que precederam esses Papas que, desde o Concílio Vaticano II, infelizmente, acreditavam que deveriam apoiar os grandes erros que estão em processo de destruir a Igreja e destruir o sacerdócio católico.

Precisamente encontrareis entre essas brochuras, que estão à vossa disposição, um estudo verdadeiramente admirável elaborado pelo professor Georg May, presidente do seminário de Direito Canônico da Universidade de Mayence, da Alemanha, na qual ele explica maravilhosamente por que estamos no caso de necessidade, para que possamos vir em socorro de vossas almas, em vosso socorro. Penso que vossos aplausos de alguns momentos atrás foram uma manifestação espiritual que traduziam a vossa alegria por terdes Bispos e sacerdotes católicos que se dedicam à salvação de vossas almas, que deem a vossas almas a vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, através da boa doutrina, dos sacramentos, da fé e do Santo Sacrifício da Missa.

A vida de Nosso Senhor, da qual tendes necessidade para irdes para o Céu, está desaparecendo por todas as partes nesta Igreja conciliar. Ela segue por caminhos que não são caminhos católicos, que levam à apostasia. Por isso fazemos essa cerimônia. Longe de mim o erigir-me em Papa. Não sou nada mais do que um Bispo da Igreja Católica que continua transmitindo a doutrina. TRADIDI QUOD ET ACCEPI. Penso, e certamente não tardará, que estas palavras de São Paulo poderão ser gravadas sobre o meu túmulo: TRADIDI QUOD ET ACCEPI, “Transmiti o que recebi”, nada mais. Eu sou um carteiro que traz uma carta. Não sou eu quem escreveu esta carta, esta mensagem, esta palavra de Deus; é Ele, Nosso Senhor Jesus Cristo. E quanto a nós, a temos transmitido, mediante estes queridos sacerdotes aqui presentes e através de todos aqueles que creram um dever resistir a esta onda de apostasia na Igreja, guardando a fé de sempre e transmitindo-a aos fiéis. Nós não somos nada mais do que os portadores dessa Boa Nova, deste Evangelho que Nosso Senhor Jesus Cristo nos deu, assim como os meios para nos santificarmos: a Santa Missa, a verdadeira Santa Missa, os verdadeiros sacramentos que realmente dão vida espiritual.

Parece que ouço, meus queridos irmãos, as vozes de todos estes Papas, desde Gregório XVI, Pio IX, Leão XIII, São Pio X, Bento XV, Pio XI e Pio XII, dizendo-nos:

Por caridade, por piedade, o que estais a fazer de nossos ensinamentos, de nossa pregação, da Fé católica? Ireis abandoná-la? Ireis deixá-la desaparecer deste mundo? Por caridade, por piedade, prossigais guardando esse tesouro que oferecemos. Não abandoneis os fiéis, não abandoneis a Igreja! Continuai trabalhando pela Igreja! Afinal, desde o Concílio, o que condenamos é o que as autoridades romanas adotam e professam. Como isto é possível? Condenamos o liberalismo, o comunismo, o socialismo, o modernismo, “Le Sillon”. Todos esses erros que condenamos agora são professos, adotados, apoiados pelas autoridades da Igreja. É possível isto? A menos que façais algo para continuar esta tradição da Igreja que vos damos, tudo desaparecerá. A Igreja desaparecerá. Todas as almas se perderão.

Assim, encontramo-nos diante de um caso de necessidade. Nós fizemos tudo para que Roma compreenda que é necessário retornar a essa atitude do venerável Pio XII e de todos os seus predecessores. Nós escrevemos, fomos até Roma, falamos. Monsenhor Castro Mayer e eu enviamos cartas várias vezes a Roma. Tentamos, através destas conversações, por todos os meios, conseguir que Roma percebesse que, desde o Concílio, este aggiornamento, esta mudança que se produziu na Igreja não é católica, nem é conforme a doutrina de sempre. Este ecumenismo e todos esses erros, essa colegialidade, são contrários à fé da Igreja e estão a ponto de destruí-la. Por isso estamos convencidos de que, ao fazer esta sagração, obedecemos ao chamado desses Papas e, portanto, ao chamado de Deus, uma vez que eles representam o Senhor Jesus Cristo na Igreja.

E por que, Monsenhor, perguntam-me, o senhor não continuou com essas conversações que, no entanto, davam a impressão de chegar a um certo entendimento? Precisamente porque, ao mesmo tempo em que estampava minha assinatura no protocolo, naquele momento, o enviado do Cardeal Ratzinger, que me trazia este protocolo para assinar, em seguida, entregava-me uma carta na qual me solicitava-me para que pedisse perdão pelos erros que eu professava.

Se eu estou em erro, se ensino erros, está claro que devo ser trazido de volta à verdade, de acordo com aqueles que me enviam esse protocolo para ser assinado, reconhecendo eu os meus erros. Como se eles me dissessem: se ele reconhece os seus erros, nós o ajudamos a retornar à verdade. Que verdade é esta, segundo eles, senão a verdade do Vaticano II, a verdade desta Igreja conciliar? Portanto, é verdade que, para o Vaticano, a única verdade que existe hoje é a verdade conciliar, o espírito do Concílio, o espírito de Assis. Essa é a verdade de hoje. E não queremos isso por nada deste mundo.

Por esta razão, ao constatar a firme vontade das atuais autoridades romanas em fazer desaparecer a Tradição e conduzir o mundo inteiro a esse espírito do Vaticano II e para esse espírito de Assis, evidentemente preferimos nos retirar e responder: não, não podemos. É impossível. É impossível submeter-nos à autoridade do Cardeal Ratzinger, presidente desta comissão romana que deveria dirigir-nos. Seria colocar-nos em suas mãos e, portanto, nas mãos daqueles que querem levar-nos ao espírito do Concílio, ao espírito de Assis. Isso, simplesmente, não é possível.

Por esta razão, enviei uma carta ao Papa que lhe dizia muito claramente: “não podemos (aceitar esse espírito e essas propostas), apesar de todos os desejos que temos de estar em plena comunhão com Sua Santidade, dado esse espírito que agora reina em Roma e que querem nos comunicar; preferimos continuar na Tradição, guardar a Tradição, esperando que esta Tradição reencontre seu lugar em Roma, seu lugar entre as autoridades romanas e em suas mentes.”

Tudo isso durará o que Deus tenha previsto, não cabe a mim saber quando a Tradição obterá seus direitos em Roma, mas julgo que é meu dever fornecer os meios para realizar o que chamarei de Operação Sobrevivência, Operação Sobrevivência da Tradição. Hoje, este dia, é a Operação Sobrevivência. E se houvesse feito esse acordo com Roma, seguindo os acordos que havíamos assinado e pondo depois em prática esses acordos, teria realizado a Operação “Suicídio”. Assim, pois, não há escolha: devemos sobreviver! E é por isso que hoje, ao sagrar esses Bispos, estou persuadido a continuar, fazer viver a Tradição, ou seja, a Igreja Católica.

Sabeis bem, queridos irmãos, que não pode haver sacerdotes sem bispos. Quando Deus me chamar – o que certamente não demorará muito – de quem esses seminaristas receberiam o Sacramento da Ordem? Dos bispos conciliares, que, devido a suas intenções duvidosas, conferem sacramentos duvidosos? Isso não é possível. Então, quem são os bispos que verdadeiramente mantiveram a Tradição, que guardaram os sacramentos como a Igreja os administrou durante vinte séculos até o Concílio Vaticano II? Somos Monsenhor Castro Mayer e eu. Não posso mudar isso. É assim que as coisas são. Muitos seminaristas depositaram sua confiança em nós; eles sentiram que havia a continuidade da Igreja, a continuidade da Tradição. E eles vieram aos nossos seminários, apesar das dificuldades que encontraram, para receber uma verdadeira ordenação sacerdotal e para poder oferecer o verdadeiro sacrifício do Calvário, o verdadeiro sacrifício da Missa, e vos dar os verdadeiros sacramentos, a verdadeira doutrina, o verdadeiro catecismo. Esta é a finalidade de nossos seminários.

Não posso, em sã consciência, deixar estes seminaristas órfãos. Tampouco posso deixá-los órfãos, morrendo sem providenciar o futuro. Isso não é possível. Seria algo contrário ao meu dever.

Por esta razão, escolhemos, com a graça de Deus, sacerdotes da nossa Fraternidade que nos pareciam os mais aptos e que, ao mesmo tempo, estão em circunstâncias, lugares e funções que lhes permitem cumprir mais facilmente o ministério episcopal, dar a Confirmação a seus filhos e conferir ordenações em nossos vários seminários.

Parece-me que, com a graça de Deus, Monsenhor Castro Mayer e eu, teremos dado nesta consagração os meios para que a Tradição continue, os meios para os católicos que desejam permanecer na Igreja de seus pais, de seus avós, de seus antepassados. Eles construíram igrejas com belos altares, muitas vezes destruídos e substituídos por uma mesa, manifestando assim a mudança radical que ocorreu desde o Concílio com relação ao Santo Sacrifício da Missa, que é o coração da Igreja e o propósito do sacerdócio.

Então, queremos agradecer-vos por terdes vindo em tão grande número para nos encorajar na execução desta cerimônia. Voltemo-nos a Virgem Maria. Sabeis bem, queridos irmãos — tenho certeza de terdes sido informados — como Leão XIII, em uma visão profética que ele teve, revelando que um dia “a Sé de Pedro seria a sede da iniquidade”. Ele disse isso em um de seus exorcismos, chamado “O Exorcismo de Leão XIII“. Estaria ocorrendo hoje? Amanhã? Não sei. De qualquer forma, foi predito. A iniquidade pode ser simplesmente o erro. O erro é uma iniquidade: deixar de professar a Fé de sempre, não mais professar a Fé católica, é um grave erro; se há uma grande iniquidade, é precisamente essa! E eu acredito, verdadeiramente, que nunca houve uma iniquidade maior na Igreja do que Assis, que é contrária ao primeiro mandamento de Deus e contrária ao primeiro artigo do Credo! É algo tão incrível que uma coisa assim possa ter sido realizada na Igreja diante dos olhos de toda a Igreja – que humilhação! Nunca sofremos humilhação semelhante. Tudo isso pode ser encontrado no pequeno livro do Pe. le Roux, que foi editado especialmente para vos proporcionar todo tipo de informação sobre a atual situação de Roma.

Não apenas o bom Papa Leão XIII profetizou essas coisas, mas também Nossa Senhora. Ultimamente, o sacerdote responsável pelo Priorado de Bogotá na Colômbia, trouxe-me um livro que versa sobre as aparições de Nossa Senhora do Bom Sucesso, que tem uma igreja, uma grande igreja no Equador, em Quito, capital do Equador. Elas foram recebidas por uma freira logo após o Concílio de Trento, como você pode ver, há alguns séculos. Essa aparição é totalmente reconhecida por Roma e pelas autoridades eclesiásticas; uma magnífica igreja foi construída para a Bem-Aventurada Virgem Maria, onde os fiéis do Equador veneram uma imagem Dela com grande devoção, e cujo rosto foi feito milagrosamente: o escultor modelava o rosto da Virgem, quando encontrou aquele rosto milagrosamente acabado. E Nossa Senhora profetizou para o século XX, dizendo explicitamente que durante o século XIX e a maior parte do século XX, os erros se tornariam cada vez mais difundidos na Santa Igreja, colocando a Igreja em uma situação catastrófica. A moral se corromperia e a fé desapareceria. Parece impossível não ver isso acontecendo hoje.

Peço desculpas por continuar o relato desta aparição, mas nela se fala de um prelado que se opõe totalmente a esta onda de apostasia e impiedade e preservará o sacerdócio preparando bons sacerdotes. Não digo que a profecia se refere a mim. Podeis tirar suas próprias conclusões. Fiquei estupefato ao ler essas linhas, mas não posso negá-las, pois estão registradas e depositadas nos arquivos dessa aparição.

Ademais, conheceis as aparições de La Salette, onde Nossa Senhora disse que Roma perderá a Fé, que haverá um “eclipse” em Roma; eclipse, notai bem o que isso pode significar vindo da Santíssima Virgem.

E, finalmente, o segredo de Fátima, mais perto de nós. Não há dúvida de que o terceiro segredo de Fátima devia aludir a estas trevas que invadiram Roma, essas trevas que invadem o mundo desde o Concílio. É por isso que, sem dúvida, o Papa João XXIII considerou oportuno não publicar o segredo, já que seria necessário que ele tomasse certas medidas e não se sentia capaz de mudar completamente as orientações que ele estava começando a dar em vista do Concílio e para o Concílio. Estes são fatos sobre os quais, parece-me, podemos também apoiar-nos.

Então, colocamo-nos nas mãos da Providência de Deus. Estamos persuadidos de que Deus faz bem todas as coisas. O Cardeal Gagnon nos visitou 12 anos após a suspensão: após 12 anos daquela primeira visita de Roma, tendo me suspendido e me proclamado fora da comunhão com Roma, contra o Papa, rebelde e dissidente, após isso a sua visita teve lugar. Ele próprio reconheceu que o que estamos fazendo é justamente o que é necessário para a reconstrução da Igreja. O Cardeal participou da Santa Missa pontifical celebrada por mim, em 8 de dezembro, pela renovação das promessas de nossos seminaristas. Eu estava supostamente suspenso e, no entanto, depois de 12 anos, eles praticamente nos entregam uma “tábula rasa”, dizendo-nos: Fizeram bem! Assim, fizemos bem em resistir!

Então estou convencido de que hoje nos encontramos nas mesmas circunstâncias. Nós realizamos um ato que, aparentemente — e, infelizmente, os meios de comunicação não nos ajudam a este respeito. As manchetes, é claro, serão “Cisma”, “Excomunhão”, à sua contenda, mas nós estamos convencidos de que todas essas acusações de que somos objeto, todas essas penalidades de que somos objeto são nulas, absolutamente nulas e sem efeito. É por isso que não fazemos nenhum caso delas. Da mesma forma como não levei em conta a suspensão “a divinis“, e acabei por ser parabenizado pela Igreja e por clérigos progressistas. Da mesma forma, dentro de alguns anos — eu não sei, só Deus conhece o número de anos que serão necessários para aquele dia em que a Tradição encontrará de novo os seus direitos em Roma — seremos abraçados pelas autoridades romanas, que nos agradecerão por havermos mantido a Fé em nossos seminários, em nossas famílias, nas sociedades civis, em nossos países, em nossos conventos e nas nossas casas religiosas, para a maior glória de Deus e para a salvação das almas.

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.