Fonte: Boletim Permanencia
Ainda está para ser escrita a relação entre os papas do século XX e as aparições de Nossa Senhora de Fátima: Bento XV era o papa no tempo das aparições, era por ele que as crianças ofereciam seus tão generosos sacrifícios; Pio XI foi o único expressamente mencionado nas aparições e Pio XII foi sagrado bispo precisamente no dia 13 de maio de 1917.
A relação continua com os papas do pós-concílio: João Paulo II, por exemplo, foi baleado no aniversário das aparições, também em um 13 de maio. E quem será aquele Papa e toda a gente ao seu redor, que Jacinta menciona?
– Posso dizer que vi o Santo Padre e toda aquela gente?
– Não. Não vês que isso faz parte do segredo e que por aí logo se descobria?
Num post recente comentamos como as aparições foram de certo modo preparadas pelos papas que imediatamente as precederam, e destacamos o papel de Leão XIII na promoção do Rosário. Mas há outra relação deste pontífice com as aparições, uma relação um tanto mais misteriosa, envolvendo também Portugal e uma consagração.
Escreveu o biógrafo Charles de T’serclaes:
“Há no mundo almas santas que recebem comunicações do Céu e, por vezes, o papa se torna confidente destas comunicações, de modo a não poder duvidar de que elas venham de Deus. O que o senhor diria se alguém lhe manifestasse um pensamento que tivesse guardado no fundo do seu coração, sem jamais o dar a conhecer a ninguém? Não veria nisto o sinal de uma intervenção divina? Pois foi isso o que ocorreu no que diz respeito à Consagração do gênero humano ao Sagrado Coração de Jesus.”
Desde o início do seu pontificado, Leão XIII desejava no seu íntimo consagrar toda a humanidade ao Coração de Jesus, mas faltava-lhe algum indício de que essa era a vontade do Céu. Faltava-lhe um sinal da Providência.
Ora, esse sinal veio por intermédio de uma freirinha de enorme santidade, vivendo na cidade do Porto, em Portugal — o seu nome era Maria do Divino Coração e seu corpo está incorrupto. A freira viu Nosso Senhor, que lhe ordenou escrever ao Papa pedindo precisamente essa consagração.
Não foi sem dificuldades, claro. Primeiro era preciso convencer o seu confessor a lhe permitir o envio da correspondência — este só se deixou dobrar após ter visto a irmã suportar terríveis enfermidades de modo verdadeiramente heróico. Segundo, e mais difícil, era preciso convencer o próprio Papa.
Podemos imaginar o gosto com que Leão XIII recebeu as cartas de Portugal. No entanto, ele jamais teria se movido à realizar a consagração se algo a mais não tivesse intervindo: entre outras revelações, a religiosa escreveu que era o Sagrado Coração que preservava a vida do Papa.
Ora, por esse tempo, o pontífice teve de ser submetido a uma cirurgia secreta de alto risco, sendo-lhe extraído um tumor do tamanho de uma laranja. A recuperação foi extraordinária, apesar da sua idade avançada, e Leão XIII compreendeu que era preciso atender o pedido que o Céu lhe fazia.
Foi assim que, às vésperas do início do século XX, ocorreu de modo mais solene — num tríduo, com ampla participação popular — a consagração do gênero humano ao Sagrado Coração de Jesus. Todas as igrejas e catedrais foram associadas ao ato.
Leão XIII viria a qualificar esse evento como o mais importante do seu pontificado – o que, vindo da boca do autor de “Libertas” e “Humanum Genus”, não é dizer pouco! Dizia ele: “Eu sei que esse ato apressará para o mundo as misericórdias que nós esperamos.”
Essas misericórdias vieram e, se as tivéssemos de resumir em cinco letras, diríamos: S-A-R-T-O. Trataremos do assunto num próximo post.