A HISTÓRIA DA ORAÇÃO DO ÂNGELUS

O Angelus deriva seu nome das primeiras palavras que evocam o relato da Anunciação: Angelus Domini nuntiavit Mariæ: “o Anjo do Senhor anunciou a Maria”… que ela seria a mãe do Salvador. É, tradicionalmente, recitado pela manhã, ao meio-dia e à noite, por exemplo, antes das refeições.

Fonte: FSSPX Ásia – Tradução: Dominus Est

De acordo com uma placa na catedral de Saintes (Charente-Maritime), a origem dessa oração pode ser atribuída a esse local: “Foi a partir dessa basílica que o Ângelus se espalhou para conquistar o mundo. Em 1095, no Concílio de Clermont, o Papa Urbano II solicitou que os sinos das catedrais e das igrejas da cristandade fossem tocados, de manhã e à noite, para que fossem feitas orações à Virgem Maria pelo sucesso da Primeira Cruzada, conhecida como a Cruzada dos Pobres”. Naquela época, o Ângelus consistia apenas na simples recitação de três Ave-Marias pela manhã e à noite. Invocar a Mãe de Deus com a Saudação Angélica não era algo insignificante, pois os muçulmanos rejeitavam precisamente o mistério da Encarnação e, consequentemente, a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Rezar por eles, e mesmo em seu nome de certa forma, só poderia trazer-lhes graças da conversão.

Após o término da Primeira Cruzada, a Catedral de Saintes continuou a tocar seus sinos e a fazer orações de manhã e à noite. Dois séculos depois, o papa francês João XXII recomendou que esse piedoso costume fosse estendido à Igreja universal (Bula Quam pium quam delicium, 13 de outubro de 1318, e Saluternum illud, 3 de maio de 1327).

Mais um século se passaria, e após um novo desastre na cristandade, essa oração também seria feita não apenas pela manhã e à noite, mas também ao meio-dia. O ano de 1453 marcou, de fato, a queda de Constantinopla para os turcos e o fim do Império Bizantino. Essa vitória não deteve o líder otomano, Mehmed II. Travando uma guerra implacável contra os venezianos e genoveses ainda presentes no Mediterrâneo Oriental, ele logo obteve uma vitória após a outra. Assim, em 1456, para enfrentar essa ameaçadora expansão do Islã, o Papa Calisto III estendeu a recitação das três Ave-Marias não apenas para a manhã e a noite, mas também para o meio-dia, “pela conversão do Islã e pela paz”. Essa prescrição foi renovada pelos papas Sisto IV (1476) e Alexandre IV (1500).

Será que essa oração deteve o Islã às portas da Europa? É possível supor que sim. De fato, enquanto Mehmet II havia tomado posse de algumas ilhas venezianas no Adriático (1479), um de seus vizires desembarcou na Itália e conquistou Otranto (12 de agosto de 1480), massacrando 12.000 vítimas. Mas em 1481, Mehmet II teve um mal subto, atingido por uma doença desconhecida. Ele tinha apenas 49 anos. Sua morte e a disputa sucessória que se seguiu marcaram o fim das conquistas muçulmanas em terras europeias. Não seria irracional pensar que o Ângelus de Calisto III desempenhou um papel nesse fato…

Mas o Ângelus só tomou sua forma final, como o conhecemos hoje, sob o Papa da vitória em Lepanto (1571), São Pio V. A fórmula atualmente em uso apareceu pela primeira vez na revisão do Pequeno Ofício da Bem-Aventurada Virgem Maria, solicitada por este papa dominicano. Essa breve história nos lembra como, neste século 21, a oração do Ângelus continua relevante. Rezar dessa forma à Santíssima Virgem Maria pela manhã, ao meio-dia e à noite, recordando o mistério da Encarnação, é uma maneira poderosa de pedir a conversão dos muçulmanos e a paz.

Pe. Patrick de la Rocque, FSSPX

℣. O Anjo do Senhor anunciou a Maria: 

℟. E ela concebeu do Espírito Santo. 

Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendita sois vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus.
Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém.

℣. Eis a escrava do Senhor, 

℟. Faça-se em mim segundo a vossa palavra. Ave Maria…

℣. E o Verbo se fez carne, 

℟. E habitou entre nós. Ave Maria…

℣. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus, 

℟. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

Oremos: Infundi, Senhor, em nossas almas a Vossa graça, para que nós, que conhecemos, pela Anunciação do Anjo, a Encarnação de Jesus Cristo, Vosso Filho, cheguemos, por sua Paixão e morte na cruz, à glória da Ressurreição. Pelo mesmo Jesus Cristo Nosso Senhor. 

℟. Amém.