A IGREJA, MESTRA DA FÉ E DA LITURGIA

A liturgia não é uma questão de gosto pessoal. Nossas razões para amar a Missa de sempre são eminentemente mais profundas.

Fonte: L’Aigle de Lyon n° 377 – Tradução: Dominus Est

Existe uma relação necessária entre o culto e fé. A liturgia traduz o dogma em fórmulas, em gestos. Santo Agostinho afirma que a liturgia é a expressão pública de nossa fé. As festas litúrgicas são, de certa forma, um Credo recitado em um ano: a Natividade, a Paixão, a Santíssima Trindade, a Eucaristia… É através da liturgia que nos elevamos a Deus e que professamos a fé católica. A forma como rezamos diz muito sobre nossa fé. O Cardeal Journet disse: ” A liturgia e a catequese são as duas mandíbulas da tenacidade com que se arranca a fé”.

Não basta professar sua fé de forma privada. Nas palavras do Papa Pio XII: “ A liturgia é o culto público que o nosso Redentor presta ao Pai como chefe da Igreja. É também o culto prestado pela sociedade dos fiéis ao seu fundador e, através dele, ao Pai Eterno: é, numa palavra, o culto integral do Corpo Místico de Jesus Cristo, isto é, da Cabeça e seus membros. (1). A liturgia constitui uma função vital de toda a Igreja e não apenas de um determinado grupo ou movimento. A Igreja, como sociedade, presta o culto devido a Deus. Com efeito, o homem não é um elétron livre, nem os movimentos existentes nas paróquias são independentes. Pertencemos à Igreja e, por conseguinte, devemos rezar e professar nossa fé como membros desta sociedade que é a Igreja.

Por conseguinte, as regras litúrgicas só podem depender da autoridade da Igreja. Ela é a guardiã da fé. A Igreja recebe, então, a tarefa de zelar pela santidade do culto divino. As cerimônias, os ritos, os textos, os cantos estão sujeitos à autoridade da Santa Sé. Assim, os papas sempre acompanharam de perto os diferentes ritos, proibindo uns e permitindo outros. Entre os vários Dicastérios da Cúria Romana, existe um que rege a liturgia desde 1588: a Sagrada Congregação dos Ritos. Ela está envolvida na publicação de livros litúrgicos e na preocupação com a unidade litúrgica. Daí a sua vigilância atenta que evita abusos e desvios. Que nossos leitores fiquem tranquilos, uma reforma só é legítima na medida em que conduz ao bem comum. O Papa não pode fazer o que quiser com a liturgia.

Além disso, o sacerdote que celebra a Missa age em nome da Igreja. É assim que o homem se aniquila diante das exigências litúrgicas, de modo que deixe aparecer apenas o ministro da Igreja, apagando todas as suas peculiaridades singulares e pessoais. Como as ações litúrgicas não são ações privadas, sua disciplina depende unicamente da autoridade hierárquica da Igreja. É por isso que não é permitido a ninguém, nem mesmo ao sacerdote, ou qualquer grupo, acrescentar, remover ou alterar qualquer coisa por iniciativa própria. Como podem ver, a liturgia não é uma questão de gosto pessoal. Não preferimos a Missa tradicional apenas por razões estéticas ou porque é mais comovente do que a nova liturgia resultante do Concílio Vaticano II. Portanto, não há liberdade a ser reivindicada em matéria de liturgia.

Quanto a nós, nossas razões para amar a Missa de sempre são eminentemente mais profundas. Sem dúvida, a estética é um aspecto importante que pode nos comover, mas o essencial é a fé transmitida pela liturgia. Defendemos a Missa tradicional não porque seja mais antiga, mas porque exprime a integridade da fé. É assistindo a liturgia que nossa fé conhecerá um novo impulso. Afastemos o hábito rotineiro de ir à missa, mas participemos dela com fervor, seguindo com curiosidade as cerimônias.

Pe. Cyrille Perriol, FSSPX

 (1) Pio XII, Encíclica Mediator Dei