A ORAÇÃO DE ADORAÇÃO

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A mais perfeita, a mais gloriosa para Deus, aquela onde mais plenamente praticamos nosso ofício de criatura.

Fonte: La Couronne de Marie n°106 – Tradução: Dominus Est

Podemos voltar nossa alma a Deus na oração para diferentes propósitos ou intenções. No entanto, um dos fins da oração é mais alto que os outros: é a adoração.

Podemos rezar para agradecer a Deus, ou implorar seu perdão, ou ainda pedir as graças de que precisamos. Mas podemos ver que, nessas diversas formas de oração, o pensamento se volta para aquele que reza, enquanto na adoração, aquele que reza esquece completamente de si mesmo para pensar somente em Deus.

Se dou graças, é porque recebi. Se imploro misericórdia, é porque pequei. Se peço, é porque preciso. O bem da minha pessoa não está ausente da minha oração. Na oração de adoração ou louvor, aquele a quem dirijo a oração é o único envolvido. Aquele que reza, desaparece, por assim dizer. Ele não pensa em si mesmo, não se considera: Gloria in excelsis Deo, glória a Deus no céu. Senhor, nós vos louvamos! Senhor, nós vos bendizemos! Senhor, nós vos adoramos!

♦ Isso não significa que outras formas de oração devam ser evitadas ou que não sejam boas. As orações de agradecimento, de pedido de perdão ou de outras graças são belas, são legítimas, são necessárias à nossa condição de criaturas, e sobretudo à nossa condição de homens, ainda peregrinos nesta terra. Vemos isso claramente nas orações da Igreja (ela que nos ensina a rezar), que muito frequentemente são orações de súplica.

Mas a oração de adoração é, em si, a mais perfeita, a mais gloriosa para Deus, aquela em que mais plenamente praticamos nosso ofício de criaturas, porque todos nós nos aplicamos a cantar ao Criador.

Porque a súplica surge mais instintivamente, tendemos a esquecer o louvor, a adoração. É muito desejável, por vezes, sair da oração interessada e elevar-se à oração desinteressada, praticar seus atos de vez em quando, tentar colocar em primeiro plano na vida espiritual, a oração de adoração e o louvor. Deus não é apenas um benfeitor que buscamos, uma espécie de enfermeiro superior cuja consolação buscamos cada vez que nos encontramos sofrendo. Ele é, antes de tudo, a soberana Majestade.

Quanto mais uma alma se aproxima de Deus e está em contato com Ele, mais de boa vontade ela se detém nos primeiros pedidos do Pai Nosso: “Santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade”. O que ela precisa para falar sobre si mesma? A Deus, ela prefere falar de Deus.

Pensemos no que Deus é em si mesmo, antes de pensarmos no que ele é para nós. Antes de ser Criador, Providência, distribuidor de benefícios, ele é Deus.

Deus, como Deus, é a consideração final, o ponto culminante. Se elevamos o cântico de nossa alma a Deus, é porque compreendemos o que Deus é em si mesmo e o quanto ele merece nosso respeito e louvor. Esta é a melhor maneira de nos preparar para nossa eternidade. De fato, o que faremos no céu por toda a eternidade? Adoraremos e louvaremos a Santíssima Trindade, infinitamente adorável, infinitamente boa, infinitamente misericordiosa, infinitamente gloriosa. Adoração e louvor a Deus – com amor, é claro – ocuparão o primeiro lugar em nossas almas.

♦ Podemos distinguir entre adoração afetiva e adoração efetiva.

Adoração afetiva é aquela que se expressa, se manifesta por palavras, impulsos do coração, aspirações da alma. Vamos dar dois exemplos de orações que vêm de santos.

Primeiro, uma oração que São Francisco de Assis, todo em chamas de amor, recitava várias vezes ao dia, e recomendava que clamássemos amorosamente ao céu : “Onipotente, santíssimo, altíssimo e soberano Deus, que sois todo o bem, o sumo bem, a plenitude do bem, que só vós sois bom (cf. Lc 18-19), nós vos tributamos todo o louvor, toda a glória, toda a ação de graças, toda a exaltação e todo o bem.

E aqui está uma bela oração de Santa Matilde: “Senhor, vós sois a Sabedoria Eterna, que conhece todas as coisas no céu e na terra. Só vós vos conheceis perfeitamente e em plena luz: nenhuma criatura pode compreender-vos. Ó Deus, sois grande e incompreensível em vossa onipotência. Tudo, no céu e na terra, juntos, não podem ser suficientes vos louvar perfeitamente.

Diz-se que Santa Teresa de Ávila quase desmaiava quando ouvia, no Credo da Missa, o cujus regni non erit fini, “cujo reino não terá fim“, tão ardente era seu zelo pela honra de Deus.

A adoração efetiva se manifesta nos atos da vida, no serviço fiel, amoroso e dedicado.

Pois dizer que adoramos ou que amamos é bom. Mas mostrá-lo por atos e, se necessário, por atos que custam, eis a adoração perfeita.

A adoração efetiva é, por exemplo, a da Virgem Maria no dia da Anunciação: “Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa palavra”. O Altíssimo precisa de alguém para servir? Ele pode contar comigo, deixe-me levar, aqui estou!

“Nem na terra, nem no mundo dos anjos, jamais houve um ato de adoração tão digno de Deus como este consentimento de Maria, como esta conformidade de sua profunda humildade á magnífica e todo-poderosa vontade divina. (Pe. Faber)

♦ O modelo mais perfeito de adoração é o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo.

Como Verbo, habitando eternamente nos esplendores do céu, o Filho de Deus se viu incapaz de adorar. Para adorar, é preciso ser inferior. Agora, dentro da Trindade divina, as três pessoas são perfeitamente iguais, não há superior nem inferior. O Filho, igual em tudo ao Pai, pode amar, mas não pode adorar.

Isso exigirá a encarnação. Como homem, ele se tornará inferior e poderá adorar seu Pai.

Só Ele, Jesus Cristo, pode adorar a Deus como merece ser adorado, glorificá-lo como merece ser glorificado, isto é, infinitamente. Deus e homem, ele é simultaneamente infinito e inferior. Inferior, ele pode adorar; infinito, adorar infinitamente. A Encarnação trouxe este resultado: um Deus capaz de adorar; e como Pessoa Divina, adorar infinitamente. Ele foi capaz de proporcionar ao Pai uma adoração infinita.

♦ Por nós mesmos, somos absolutamente incapazes de prestar qualquer adoração significativa a Deus. O que uma ínfima criatura pode fazer por seu autor?

E, no entanto, devemos adorar, é nossa função de criatura. Nós podemos? Quero dizer de uma forma que não é insignificante, imperceptível?

Sim, nós podemos. Se rezarmos por Jesus Cristo, e nele. Então nossa adoração não será apenas uma adoração de criaturas, mas uma adoração onde o próprio Filho do Pai acrescenta o que nos falta para que o Pai possa ser dignamente glorificado. De humana, ele torna nossa oração divina, faz dela sua própria oração e, portanto, digna de Deus.

♦ A adoração suprema de Nosso Senhor foi a morte na cruz; foi ali que o Salvador reconheceu mais plenamente a majestade soberana de Deus. E cada Missa renova este ato de adoração. O auge desta adoração digna de Deus é, portanto, a Missa, onde o próprio Cristo adora o seu Pai. É por isso que cada Missa representa o ápice da adoração. Pensemos nisso quando assistirmos ao santo sacrifício. “Receba, Senhor, de vossas mãos este sacrifício, para louvor e gloria de seu nome…“, respondeis ao Orate, Fratres do sacerdote.

Pe. Hervé Gresland, FSSPX