Meditada pelo Padre Leonardo Castellani
“Ao terceiro dia ressurgiu dos mortos”: não significa dizer que Cristo Nosso Senhor tenha estado três dias no sepulcro, senão que, morto na Sexta-feira, ressuscitou e saiu do sepulcro no Domingo de manhã. Esteve no sepulcro por mais de 30 e menos de 40 horas.
A Ressurreição de Nosso Senhor é um acontecimento histórico, o evento sustentado com maior peso de testemunho histórico do que qualquer outro evento no mundo.
Os quatro evangelhistas narram os fatos do Domingo de Páscoa de forma totalmente impessoal, assim como o resto da vida de Cristo; não há exclamações, comentários, afetos, espantos ou gritos de triunfo. Os Evangelhos são quatro crônicas inteiramente excepcionais: o cronista registra uma série de eventos de maneira inteiramente enxuta e concisa. Aqui, os fatos são as aparições de Cristo revivido, as quais viram, ouviram e tocaram aqueles que iriam dar testemunho.
Este testemunho pode ser resumido brevemente pelas seguintes circunstâncias:
1° – São quatro documentos distintos, escritos em momentos diferentes e sem conivência mútua, cujos autores não tinham o menor interesse em fabricar uma enorme e incrível impostura, mas, pelo contrário, arriscaram a própria vida ao escrevê-los.
2° – Os Fariseus e Pôncio Pilatos não fizeram nada. Eles teriam que ter feito alguma coisa para criar uma impostura, e seria uma impostura facilíma de se inventar: bastava mostrar o cadáver. Depois julgar e condenar os impostores. Mas, ao invés disso, mentiram e usaram de violência para fazê-los calar.
3° – Na manhã de Pentecostes, os antes amedrontados apóstolos corajosamente saíram para pregar à multidão que Jesus era o Messias e que havia ressuscitado. Na multidão havia muitas testemunhas oculares das obras de Cristo, inclusive de Sua Paixão e Morte. A multidão acreditou nos apóstolos.
4° – No espaço de uma vida humana, por todo o vasto Império Romano havia grupos de homens que acreditavam na Ressurreição de Cristo, e se expunham aos piores castigos por crer e confessa-la.
5° – Três séculos depois, todo o Império Romano, ou seja, todo o mundo civilizado acreditou na Ressurreição de Cristo; e a religião cristã era a religião oficial de Roma; para chegar até aí, houve milhares e mesmo milhões de mártires, entre as quais as doze primeiras testemunhas que deram suas vidas em meio a tormentos atrozes. “Eu acredito em testemunhas que dão suas vidas” – disse Pascal no século XVII.
Claro que havia incrédulos no Império Romano: sempre os há. Contra eles, Santo Agostinho escreveu seu famoso argumento: “Os Três Incríveis”.
“INCRÍVEL é que um homem tenha ressuscitado dentre os mortos; INCRÍVEL é que tantos tenham acreditado nesse incrível; INCRÍVEL é que doze homens rudes, simples e plebeus, sem armas, iletrados e desconhecidos, tenham convencido o mundo, sábios e filósofos, daquele primeiro INCRÍVEL.
“O primeiro INCRÍVEL não queirais crer; no segundo INCRÍVEL, não tens outro remédio que constatá-lo; de onde tereis que admitir o terceiro INCRÍVEL. Mas esse terceiro incrível é uma maravilha tão assombrosa quanto a Ressurreição de um morto”
Assim dizia Santo Agostinho; e isso é o que o Concílio Vaticano I chamou de “o milagre moral” da Igreja.
Padre Leonardo Castellani, em “El Rosal de Nuestra Señora”, Buenos Aires, Ediciones Nuevas Estructuras, 1964 – páginas 103 a 105
Fonte: Permanencia