BOLETIM DO PRIORADO PADRE ANCHIETA (SÃO PAULO/SP) E MENSAGEM DO PRIOR – FEVEREIRO/23

Tableau : L'Imposition des Cendres

Caríssimos fiéis,

Aproxima-se um evento anual inevitável: o Carnaval. Vamos nos dar ao trabalho de abrir um pequeno manual litúrgico para saber mais sobre esta festa profana e o evento religioso que a acompanha: a Adoração das Quarenta Horas.

A palavra carnaval vem do latim “caro vale”, adeus à carne. Diz-se que a época do carnaval foi chamada assim porque precede a Quaresma, durante a qual, antigamente, a carne era completamente proibida. Diz-se que o entretenimento carnavalesco teve origem na Lupercália, que os pagãos celebravam em fevereiro em homenagem ao deus Pan, chamado Lupercus (do latim lupus, lobo) porque se acreditava que ele protegia os rebanhos da ira dos lobos. Durante esses festivais, os homens corriam cobertos de peles de cabra e mascarados, para que pudessem se entregar a todas as suas extravagâncias.

Assim, enquanto a Igreja procura desenvolver em nossas almas o espírito de penitência, a fim de nos preparar para os rigores da Quaresma, o mundo se entrega às loucas alegrias do carnaval.

Então, para reparar as desordens cometidas neste momento e para manter os fiéis longe deles, a Igreja convoca seus filhos para as orações das Quarenta Horas, aos pés de Nosso Senhor solenemente expostos nos altares.

Estas orações são assim chamadas por causa de sua duração. Elas ocorrem por 13 ou 14 horas no Domingo da Quinquagésima e nos dois dias seguintes, Segunda e Terça-Feira Gorda.

Estas orações foram inauguradas em Loreto durante o carnaval de 1556. Para reparar os escândalos causados por uma trupe de comediantes, os Padres Jesuítas, com a permissão do bispo, expuseram o Santíssimo Sacramento em sua capela esplendidamente decorada durante esses três dias. A prática das Quarenta Horas se espalhou rapidamente por todo o mundo católico.

Em nossa capela de São Paulo, a adoração não acontecerá em sua totalidade, mas vamos compensar esta falta redobrando nosso fervor durante os horários propostos.

No dia 22 de fevereiro, antes da missa, o Padre abençoará solenemente as cinzas dos ramos abençoados no ano anterior no Domingo de Ramos. Então ele colocará as cinzas na testa dos fiéis, fazendo o sinal da cruz e pronunciando as palavras que Deus falou a Adão depois de seu pecado: “Lembra-te, homem, que és pó e em pó te hás de tornar”.

A Igreja inaugura o tempo da Quaresma com a imposição das cinzas na quarta-feira da semana da Quinquagésima, chamada Quarta-feira de Cinzas por este motivo.

No Antigo Testamento, temos o exemplo dos habitantes de Nínive que fizeram penitência com cinza e cilícios. Da mesma forma, no início da santa quarentena, a Igreja quer humilhar nosso orgulho e nos lembrar da sentença de morte que devemos sofrer por causa de nossos pecados. As cinzas, de fato, na Sagrada Escritura são o emblema da humildade, da penitência e do nada do homem.

Para os cristãos, meditar sobre o nada do homem não leva ao desespero, como algumas filosofias pagãs. A morte que nos reduzirá a pó não é um fim. Assim, esta terra da qual o primeiro homem foi formado e para a qual voltaremos é apenas uma passagem. O santo Cura d’Ars expressa isso muito bem em seus catecismos: “A terra é uma ponte sobre as águas; serve apenas para sustentar nossos pés… Estamos neste mundo, mas não somos deste mundo, pois dizemos todos os dias: Nosso Pai que está nos céus… Devemos, portanto, esperar por nossa recompensa quando estaremos em casa, na casa paterna”.

As orações da missa da Quarta-Feira de Cinzas falam de medo por causa de nossos pecados, mas também de confiança no perdão, se estivermos determinados a fazer penitência. Recebamos as cinzas com humildade e contrição, e confiemos.

Padre Jean-François Mouroux, Prior

CLIQUE NESSE LINK PARA ACESSAR O BOLETIM COMPLETO DE FEVEREIRO