
Caros fiéis,
Quem é mais inútil do que uma criança? Não só não produz nada, como também consome. É preciso alimentá la, vesti-la, cuidar dela, protegê-la. Ela obriga a uma disciplina de vida: ter horários e estar disponível a qualquer momento. A sua presença exige sacrifícios: férias, carro, casa e lazer são reduzidos. Não é de se admirar, portanto, que a criança seja considerada, numa sociedade de consumo, um fardo. A taxa de fecundidade no Brasil é de cerca de 1,6 filho por mulher. Este número indica uma queda significativa na natalidade, sendo a taxa inferior ao limiar de reposição das gerações (2,1). O número de nascimentos anuais diminui, refletindo um rápido envelhecimento da população. No entanto, todos, especialmente os egoístas e os hedonistas, esperam uma velhice agradável; mas esta dependerá das crianças que nascem hoje. Os casais que recusam a vida, ou ignoram esta realidade, ou deixam o trabalho para outros…
Ter um filho e educá-lo é como plantar uma árvore. É um compromisso a longo prazo. Um tempo necessário para construir florestas e nações. A história da humanidade começou com a história de uma família, a dos nossos primeiros pais, Adão e Eva. A união de certas famílias entre si constituiu povos. A transmissão de territórios e culturas constituiu países. Os povos são imensas florestas compostas por múltiplas árvores genealógicas. Cada ramo, cada criança é suscetível de dar origem a uma nova árvore. Recebe a seiva vivificante e transmite-a com uma nova vitalidade. A tradição está no centro deste processo. Cada criança é um rebento, cada criança é uma riqueza para quem tem a humildade de se inscrever neste processo. Com efeito, a humildade é necessária para receber e o desapego é obrigatório para transmitir.
Tudo o contrário do individualismo promovido, no homem moderno, pelo primeiro orgulhoso do mundo: Satanás. A sua estratégia é simples. Para afastar os homens de Deus, ele provoca o amor desordenado pelos bens do mundo. Hoje em dia, fala-se do famoso «poder de compra». Supõe-se que esse poder dá independência. Numa sociedade que perdeu a fé, essa independência material rapidamente se transforma em rebelião espiritual contra Deus. Adeus humildade e desapego: «Serão como deuses». A bela promessa nunca traz um futuro promissor. Ela leva a uma dura escravidão. Hoje em dia, esse domínio sob a aparência de liberdade chama-se globalismo. Um novo império que não se inspira em nada no Evangelho. Um império que deseja dominar indivíduos isolados e manipuláveis. Um império que, consequentemente, prossegue com a destruição da família e das nações. Para ele, a criança não deve ser um elo de transmissão, mas uma ferramenta entre outras.
Pelo contrário, o nosso Salvador quis nascer criança no seio de uma família, herdeiro de uma linhagem real e filho do povo eleito. Humildade que recebe! Ele quis dar a sua vida para dar origem à grande família da Igreja. Sacrifício que fecunda!
Nosso Senhor Jesus Cristo quis vir entre nós como uma criança pequena, porque a infância resume maravilhosamente as disposições da alma que devemos desenvolver para nos tornarmos e permanecermos filhos de Deus. Essas disposições podem ser sintetizadas em uma palavra: inocência.
O demônio e os seus servos odeiam essa inocência. Eles procuram destruí-la por todos os meios. Citemos dois dos principais: a escola e a internet. Neste início de ano, queremos, portanto, encorajar todas as almas de boa vontade a apoiar as escolas católicas; as da Fraternidade e as abertas por leigos corajosos. Ninguém está sobrando nesta obra capital de restauração da sociedade cristã. Gostaríamos também que todos os adultos dessem às crianças o exemplo de um uso moderado das tecnologias digitais e que os pais não fossem cúmplices ingênuos, mas não menos criminosos, da destruição da inocência infantil, favorecendo o acesso à Internet aos seus filhos sem motivos graves.
Que o Menino Jesus proteja a infância e as famílias.
Os padres do priorado desejam-vos um bom e santo ano de 2026.
Padre Jean-François Mouroux, Prior