Caríssimos fiéis,
No calendário litúrgico tradicional, o mês de julho começa com a Festa do Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ela segue de perto a Festa do Santíssimo Sacramento, celebrada na quinta-feira seguinte à Santíssima Trindade. No calendário litúrgico moderno, a festa do Preciosíssimo Sangue desapareceu. Pensou-se que ela duplicava a festa do Santíssimo Sacramento e que não era necessário mantê-la. A festa do Santíssimo Sacramento foi chamada “do Corpo e Sangue de Cristo”.
É verdade que todo o Cristo está presente na Santa Hóstia; com seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade.
Também é verdade que a festa do Preciosíssimo Sangue é relativamente recente, pois foi instituída pelo Papa Pio IX em 1849 para agradecer a Deus por sua vitória sobre a revolução italiana que o havia expulsado de Roma. Inicialmente marcado para o primeiro domingo de julho, passou a ser comemorado no primeiro de julho desde a reforma de São Pio X.
Tudo isto significa que esta festa não é tão importante?
Na Santa Missa, há uma dupla consagração: a do Corpo e a do Sangue. No entanto, o Sangue está contido no Corpo. Só a consagração do Corpo seria suficiente. Ao manter a dupla consagração em sua liturgia, a Igreja deseja manifestar o caráter sacrificial da Missa.
Um corpo separado de seu sangue é um corpo que morre. Quando esta morte é aceita para salvar o próximo, é uma oferta total, uma prova incomparável de amor. Quando esta morte é aceita por recusar-se a apostasia, é a prova suprema da fé. Aqueles que derramam seu sangue por amor a Deus e rezam pela salvação de seus algozes são chamados de mártires. A cor litúrgica da festa dos mártires é vermelha em referência ao Sangue derramado, o que simboliza as disposições heroicas das vítimas.
“Vítima” é um termo que genericamente se refere a “uma pessoa que sofre”. No contexto de um ato religioso, referese à criatura viva oferecida à divindade como sacrifício. Na cruz e na missa, Cristo permanece sacerdote e vítima. Ele se oferece a seu Pai como vítima para a redenção de nossas almas. A dupla consagração da Missa e a festa do Preciosíssimo Sangue são manifestações e profissões de fé das verdades da Redenção. A segunda pessoa da Santíssima Trindade, o Filho, se encarnou. Assim, a pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo foi constituída pela misteriosa união das naturezas humana e divina. Ele veio para nos salvar de nossos pecados. O pecado é uma ofensa tão grave que obrigou nosso Salvador a morrer de forma violenta para repará-lo. Esta morte terrível foi também uma expressão do imenso amor do Messias por cada um de nós.
A abolição da Festa do Precioso Sangue surgiu no contexto da protestantização da Missa. Como a missa é vista mais como um memorial do que como um sacrifício, escândalos se repetem um após o outro. Os próprios sacerdotes não acreditam mais na Presença Real. Como resultado, eles mesmos se esquecem de quem são. Se não há sacrifício, não há padre. A consequência lógica é uma queda nas vocações.
Só se pode admirar a visão de Dom Marcel Lefebvre que forneceu um remédio adequado para a crise da Igreja ao fundar uma Fraternidade sacerdotal, centrada na Missa e no sacerdócio. Em 1974, ele disse em uma conferência espiritual em Ecône: “Se muda profundamente a liturgia, muda-se o sacerdócio, porque o sacerdócio é inteiramente orientado para a liturgia. Esta é a própria definição do sacerdócio, o sacerdote é feito para o sacrifício. Se começarmos a desnaturar o sacrifício, desnaturamos o padre e até mesmo, vou mais longe, se destruirmos esta noção de sacrifício da Missa, não haverá mais uma Igreja Católica porque a Missa é o misterioso, insondável e inefável tesouro que Nosso Senhor deu à Igreja”.
A festa do Preciosíssimo Sangue está bem colocada, próxima à festa do Santíssimo Sacramento que honra o Corpo de Cristo, imolado por nossos pecados, e à festa do Sagrado Coração que celebra o amor que o fez derramar seu Sangue por nós. De fato, a Missa da Festa do Preciosíssimo Sangue é composta pela Epístola do Domingo da Paixão e pelo Evangelho da Festa do Sagrado Coração.
Façamos nosso o pedido da oração desta Missa, n qual imploramos a Deus, que se deixou dobrar pelo Sangue redentor de seu único Filho, que nos liberte, em virtude deste Sangue, dos males da vida presente e nos faça gozar da felicidade do céu.
Padre Jean-François Mouroux, Prior