BOLETIM DO PRIORADO PADRE ANCHIETA (SÃO PAULO/SP) E MENSAGEM DO PRIOR – JUNHO/22

Solenidade da Santíssima Trindade - Vatican News

Caríssimos fiéis,

O mistério da Santíssima Trindade é o mistério próprio do cristianismo. “Ide, ensinai todas as nações, batizai-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo . Tal é a instrução imperativa do Senhor.

Fomos batizados em nome da Santíssima Trindade, como Nosso Senhor nos ordenou. Sentados no colo de nossa mãe, aprendemos a fazer o gesto do sinal da cruz, em nome das três pessoas divinas.

A Trindade é o maior mistério do cristianismo. Para alcançá-lo, devemos elevar-nos acima do mundo material, acima do mundo dos homens, acima do mundo dos espíritos angélicos; devemos penetrar além do tempo, nas regiões insondáveis da eternidade, onde habita a Santíssima Trindade: o Pai eterno, o Filho gerado desde toda a eternidade pelo Pai, o Espírito Santo que procede do Pai e do Filho, eterno como o Pai e o Filho – ou seja, um único Deus, uma única natureza divina em três pessoas distintas, mas iguais em todas as coisas.

Por que Deus nos revelou este mistério? Um mistério que, de qualquer forma, é incompreensível para nós, inacessível pela nossa inteligência?

O enunciado do mistério está presente em nossa memória desde nossas primeiras lições de catecismo: um Deus em três pessoas.

Ante este augusto mistério, o cristão pode ter duas atitudes:

– estar satisfeito com uma fé cega e não fazer perguntas;

– ou investigar o dogma na medida do possível, a fim de melhor admirar, melhor louvar a Deus e melhor dar conta da fé recebida.

A primeira atitude é certamente boa, é uma atitude de verdade, de humildade, é uma submissão do espírito diante da grandeza de Deus, diante do infinito. Mas não se pode dizer que seja a atitude ideal, pois o cristão deve ser capaz de defender sua fé e a si mesmo do torpor espiritual.

É evidente que, apesar de todos os nossos esforços, o mistério da Santíssima Trindade permanece inacessível à limitada inteligência do homem. Se o infinito pudesse ser compreendido por uma inteligência finita, isso seria uma contradição em termos.

A inacessibilidade do mistério não deve, portanto, surpreender-nos. A incredulidade, diz São João Crisóstomo, é a marca de uma mente estreita, que não é capaz de pensar sobre o que é infinitamente grande.

Os Padres da Igreja se esforçaram em buscar no mundo visível comparações para alimentar nossa imaginação. Uma das comparações mais reveladoras para nossa imaginação é a do sol, que é ao mesmo tempo foco, luz e calor, e estes três fazem apenas um sol. Esta é uma imagem muito bonita, pois a luz representa o Filho de Deus e o calor evoca de uma maneira particularmente feliz o Espírito Santo.

Mas a imagem mais perfeita da Santíssima Trindade, nós a carregamos em nós, porque o Criador, ao nos dar uma alma espiritual nos criou à sua imagem: nossa alma é espírito e é, portanto, à semelhança de Deus. Agora, é a partir de nosso espírito que procedem os pensamentos e o amor. E é aqui, dizem-nos os Padres da Igreja, que devemos buscar a verdadeira imagem da Trindade. Assim, em Deus, o Filho é o pensamento do Pai e o Espírito Santo é o amor mútuo do Pai e do Filho. Este pensamento e amor sendo perfeitos e infinitos, eles são pessoas realmente distintas, mas estão tão unidos que formam uma e única natureza divina.

Depois destas tentativas de explicação, sendo o Filho o pensamento, sendo o Espírito Santo o amor, o mistério permanece, no entanto, excedendo infinitamente nossa inteligência. A partir daí surge a pergunta: por que Deus nos revelou um mistério inacessível?

Santo Agostinho propõe três razões.

– A primeira razão é dar mérito à nossa fé. Especialmente neste mistério, nosso espírito é posto à prova, à prova da verdade que está além de nós. Devemos reconhecer aqui a infinidade de Deus. Este é o principal dever da submissão do espírito. É o ato que nos coloca na verdade da fé, sem o qual é impossível agradar a Deus.

– A segunda razão para a revelação do mistério divino é, para Santo Agostinho, uma espécie de antecipação do que a visão de Deus no céu será para nós.

No céu, teremos a oportunidade de ver a Santíssima Trindade face a face, e a visão da Santíssima Trindade nos fará felizes, nos deslumbrará de felicidade.

A fé na Trindade nos dá assim um primeiro conhecimento das realidades do céu:

– Finalmente, a fé na Trindade nos permite agradecer, pois todas as coisas boas nos chegam da Santíssima Trindade e devemos agradecer-lhe por isso, reconhecendo-a assim nosso benfeitor.

É em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo que fomos batizados, que recebemos o perdão de nossos pecados. É em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo que a Igreja nos abençoa. É em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo que devemos começar e terminar todos os nossos dias. É em nome das três pessoas divinas que o padre nos acompanhará até o nosso lugar do descanso final. Por que tanta insistência na oração da Igreja? É porque a Santíssima Trindade não é uma realidade periférica em nossas vidas.

“Se alguém me ama”, disse Jesus, “ele será amado por meu Pai, e nós iremos até ele e faremos dele nossa casa”. Por isso mesmo, os corpos dos falecidos recebem a homenagem do incenso, porque o corpo do batizado foi o templo da Santíssima Trindade.

Amemos muito nosso Senhor, para que possamos ser amados pelo Pai e que ambos venham habitar em nós.

Padre Jean-François Mouroux, Prior

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