BOLETIM DO PRIORADO PADRE ANCHIETA (SÃO PAULO/SP) E MENSAGEM DO PRIOR – JUNHO/23

Momento da Prece: Atos de Fé, Esperança, Caridade e Contrição

Caríssimos fiéis,

Não faltam obras de caridade na Igreja. Especialmente no Brasil, as paróquias estão cheias de generosidade. Então, por que o catolicismo está em declínio? A Igreja parece um jardim em tempo de seca, apesar de todos os esforços feitos para irrigá-la. O problema não é tanto a intensidade do esforço, mas o espírito que  o impulsiona. Podemos regar o jardim com grande entusiasmo, mas se a mangueira se soltar de sua fonte, nada adianta.

Em sua entrevista de 5 de maio de 2023, o Padre Davide Pagliarani, Superior Geral da Fraternidade São Pio X, comenta sobre o estado da Igreja sob o pontificado do Papa Francisco: “Eles defendem uma Igreja sem doutrina, sem dogma, sem fé, na qual não há mais necessidade de uma autoridade para ensinar qualquer coisa. Tudo se dissolve em um espírito de amor e serviço, sem saber bem o que significa – se é que significa alguma coisa – e para onde deve levar.

Esse é o problema. A caridade desvinculada da fé nunca será mais do que o vinho comprado pelos noivos nas bodas de Caná. Essa bebida pode dar origem a uma certa alegria na vida, mas somente o vinho milagroso de Nosso Senhor pode fortalecer e fecundar a alma que permanece unida a Ele.

O homem apóstata aceita ser ajudado material ou psicologicamente. Ele recusa a ajuda espiritual, porque não quer ser corrigido por seus erros. Seu orgulho o proíbe. Para cair nas graças dele, a Igreja deve, portanto, limitar-se ao trabalho humanitário como qualquer outra ONG. Mas, ao fazer isso, a Igreja perde sua alma.

Amar o próximo é amá-lo como Nosso Senhor o amou. Como um bom médico das mentes, Nosso Senhor não teve medo de causar sofrimento ao condenar os pecadores procurando a conversão daqueles a quem suas condenações se destinavam. E ele não teve medo de sofrer até a morte para merecer a salvação das almas  perdidas. Hoje, grande parte da Igreja pratica uma caridade puramente humana. A vida da graça não é mais sua prioridade. Todas as religiões são boas e devem ser respeitadas. O mesmo vale para todas as atitudes morais.

Como diz o Padre Pagliarani: “Na realidade, os princípios morais tradicionais, como a fé, transformam- se assim em opções livres“. O sofrimento é visto apenas  em seu aspecto terreno e doloroso, não mais como uma obra sobrenatural de expiação. Além disso, o que há para expiar? Então a suprema caridade de  Nosso Senhor na Cruz é esvaziada de seu significado. É exatamente esse significado que as belas festas litúrgicas do Santíssimo Sacramento (“hóstia” significa “vítima”), do Sagrado Coração, do Coração Eucarístico de Jesus e do Preciosíssimo Sangue nos lembram.

Ao querer agradar ao mundo, os homens da Igreja se enganam. A infidelidade à sua missão só lhes trará o desprezo de seus inimigos e a autodestruição do Corpo Místico, que deveriam estar preservando e desenvolvendo. Não caiamos nessa armadilha: “O mundo será duro conosco porque, ao não nos separarmos dele, tampouco o amaremos o suficiente”, disse o Padre Michel de Chivré (um dominicano que permaneceu fiel à Tradição Católica, 1902-1984).

Em vez disso, ouçamos Dom Marcel Lefebvre (Conferência Espiritual, Mortain, 1945): “Olhemos para o nosso próximo com os olhos de Deus, felizes se o virmos em Deus, desejosos de vê-lo lá se ele não estiver, convencidos de que ele pode chegar lá desde que não esteja morto“.

A virtude da caridade nos faz ver as almas sob o aspecto da vida da graça. Devemos sempre viver a vida da graça para comunicar essa mesma vida sobrenatural às almas“.

Por fim, adotemos a conclusão do Padre Pagliarani: “Só há um amor que salva, porque só há um amor verdadeiro que purifica: é o da Cruz, o da Redenção; aquilo que Nosso Senhor nos mostrou, que nos comunica e que quis chamar de ‘caridade’. Ora, este amor não pode existir sem a fé, nem sem aqueles que ensinam a fé“.

Padre Jean-François Mouroux, Prior

CLIQUE AQUI PARA ACESSAR O BOLETIM COMPLETO DE JUNHO