BOLETIM DO PRIORADO PADRE ANCHIETA (SÃO PAULO/SP) E MENSAGEM DO PRIOR – MARÇO/23

Fil:Bernardino Luini - Saint Jerome in Penitence - Google Art Project.jpgCaríssimos fiéis,

Deus é bom, Ele me perdoará“. Muitas pessoas apaziguam sua consciência com esta fórmula, que expressa uma trágica ignorância do amor de Deus. Esta falsa ideia se encontra na concepção moderna da Redenção, que deseja ver neste mistério apenas uma obra de amor, mas não de justiça. Façamos, portanto, um rápido esclarecimento.

O mistério da Redenção é o mistério de Jesus Cristo que morreu na Cruz para redimir todos os homens.

Deus é amor. A Redenção é uma prova evidente disso. O Pai envia seu único Filho à Terra para ser sacrificado por nós. E o Filho aceita generosamente a missão que lhe foi confiada. Toda sua vida será um longo sacrifício completado pela imolação do Calvário, um sacrifício inspirado por seu amor por nós. “Não há maior amor do que dar a vida por aqueles que se ama”. A Redenção é, portanto, a obra de amor por excelência.

Deus é justiça. A Redenção também manifesta a justiça de Deus. Na Cruz, o Filho se oferece por amor à humanidade. Isto é verdade, mas dizer isto não é suficiente. Devemos especificar que a morte de Nosso Senhor tem como objetivo e efeito a redenção dos homens, ao obter o perdão de seus pecados. Assim, a ofensa cometida contra Deus é reparada. Esta reparação, realizada pelo Deus Homem, não só é igual à ofensa, mas a excede em muito. A Redenção é, portanto, obra da justiça por excelência.

Não separemos justiça e amor. Não há amor verdadeiro sem justiça e não há justiça verdadeira sem amor. É por isso que nunca devemos ter a temeridade de reivindicar o amor de Deus como motivo para pecar. “De Deus não se zomba“. Portanto, para nos beneficiarmos do amor de Deus, devemos satisfazer sua justiça. Lamentemos sinceramente nossas faltas, reparemo-las através das penitências que a Quaresma nos convida, vamos ao confessionário para obter o perdão. Apresentemo-nos com confiança ao mais amoroso dos juízes e ele inundará nossa alma com a paz dos justos.

A alma que ama está pronta a fazer muitos esforços e sacrifícios para se aproximar do amado ou para agradá-lo. A este respeito, a Quaresma nos mostrará até que ponto realmente amamos a Deus. Este amor deve ser ilimitado. O bom cristão gostaria que fosse assim. Mas nós somos fracos. Nossas fraquezas nos limitam e podem nos desencorajar de amar. Portanto, é importante tomar o ferreiro como nosso modelo. Ele deve dobrar um ferro tão duro quanto nossos maus hábitos. Ele não bate como um louco nem ao acaso. Ele escolhe pontos precisos e bate seu ferro com um esforço regular. Cada golpe, tomado individualmente, parece mesquinho. O resultado é imperceptível. Mas, no final, a ação total do ferreiro leva o metal à forma que ele quer. É assim que deve ser nossa Quaresma. É assim que nossas resoluções devem ser concretizadas. Precisas e regulares, bem equilibradas, sem exagero nem covardia, elas obterão para nós vitórias sobre nossas más inclinações e a aquisição de virtudes que hoje nos parecem impossíveis. Tenha uma boa Quaresma.

Padre Jean-François Mouroux, Prior

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