Durante o tempo do Advento, a Igreja convida-nos a ouvir São João Batista, para que no dia de Natal possamos acolher com amor a vinda de Jesus.
Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est
“São João Batista é chamado de Voz, porque foi o Precursor do Verbo”, ensina São João Crisóstomo. O que essa voz nos diz? Preparai o caminho ao Senhor, endireitai as suas veredas; todo o vale será terraplanado, todo o monte e colina serão arrasados, os caminhos tortuosos tornar-se-ão direitos, os escabrosos planos; e todo o homem vera a salvação de Deus” (Lucas, 3, 4–6).
Espiritualmente falando, somos chamados a fazer o trabalho de um “cantoneiro”. As graças da Natividade serão proporcionais a esta obra durante o Advento. Para que Jesus venha até nós é preciso endireitar os caminhos da nossa alma. É preciso preencher os vales, as depressões e os abismos da nossa vida cristã: a tibieza, o desânimo, a mesquinhez e a ausência de boas obras. Descer nossas montanhas ou colinas, as edículas, os montes, vaidade, orgulho, arrogância. Endireitar os caminhos tortuosos, purificar o nosso olhar, evitar esse estrabismo incômodo: um olho no nosso ego, no mundo e nas suas sereias e outro em Deus e na sua santa lei. Não é como um slalom, mas “como uma bala de canhão que segue em direção ao Céu”, dizia o Cura d’Ars. Unir os caminhos acidentados, praticar a doçura e a benevolência para com o próximo, sobretudo no seio da família.
“Preparai, portanto, com uma vida santa, preparai o caminho do Senhor no vosso coração; endireitai a senda da vossa vida pela excelência e perfeição das vossas obras, para que a palavra de Deus penetre em vós sem obstáculos” (Orígenes).
“Os caminhos tortuosos tornam-se retos quando os corações dos ímpios, que a iniquidade tinha tornado tortuosos, retornam à retidão da justiça, e os caminhos acidentados tornam-se planos, quando as almas irascíveis e violentas retornam à benignidade da mansidão através da “infusão da graça celestial”, diz-nos São Gregório.
Não nos deixemos desencorajar pela perspectiva destes golpes de picareta e de pá na nossa vida, pois a redenção de Nosso Senhor facilitou consideravelmente a obra da nossa salvação. Com efeito, “se outrora o caminho da virtude era difícil de percorrer, porque as almas estavam como que sobrecarregadas pelo peso dos prazeres sensuais, logo que um Deus feito homem expiou o pecado na sua carne (Rom. 8), todos os caminhos se tornaram suaves, nenhum vale se interpôs no caminho daqueles que queriam avançar”, escreve São Cirilo.
Notemos: “aos que querem avançar”, para santificar verdadeiramente o tempo do Advento; Nosso Senhor não nos salvará sem nós; é preciso avançar. De piedosos desejos, de vãs veleidades, a preparação de um Natal mundano, o dos supermercados, privar-nos-ão do sorriso do Menino-Deus. A paz da Natividade está reservada àqueles que são animados por uma boa vontade, amorosa e ativa. Um tempo de oração quotidiana, a recitação do terço, se possível em família, algumas penitências, uma boa confissão, o cumprimento dos nossos propósitos, levar-nos-ão à Missa de Natal, com o coração tão alegre como o dos pastores de Belém. E receberemos nas nossas almas maravilhadas o Menino que Maria trazia nos seus braços. Uma boa véspera de Natal, os presentes, então realmente farão parte do Natal, que não será um pretexto comercial ou festivo, mas luz e paz do cristianismo.
Em algumas semanas, Nossa Senhora dará à luz Aquele que se designou como o CAMINHO, o caminho perfeito para a salvação eterna. Este caminho não é uma estrada, é o caminho da Cruz, o da vida cristã onde a alegria e a renúncia coexistem e se nutrem mutuamente.
Preparemos não apenas um lindo presépio na nossa casa, mas também na da nossa alma, para que o Menino Jesus possa acessá-la facilmente.
Pe. Bertrand Labouche, FSSPX