Por que não eu?
Fonte: L’Acampado n°211 – Tradução: Dominus Est
Cinco sinais permitem ao candidato à perfeição saber que ele pode seguir esta vocação com a consciência tranquila.
1. Compreender que em tal vocação, servirei melhor o Senhor, santificar-me-ei melhor, trabalharei melhor por minha salvação e para a salvação das almas, glorificarei melhor a Deus na terra e no céu.
Falando daqueles que permanecem virgens pelo Reino dos Céus, Nosso Senhor nos diz que não se pode compreender isto sem uma graça especial: “Nem todos compreendem esta palavra, mas somente aqueles aos quais ela foi dada” (Mt 19).
Não se trata de saber que, teoricamente, a vocação religiosa é mais elevada que o caminho comum, mas se eu, com minhas qualidades concretas, servirei melhor o Senhor dessa forma.
Logo, se compreendo isto, já tenho uma primeira indicação divina.
2. Ter as disposições requeridas.
Na XV anotação, Santo Inácio nos diz que, além dos Exercícios, é “lícito e meritório” incitar, não todo mundo, mas “todos aqueles que têm as disposições requeridas” a escolher virgindade, a vida religiosa e todas as formas de perfeição evangélica.
Há aqui um elemento indicador muito precioso. Pode-se concluir que todo aquele que não tem as disposições requeridas, normalmente (exceto por milagre), não foi chamado por Deus. Atenção! Deus o chama, talvez, a uma outra vocação. Porém, normalmente, não àquela pela qual ele não está vocacionado.
Exemplos de qualidades requeridas: mínimo de inteligência (se houver estudos a concluir), mínimo de saúde (se for preciso partir em missão), e, para toda vocação: ter bom senso.
3. Não é necessário que haja contraindicações.
Na medicina, chamam de contraindicação algo que não é indicado fazer sob risco de prejudicar a saúde.
Da mesma forma, há contraindicações a uma vocação: umas, de direito natural, outras impostas pelo Direito Canônico. Ex: um rapaz, arrimo de família pobre, ou um homem que tem dívidas ouprocessos sob as costas, não podem entrar no noviciado sem ter resolvido estas questões.
Logo, há aqui uma eliminatória importante que pode oferecer alguns esclarecimentos sobre a existência ou a ausência de uma vocação.
4. É preciso, quando se doa a Deus, aceitar as renúncias que a prática dos conselhos exige.
“Melhor não fazer um voto, do que fazer um e não cumpri-lo” (Eclo 5, 4).
Alguém que não gostaria, por exemplo, de observar a castidade, a pobreza ou a obediência não deveria entrar na vida religiosa. “Uma longa castidade é uma segunda virgindade” (São Bernardo).
5. É preciso encontrar um bispo uma congregação que o aceite.
Eis aqui o sinal oficial do chamado de Deus.
Não encontrar um bispo ou uma congregação que te aceite é o sinal de que Deus não te chama.
Mas, cuidado, não julgue rápido demais nem sumariamente demais. Alguém pode não servir em tal congregação e se dar muito bem em outra.
Da mesma forma, tal quem julga a olhos vistos que uma criança não tem vocação pode se enganar.
É lícito insistir e procurar em outros lugares, sobretudo se se constata em um indivíduo os cinco sinais supramencionados.
Exemplo: conta-se que um seminarista foi expulso de um propedêutico por sabe-se lá qual descuido. O pároco, conhecendo o menino o enviou para uma escola apostólica, onde o rapaz fez grandes progressos, passou para o seminário maior e se graduou em teologia.
Padre, ele logo se tornou prelado encarregado de funções elevadas e, num belo dia, cardeal.
De acordo com o costume, a diocese de origem honrada por ter um de seus filhos revestido da púrpura cardinalícia e lhe preparou um grande festejo na catedral.
Seguiu-se um banquete no Seminário Menor. No fim da refeição, o novo Cardeal perguntou ao Superior: “Não poderia me trazer o caderno dos egressos?” E ele leu no ano em quem ninguém mais lembrava: “Pizzardo, demitido por falta de vocação”. O Cardeal tirou então sua caneta, e acrescentou, com humor, “E oggi, cardinale della Santa Chiesa”.
Trata-se de sua Eminência, o Cardeal Pizzardo, na época, à frente de todos os seminários e universidades católicas do mundo.
O Direito Canônico reduz a 4 estes sinais de vocação:
- Reta intenção
- Chamado do bispo
- Qualidades requeridas
- Ausência de irregularidade ou impedimento
Alguém que preenche estas 4 condições pode se doar sem medo de se enganar, ainda que ele não tenha vontade disso. Evidentemente, seria diferente se se tratasse de uma repugnância invencível ou de uma aceitação forçada pela pressão de um pai ou de um padrinho ou madrinha. Nestes casos, o interessado não cumpriria as condições desejadas.
“Todo aquele que, tendo idoneidade e reta intenção, aspira ao sacerdócio pode se apresentar ao bispo” (Noldin).
Eis um rapaz qualquer, vivo e inteligente. Ele se casaria de bom grado, com várias moças que estão ao seu redor. Basta-lhe fazer um sinal. Mas tocado pela falta de operários evangélicos e o grande número de almas que perecem pela falta de apóstolos, ele entrevê todas as repercussões que sua renúncia às alegrias permitidas do matrimônio teria para a salvação do mundo, se ele consagrasse toda a sua vida ao Bom Deus.
Ele vê as repercussões deste dom em um São Francisco Xavier, um São João Bosco, um São Vicente de Paulo, um São João Maria Vianney.
Ele diz para si mesmo, “e por que não eu?”
Ele possui os 5 sinais ou condições indicadas mais acima.
Ele compreende a eficácia que seu sacrifício teria para o serviço de Deus e da Santa Igreja, o número de famílias transformadas e quanto melhor ele se santificaria.
Ele tem as disposições necessárias, se se doa a Deus, ele está determinado, com sua graça, a cumprir as obrigações.
Ele não tem contraindicação.
Ele encontrará facilmente um bispo ou uma congregação que o aceite.
Este rapaz pode dizer: Deus me chama, lhe dou a minha vida, me devoto ao seu serviço. Ele pode considerar estas palavras do Divino Mestre com ditas a ele próprio: “Se quer, vá, venda todos os teus bens, dê-os aos pobres, e terás um tesouro no Céu, e venha e me siga!”.
“Nada, diz Santo Inácio, deve me determinar a escolher ou a rejeitar estes meios, se não for o serviço e o louvor de Deus, Nosso Senhor, e a salvação eterna de minha alma”.
Santo Tomás nos diz que é preciso mais motivos para não se fazer religioso do que para se tornar religioso. E ele repete várias vezes (II Iie Q189 a.10) “Sobretudo, não buscar conselho junto daqueles que te impedirão”, e ele cita estas palavras de São Jerônimo: “Apressa-te, por favor, e se hesitas, corte as amarras em vez de perder teu tempo a desatá-las”.
Uma vez resolvida a questão da vocação diante de Deus, é preciso deixar de cambalear e de hesitar. É um meio clássico do qual o demônio se serve para embaralhar e desencorajar muitos.
Que o rapaz não deixe Deus a espera.
Que, naquilo que lhe cabe, assim que a questão ficar clara, ele se doe imediatamente de forma generosa a Cristo, e passe à realização, assim que puder. Não faça o Senhor esperar.
Santo Inácio nos diz:
“A um rapaz semelhante a ti, o que aconselharias para a grande glória de Deus e para a grande perfeição de sua alma? Que gostaria de ter escolhido, hoje, em teu leito de morte? O que os teus diversos argumentos, de uma maneira ou de outra, valem no tribunal de Deus?
E, não hesite mais, aja de acordo. Se quer, compreenda a graça, compreenda a honra que te é dada”.
Pe. Ludovic Marie Barrielle, FSSPX
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Nota do blog: Colocamos abaixo alguns links sobre a vocação sacerdotal:
- A VOCAÇÃO SACERDOTAL
- TENHO VOCAÇÃO?
- A FORMAÇÃO DE FUTUROS SACERDOTES
- ENQUETE: O QUE MOTIVA OS JOVENS A ENTRAR EM UM SEMINÁRIO DA FSSPX
- SEMINÁRIOS: FORMAÇÃO DE FUTUROS LÍDERES PARA A IGREJA
- NO CORAÇÃO DE UM SEMINÁRIO CATÓLICO
- OS SEMINÁRIOS DA FSSPX
- AS ORDENS SAGRADAS
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“Senhor, dai-nos sacerdotes,
Senhor, dai-nos santos sacerdotes,
Senhor, dai-nos muitos santos sacerdotes,
Senhor, dai-nos muitas santas vocações religiosas,
Senhor, dai-nos famílias católicas,
São Pio X, rogai por nós”