CONTEMPLANDO UMA VIRGEM E O MENINO

Quer seja esculpida ou pintada, a Virgem com o Menino sempre deslumbra. Três motivos levam a isso, enquanto o quarto, mais surpreendente, é carregado de lições.

Fonte: Lou Pescadou n° 251 – Tradução: Dominus Est

Naturalmente, toda mãe que carrega seu recém-nascido canta por si só o magnífico mistério da vida, ao qual ninguém pode permanecer insensível. Nela se cumpre a missão primordial e fundamental confiada à natureza do homem: transmitir a tão bela chama da vida. Eis aí a primeira alegria, perfeitamente natural, enquanto as demais são acessíveis apenas pela fé. Estas últimas são descobertas olhando, alternadamente, a mãe, depois o filho, e, enfim, o olhar que os une.

Sabemos que esta mãe é uma Virgem. Este imenso mistério só pode proporcionar uma grande alegria, aquela que produz esperança (Rm 12, 12). Maria, que sabemos ser imaculada, deu a vida, ainda que sempre virgem! No seio de um mundo universalmente manchado pelo pecado, uma nova Eva então se levanta, verdadeira mãe dos vivos (Cf. Gn 3, 20). Dela nascerá uma nova descendência (Cf. Gn 3, 15), livre do pecado. Mãe da esperança, aurora da salvação, essa Virgem mãe é verdadeiramente a causa de nossa alegria.

Portanto, o maior dom é evidentemente o Filho. Este filho é Filho-Deus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Em outras palavras, Aquele que tem a Vida em si mesmo (Jo 5, 26), que é a Vida (Jo 14, 6), se fez, por nós, simples vida humana. Infinito, Ele se fez pequeno. Onipotente, Ele se fez criança. Eterno, Ele se fez mortal. Estes paradoxos inauditos descrevem o único e imenso paradoxo da misericórdia divina: este Deus, a quem tudo é devido, se fez por nós o Deus-dado! Em sua humanidade assim assumida, Jesus é ao mesmo tempo o consagrado de Deus por excelência e o sumo-sacerdote dos bens futuros (He 9, 11). Ele assumiu a carne para fazer a única coisa que Ele não podia fazer enquanto Deus: sofrer! Sofrer por nós, em nosso nome, a fim de oferecer sua vida e expiar, em sua morte, o nosso pecado. Só podemos nos deslumbrar e adorar.

O mais surpreendente, não obstante, é o olhar que este Filho divino tem por sua mãe: em tudo, Ele quis ser-lhe dependente. Neste mundo, seu futuro está em suas mãos. Seguramente, toda criança recebe tudo de sua mãe, e isso, cotidianamente. Outrossim, pode-se dizer que o futuro de todo recém-nascido está nas mãos de sua mãe. Todavia, aqui, se trata muito mais. Recordamos, em primeiro lugar, que Deus colocou tudo nas mãos da humanidade de Cristo: Todo poder me foi dado no céu e sobre a terra (Mt 28, 18), dirá Jesus enquanto homem. Ora, eis que este mesmo Jesus coloca nas mãos da Santíssima Virgem sua humanidade, aquela pela qual Ele é o consagrado de Deus por excelência, o sumo-sacerdote dos bens futuros. Logo, pode-se dizer, de um certo modo, que Deus confia seu futuro neste mundo a mãos simplesmente humanas.

Isso era verdade ontem, com a Virgem Maria, logo: a encarnação foi suspensa em seu Fiat. Uma vez nascido, Ele se deixará carregar: “Maria carrega em seu seio Aquele que carrega o mundo”, extasiava-se São Bernardo. Além de uma dependência física evidente nos primeiros anos, existe ainda uma dependência voluntária, que Cristo quis viver: et erat subditus illis (Lc 2, 51) é dito dele. Em tudo, Ele lhe era submisso. Jesus a José e Maria, um Deus a simples homens.

O que era verdadeiro ontem o é sempre: Deus confia à Igreja sua presença neste mundo, seu futuro aqui na terra. Isso é verdade, inicialmente, em cada um de nós. Pela graça, Deus habita nossa alma, age nela e através dela. Mas esta presença e seu alcance depende de cada um, de sua docilidade ou não à obra de Deus em si: os santos propagarão Deus no mundo. Os pecadores continuarão a matá-lo…

Esta verdade é válida ainda para a Igreja tomada em seu conjunto, ela, que nada mais é do que Jesus Cristo difundido e comunicado, de acordo com a tão justa palavra de Bossuet. O futuro da Igreja e, portanto, de Deus neste mundo, nos é confiado a todos. Membros da Igreja, diz São Pedro, somos pedras vivas destinadas a construir o edifício (1 Pe 2, 5; Col 2, 21), ou seja, a Igreja. Certamente, Cristo, consagrado de Deus por excelência, continua sua intercessão neste mundo, principalmente pelas almas consagradas. Certamente, Cristo, sumo-sacerdote dos bens futuros, purifica e santifica o mundo por seus sacerdotes. Isso significa que o futuro de Deus no mundo despende, primeiramente, da santidade e do número das vocações religiosas e sacerdotais. Todavia, Jesus se dirigia a nós todos quando Ele dizia: a messe é grande, e os operários são poucos. Pedi, pois, ao mestre da messe, a fim que ele envie operários à sua messe (Mt 9, 37-38). Logo, pode-se dizer que, assim como Jesus colocou seu futuro terrestre na dependência de Maria, assim, também a nós – cada um ao seu modo – Cristo, em sua Igreja, quis ser dependente.

Estas luzes indicam porque o Pe. Pagliarani, em sua última carta aos Amigos e Benfeitores, nos convida a uma grande cruzada do rosário, a fim de pedir, ao longo deste ano jubilar, santas e numerosas vocações, quer sejam religiosas ou sacerdotais. Não há maior meio para satisfazer o bem da Igreja, e, portanto, do mundo.

Pe. Patrick de La Rocque, FSSPX