CRISTO JUIZ (PARTE 2): O JUÍZO UNIVERSAL NOS ESPERA NO FIM DOS TEMPOS

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Prof. Paolo Pasqualucci (Courrier de Rome nº 387) – Tradução: Dominus Est

2. O Juízo Universal nos espera no fim dos tempos

Nosso Senhor anunciou claramente que Ele será nosso juiz no fim dos tempos, quando voltará sobre a terra e acontecerá o Juízo Universal.

«Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas só o Pai. Assim como foi nos dias de Noé, assim será também a (segunda) vinda do Filho do homem. Nos dias que precederam o dilúvio (os homens) estavam comendo e bebendo, casando-se e casando seus filhos, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não souberam nada até que veio o dilúvio, e os levou a todos. Assim será também na vinda do Filho do homem. Então, de dois que estiverem num campo, um será tomado e o outro será deixado. De duas mulheres que estiverem moendo com a mó, uma será tomada e a outra será deixada. Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora virá o vosso Senhor. Sabei que, se o pai de família soubesse a que hora havia de vir o ladrão, vigiaria, sem dúvida, e não deixaria minar a sua casa. Por isso estai vós também preparados, porque o Filho do homem virá na hora em que menos o pensardes» (Mt. 24, 36-44).

O Senhor que nos virá julgar é «o Filho do homem», portanto é Jesus Cristo que ressuscitou e subiu ao céu em pessoa. O «Filho do homem» é «vosso», ou seja, nosso «Senhor». Mas contra o que e como devemos «vigiar»? Certamente não para prevenir nossa morte natural imprevista ou um acontecimento sobrenatural, que também será imprevisto, como a parusia de Nosso Senhor (ou seja, sua Presença no sentido de Advento, Retorno final de Cristo como Rei do universo e Juiz do gênero humano). Nós devemos «velar» e «vigiar» contra nós mesmos para não cair em tentação pela obra do demônio e nos encontrarmos em pecado mortal no dia do Juízo (e no dia da nossa morte, que é para nós como o dia do Juízo). Porque quem for encontrado em estado de pecado mortal nesse dia será condenado eternamente.

2.1. O Justo Juiz separará eternamente os eleitos dos réprobos

Esta verdade resulta inequivocamente também do ensinamento por meio das parábolas. O que acontecerá com o servo infiel que, porque o senhor tardava, começou a maltratar os subordinados e a levar uma vida boa com os bens do próprio senhor? «Virá o senhor daquele servo no dia em que o não espera, na hora que não sabe, e o cortará em dois e porá a sua parte entre os hipócritas; ali haverá pranto e ranger de dentes» (Mt. 24, 45-51). O senhor virá e condenará à morte o servo hipócrita, infiel e traidor, infligindo sobre ele a pena prescrita na época aos traidores: o esquartejamento. E esse servidor irá lá para onde «haverá pranto e ranger de dentes», ou seja, o inferno. A chegada imprevista do senhor impedirá o infame servo de se arrepender: só haverá tempo de pronunciar a sentença, imediatamente executável. A chegada imprevista do senhor simboliza nossa morte, após a qual não poderemos mais reparar nossos pecados; a terrível punição que Ele inflige, a condenação eterna nos tormentos.

Tampouco às virgens insensatas será dado tempo de se arrepender. Uma vez mantidas no exterior do salão de bodas por causa de sua insensatez, ou seja, por causa de sua vida pecaminosa e impenitente, Ele lhes dirá, quando elas baterem à porta movidas pelo desespero final: «Na verdade vos digo que não vos conheço» (Mt. 25, 12).

Conceito repetido de maneira similar por Nosso Senhor, segundo o testemunho relatado por São Lucas, àqueles que lhe perguntavam qual seria o número dos eleitos. Ele não especifica se eles seriam muitos ou poucos em relação ao número geral de homens que viveram na terra. Mas Ele afirma com clareza que uma parte importante do gênero humano («muitos») cairiam em perdição, pois a salvação pede que se passe pela «porta estreita», que é a da santificação individual quotidiana, da luta contra si mesmo, do exercício contínuo das virtudes cristãs, com a ajuda indispensável da graça. «Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque vos digo que muitos procurarão entrar, e não conseguirão. Quando o pai de família tiver entrado e fechado a porta, vós, estando fora, começareis a bater à porta, dizendo: “Senhor, abre-nos”, ele vos responderá: “Não sei donde vós sois”. Então começareis a dizer: “Comemos e bebemos em tua presença, tu ensinaste nas nossas praças”. Ele vos dirá: “Não sei donde sois; apartai-vos de mim vós todos os que praticais a iniquidade”. Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac, Jacob, e todos os profetas no reino de Deus, e vós serdes expulsos para fora» (Lc 13, 24-28).

A sentença do justo juiz que, no dia do juízo, afirmará que não conhece ou que não sabe de onde viemos, equivale à fórmula de condenação final e definitiva a respeito daqueles que são condenados: «Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, que foi preparado para o demônio e para os seus anjos» (Mt. 24, 41).

2.2. Aquele que morre em seus pecados vai para a danação eterna

Mas o justo Juízo do Senhor nós vemos ser aplicado também nos episódios da vida de todos os dias. Alguns Lhe contaram sobre uma repressão sangrenta de Pilatos contra os rebeldes galileus. E como ele respondeu?

«Vós julgais que aqueles galileus eram maiores pecadores que todos os outros galileus, por terem padecido tanto? Não, eu vo-lo digo; mas, se não fizerdes penitência, todos perecereis do mesmo modo. Assim como também aqueles dezoito homens, sobre os quais caiu a torre de Siloé, e os matou, julgais que eles também foram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém? Não, eu vo-lo digo; mas, se não fizerdes penitência, todos perecereis do mesmo modo» (Lc. 13, 2-5).

Na opinião comum, a desgraça que se abateu de improviso sobre os galileus rebeldes surpresos e exterminados pelos romanos, ou sobre as vítimas da torre de Siloé, poderia ser interpretada como uma punição divina por seus pecados, que deveria então se considerar como mais graves que os pecados daqueles que não tinham incorrido nesse tipo de morte acidental e imprevista. Mas não era o caso, como explicava Nosso Senhor. As vítimas em questão não eram maiores pecadores que os outros galileus ou habitantes de Jerusalém. Então por que esses homens haviam sucumbido? Porque eles não haviam feito penitência. Eles não haviam se arrependido de seus pecados, não haviam mudado sua vida: é o que significa «não fazer penitência», compreendido em sentido largo, e a morte súbita lhes havia surpreendido em estado de pecado mortal. É por isso que Nosso Senhor emprega o termo «perecer», apóllumi no grego do texto, que exprimia a ideia de perder-se, arruinar-se, em sentido forte, ético e dogmático: in aeternam perniciem ruere (F. Zorell S.J., Lexicon graecum Novi Testamenti). A punição por ausência de penitência não poderia consistir na simples morte do corpo, que chegará a todos, mas na perdição das almas daqueles que haviam sido surpreendidos de improviso pela morte de seus corpos. Eis o que queria destacar Nosso Senhor. Nessas mortes, aqueles que temem a Deus deveriam extrair o ensinamento necessário: morrer em estado de pecado mortal significava ir à condenação eterna. Seria preciso arrepender-se e converter-se ao ensinamento do Verbo encarnado, enquanto há tempo.

Mas como Nosso Senhor poderia saber que as almas dessas vítimas não eram de maiores pecadores que as outras e, ademais, que os infelizes haviam morrido sem ter feito penitência; mortos, portanto, em seus pecados? Ele poderia sabê-lo precisamente porque era Filho de Deus, e, portanto, graças ao conhecimento das almas que Lhe fora concedido por sua natureza divina, que não havia deixado de ser divina após a Encarnação, mantendo sem interrupção o Verbo feito homem no hebreu Jesus de Nazaré todas as suas prerrogativas sobrenaturais, entre as quais aquela de julgar as almas. Portanto, é Ele mesmo, enquanto Deus, que devia ter enviado ao inferno as almas daqueles pecadores surpreendidos pela morte súbita em estado de pecado mortal!

O princípio segundo o qual morrer sem ter feito penitência, ou seja, morrer em seus pecados, significa ir inevitavelmente à danação eterna e está presente também no Evangelho segundo São João, quando Nosso Senhor coloca severamente os Judeus perante as terríveis consequências da obstinada incredulidade que tinham em relação a Ele.

«Jesus disse-lhes mais: “Eu retiro-me: vós me buscareis, e morrereis no vosso pecado. Para onde eu vou, vós não podeis ir”» (Jo. 8, 21). E como os judeus começaram a caluniá-Lo, insinuando que essas palavras poderiam significar que Ele queria se suicidar, Ele mesmo dá essa explicação: «Ele disse-lhes: “Vós sois cá de baixo, eu sou lá de cima. Vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo.  Por isso eu vos disse que morreríeis nos vossos pecados; sim, se não crerdes em quem eu sou [o Messias esperado, Filho de Deus], morrereis no vosso pecado.”» (Jo. 8, 23-24). Dito de outra maneira, vós ireis para a danação eterna se não crerdes em minha natureza divina, isto é, se não crerdes que o Eu sou (egó eimí) dito por Deus a Moisés na sarça ardente aplica-se a mim (Ex. 3, 14). Esta advertência era a consequência da verdade revelada anteriormente por Nosso Senhor no começo de sua pregação. «O Pai ama o Filho, e pôs todas as coisas na sua mão. O que crê no Filho, tem a vida eterna; o que, porém, não crê no Filho, não verá a vida, mas sobre ele pesa a ira de Deus» (Jo. 3, 35-36). Aquele que não crê na natureza divina de Cristo e recusa seus ensinamentos «não verá a vida»; ele não verá a vida eterna, contrariamente àquele que tiver acreditado, e a ira de Deus pesará sobre ele; maneira esta de falar que exprime a noção de uma condenação que resultava na danação eterna. E isso naturalmente aplica-se a todos aqueles que, em cada época, recusaram e recusam conscientemente a Cristo, sejam judeus ou gentios, e não somente os judeus dos tempos de Jesus. E isso vale ainda mais hoje para nós, sobrepujados de indiferentismo, incredulidade, espírito de apostasia e de blasfêmia, e pelo ateísmo. Sem falar das más obras de todos os gêneros.

2.3. O Juízo final sempre será individual, como o juízo que espera cada alma após a morte do corpo

As falsas doutrinas que circulam hoje querem fazer crer que o Juízo final seria substancialmente substituído por uma salvação coletiva garantida a todos: preocupar-se com sua salvação individual seria egoísta. O inferno estaria então vazio, como se fosse algo contrário à divina misericórdia infligir uma condenação, quanto mais uma condenação eterna; é por isso que a divina misericórdia já teria resgatado cada homem pela Encarnação. Portanto, cada homem seria de fato cristão sem sabê-lo, anonimamente!

Contra essas deformações perversas da Verdade revelada ensinada desde sempre pela Santa Igreja, é útil relembrar, além da Tradição da Igreja, o que diz a Sagrada Escritura.

O Juízo final é coletivo ou geral, público e portanto universal somente porque ele diz respeito à totalidade do gênero humano (os homens que estiverem vivos no momento da Parusia e aqueles que morreram antes, uma vez ressuscitados dos mortos, cujas almas já foram julgadas, uma por uma, no momento de suas respectivas mortes). Mas nessa totalidade cada um será julgado sempre individualmente. O Juízo permanece sempre ad personam, porque a responsabilidade das ações de cada um depende sempre do exercício de seu livre arbítrio. O Sermão da montanha pressupõe um ouvinte capaz de ser moralmente responsável por seus atos. O Juízo final e universal não é portanto diferente, para aquele que é julgado, do juízo individual ou particular pronunciado para todos aqueles que morreram antes da Parusia. Há somente um só Juízo, e ele se trata sempre do mesmo tipo de Juízo.

A natureza intrinsecamente individual do Juízo final decorre claramente das próprias palavras de Nosso Senhor. Com efeito, o que Ele diz quando anuncia o Juízo que se seguirá imediatamente após a Parusia? «Um será tomado e o outro será deixado»; «uma será tomada e a outra será deixada» (Mt. 24, 40). Cada um será avaliado («pesado, contado e dividido») pelo que pensou, disse e fez individualmente e de uma vez por todas, para sempre. Um será «tomado» por Nosso Senhor consigo para a vida eterna; outro será «deixado» para o fogo da Geena; um será salvo por suas boas obras e outro será condenado por suas más obras. E não disse Nosso Senhor: «o Filho do homem há-de vir na glória de seu Pai com os seus anjos, e então dará a cada um [ekásto, unicuique] segundo as suas obras» (Mt. 16, 27)?

Essa verdade também é ensinada pelas parábolas. Aquela do rico epulão nos mostra a alma do mendigo Lázaro «levado pelos anjos ao seio de Abraão», ou seja, ao paraíso, enquanto que a alma do rico avarento que lhe recusara até mesmo a mínima esmola, morto ele também, encontra-se «nos tormentos» que lhe causam uma sede inextinguível, eterna, num abismo que jamais poderá sair, ou seja, o inferno (Lc. 16, 19-31). Houve, portanto, um Juízo individual para cada um dos dois, imediatamente após a morte de cada um, baseado na maneira em que cada um havia vivido.

Igualmente a parábola do rico insensato nos mostra um homem rico que faz projetos para o futuro, a fim de se tornar ainda mais rico. À maneira dos filhos do mundo, ele pensava somente em comer, beber e gozar a vida. «Ele andava discorrendo consigo: Que farei, pois, não tenho onde recolher os meus frutos? Depois disse: Farei isto: Demolirei os meus celeiros, fá-los-ei maiores, neles recolherei todas as minhas novidades e os meus bens, e direi à minha alma: Ó alma, tu tens muitos bens em depósito para largos anos; descansa, come, bebe, regala-te. Mas Deus disse-lhe: “Néscio, esta noite te virão demandar a tua alma; e as coisas que juntaste, para quem serão?” Assim é o que entesoura para si, e não é rico para Deus» (Lc. 12, 17-21). Aquele que «entesoura para si» pensando somente no seu bem-estar material, certo de poder viver infinitamente, não guarda nada para o dia em que Deus vier «demandar» sua alma. Aqui também o Juízo de Deus é totalmente individual, especifico, perfeitamente proporcional às nossas obras e intenções.

E tão individual é o Juízo, que a condenação vem graduada ad amussim [à risca] conforme as faltas. «Guardai-vos dos escribas, que gostam de andar com vestidos compridos, de ser saudados nas praças, de ocupar as primeiras cadeiras nas sinagogas, e os primeiros lugares nos banquetes; que devoram as casas das viúvas, a pretexto de longas orações. Estes receberão uma condenação mais severa» (Lc. 20 46-47). Maior a culpa, maior a pena. Esse critério só pode ser aplicado a um juízo individual que considere e leve em conta a vida de cada homem e cada mulher. E, com efeito, cada um de nós deverá responder pessoalmente também por tudo aquilo que disse; do mesmo modo, de tudo o que se disse será julgado ou condenado: «Ora eu digo-vos que de qualquer palavra ociosa que tiverem proferido os homens, darão conta dela no dia do juízo. Porque pelas tuas palavras será justificado ou condenado» (Mt. 12, 36-37).

E quem será renegado pelo Senhor, no dia do juízo, senão aquele que O tiver renegado? «Porém o que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus» (Mt. 10, 33). Ainda mais explícita é a referência ao Juízo universal, como Juízo individual em Lc. 9, 26: «Porque quem se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do homem se envergonhará dele, quando vier na sua majestade, e na de seu Pai e dos santos anjos». São Lucas, que escreve após São Mateus, e cujo texto ele certamente conhecia, resume a noção exposta por este e acrescenta a referência ao Juízo final, porque essa referência (implícita em São Mateus) devia resultar da reconstituição feita ulteriormente pelo próprio São Lucas das palavras e atos do Senhor, com uma análise precisa de todas as fontes (cf. Lc 1, 1-14).

Mas a recompensa é também proporcional ao mérito individual de cada um (Mc. 4, 20, parábola do semeador), e ela é também individual. «Guardai-vos de fazer as boas obras diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles. Doutra sorte não tereis direito à recompensa do vosso Pai, que está nos céus» (Mt. 6, 1). Essa recompensa não pode ser outra senão a da vida eterna, em consequência dos méritos acumulados realizando as obras prescritas por Deus da maneira que é verdadeiramente agradável a Deus. «Quando pois dás esmola, não faças tocar a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa» (Mt. 6, 2). E quando e de quem eles receberam suas recompensas? Eles receberam-na nesta vida dos homens, com a honra exterior que foi desejada por suas ostentações. Mas não por Deus, que ao contrário condenará sua hipocrisia e orgulho no dia do juízo. «Mas, quando dás esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita, para que a tua esmola fique em segredo, e teu Pai, que vê (o que fazes) em segredo, te pagará» (Mt. 6, 3-4). A recompensa é de tal maneira ad personam que a esmola recompensada no dia do juízo é aquela feita em segredo, conhecida somente pelo Pai.

Nas epístolas de São Paulo e dos outros Apóstolos, o juízo é nomeado muitas vezes como juízo sempre individual. Lembremos, por causa dos propagadores de heresias que invadem hoje os lugares públicos: «pois é necessário que todos compareçamos diante do tribunal de Cristo, para que cada um receba o que mereceu, enquanto estava no corpo [propria corporis, nesta vida], bem ou mal» (2Cor. 5, 10); «E, assim como está decretado que os homens morram, uma só vez, e que, depois disso, se siga o juízo, assim também Cristo se ofereceu uma só vez (em sacrifício) para apagar os pecados de muitos; a segunda vez aparecerá, não por causa do pecado, mas para salvação daqueles que o esperam» (Heb. 9, 27-28); «Se o justo a custo será salvo, o que acontecerá ao ímpio e ao pecador?» (1Pe. 4, 18); «Não vos queixeis, irmãos, uns contra os outros, para que não sejais julgados. Eis que o juiz está à porta» (Tg. 5, 9).

No Antigo Testamento também, a verdade de fé do Juízo de Deus é ensinada muitas vezes: «E os céus anunciam a sua justiça,/ porquanto o próprio Deus é o juiz» (Sl. 50, 6); «Deus disse uma coisa;/ estas duas eu ouvi:/ O poder é de Deus, e tua, ó Senhor, é a graça;/ com efeito, retribuirás a cada um segundo as suas obras» (Sl. 62, 12-13); «O Senhor julgará as extremidades da terra,/ e dará o império no seu rei,/ e exaltará a cabeça do seu ungido» (1Sam. 2, 10).

2.4. Nosso Senhor não ameaça com condenações coletivas

Mas Nosso Senhor não ameaçou com uma condenação coletiva para o dia do Juízo as cidades impenitentes? «Ai de ti, Corozain! Ai de ti, Betsaida! porque, se em Tiro e em Sidônia tivessem sido feitos milagres que se realizaram em vós, há muito tempo que teriam feito penitência em cilício e em cinza. Por isso vos digo que haverá menor rigor para Tiro e Sidônia no dia do juízo, que para vós. E tu, Cafarnaum, elevar-te-ás porventura até ao céu? Não, hás-de ser abatida até ao inferno. Se em Sodoma tivessem sido feitos os milagres que se fizeram em ti, ainda hoje existiria. Por isso vos digo que no dia do juízo haverá menos rigor para a terra de Sodoma que para ti» (Mt. 11, 21-24).

A gravíssima ameaça, endereçada às cidades enquanto tais, era justificada pela oposição compacta que Nosso Senhor havia encontrado, ao ponto de ser obrigado a dizer que «Um profeta só deixa de ser honrado na sua pátria, entre os seus parentes e na sua própria casa» e de deixá-Lo espantado com a incredulidade deles (Mc. 6, 4-5). A ameaça deve ser tomada ao pé da letra. No entanto, Nosso Senhor não diz que os habitantes dessas cidades devem se considerar já todos condenados por não terem acreditado em seus milagres e por não terem «feito penitência». Ele diz que, por causa de seu endurecimento, eles serão tratados com maior rigor que os habitantes de Sodoma e Gomorra, que por serem cidades integralmente dominadas pelo pecado antinatural, foram destruídas imediatamente sem aviso por Deus, que enviou uma chuva de fogo e enxofre. Mas podemos imaginar maior rigor que aquele que no dia do Juízo golpeará pecados tão graves e tão gravemente punidos já neste mundo? Evidentemente sim, palavra do Filho de Deus. Mas em todo caso, mesmo em Sodoma, Deus não salvou Loth e sua família, sendo ele o único homem justo que ali habitava? Mesmo em Sodoma, portanto, não houve condenação coletiva, indiscriminada. E se não houve em Sodoma, tampouco haverá nas cidades impenitentes, visto que a morte não é ainda a condenação. A morte colhe da mesma maneira, sem distinção, o justo e o injusto, enquanto que é o Juízo quem distingue o justo do injusto, seja imediatamente após a morte de cada um, seja no momento do Juízo universal.

Devemos, portanto, vencer o medo da morte, até mesmo da violenta, e temer, por outro lado, o juízo que nos espera imediatamente após. «A vós, pois, meus amigos, vos digo: não tenhais medo daqueles que matam o corpo, e depois nada mais podem fazer. Eu vou mostrar-vos a quem haveis de temer; temei aquele que, depois de matar, tem poder de lançar no inferno; sim, eu vos digo, temei este» (Lc. 12, 4-5). Bem mais que a nossa morte, nós devemos então temer o juízo que investirá sobre cada um de nós imediatamente após nosso último suspiro. É o que diz o Senhor àqueles que Lhe seguem e esperam, que Ele considera como «seus amigos»: a morte não é nada para nós. Não no sentido do sofisma do ateu Epicuro: «A morte não é nada para nós, porque o que dissolveu é insensível, e o que é insensível não é nada para nós». Ao contrário, a morte não é nada para nós enquanto morte, porque ela será o dies natalis que nos abrirá a porta da vida eterna, retirando de nós para sempre nossas misérias infinitas e as misérias do mundo, se nós seguirmos a Cristo até o fim de nossa viagem terrestre: «Sê fiel até à morte, e eu te darei a coroa da vida» (Ap. 2, 10).

(Continua…)