A Providência preparou esta situação única na Igreja que permite que a doutrina e a liturgia sejam protegidas das ameaças modernistas.
Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est
Excerto de uma conferência proferida em um retiro para os seminaristas de Ecône, em 10 de abril de 1990. D. Lefebvre agradece à Providência por ter proporcionado à Fraternidade São Pio X uma situação viável que lhe permite continuar a viver de acordo com a Tradição Católica.
Texto
O Bom Deus assim o quis, não o posso negar pois os fatos estão aí, eles existem. Penso que a Fraternidade teve essa graça particular de, praticamente, não depender de nenhum Bispo diocesano. Os senhores me dirão: “existem as congregações religiosas”, mas as congregações religiosas ainda dependem, em certa medida, dos Bispos diocesanos.
A ideia inicial: colaborar com as dioceses
E não é por culpa nossa porque minha primeira ideia era formar seminaristas como o Pe. Aulagnier: ele, simplesmente, havia sido incardinado na diocese de Clermont-Ferrant para retornar à sua diocese.
Fui visitar D. de La Chanonie, que eu conhecia bem, ex-membro do Seminário Francês de Roma, e disse-lhe: “Tenho aqui um seminarista que veio me procurar, estuda na ‘Universidade de Friburgo, está aqui comigo, tenho vários como ele, mas uma vez que é de vossa diocese, peço a gentileza de incardiná-lo e, assim que terminar, espero que o aceitem de volta para lhe conferir uma função em vossa diocese.”
Ele estava totalmente de acordo, naquela época não havia problemas, nem tensões, estávamos 5 anos antes da fúria de Roma, das visitas de Roma. Não havia problema, por isso ainda estava incorporado na diocese de Clermont-Ferrant. Este foi o meu pensamento, disse a mim mesmo durante quase um ano: “nós podemos formar bons sacerdotes, sólidos, tradicionais, no espírito da Igreja, e depois irão para as dioceses”. Mas foi então que eles mesmos me disseram: “Monsenhor, o senhor não percebe que em nossas dioceses, com nossa batina e com o espírito que teremos recebido, isso é absolutamente impossível! Nunca seremos capazes resistir.” Eles tinham razão.
Nós também não queríamos ser independentes, já que dependíamos da diocese de Friburgo, da diocese de Sion e da diocese de Albano. O Bispo de Sion não quis dar um documento que autorizava a criação do seminário, mas no final ele o deu, pessoalmente, como sois testemunhas. D. Charrière deu sua aprovação da FSSPX. O próprio D. Mamie me deu uma carta para que o Bispo de Albano concordasse em nos receber em sua diocese. Assim, D. Mamie não estava contra nós naquele momento. Tudo isso era regular, antes de nos estabelecermos pedimos autorização ao Bispo para nos instalar em seus domínios. Temos a Ata oficial do Bispo de Albano que aceita a fundação de nossa casa.
Uma situação realmente impossível
Isso deveria ter continuado se não fosse pelo ciúme e descontentamento dos bispos franceses que soaram o alarme em Roma: “todos esses padres tradicionalistas, o que vamos fazer com eles, o que farão conosco, nós não os queremos!” Absolutamente, como agora com a Fraternidade São Pedro, eles não os querem. O fato de não termos qualquer dependência pela força das circunstâncias, uma vez que somos rejeitados, nos dá essa independência de pensamento e possibilidades de constituir nossos seminários, nossos priorados, paróquias, nossos colégios, todas as nossas obras, num espírito autenticamente católico e em conformidade com a Tradição da Igreja. O que teríamos tido grandes dificuldades em fazer se estivéssemos em uma diocese. Mesmo que o Bispo de Albano nos tivesse reconhecido, qualquer coisa que quiséssemos fazer que não estivesse inteiramente em conformidade com o espírito do Vaticano, ou que tivesse sido um pouco criticado por membros de seu clero, teríamos sido constantemente advertidos: “Mas, por fim, andem na linha, tentem aceitar as reformas do Concílio, etc”. Regularmente, essa decisão é fatal. Não é possível estar sob uma autoridade que não tenha os mesmos princípios, que adota princípios modernistas enquanto queremos manter os princípios católicos, não é possível, é assim que as coisas são.
Assim, podemos agradecer ao Bom Deus que nos permite ser protegidos deste espírito, e assim permanecermos católicos, guardarmos bem a doutrina e toda a liturgia, tudo o que é necessário para a nossa fé.