Caríssimos amigos
Caríssimas irmãs
A Igreja, durante a preparação desta festa do Natal – durante o Advento – evoca três tipos de vindas de Nosso Senhor junto a nós:
- A primeira é aquela pela qual celebramos hoje, particularmente, e que nos recorda a festa do Natal: a vinda de Nosso Senhor entre nós, através da Santíssima Virgem Maria.
- A segunda é evocada nos textos que a Igreja nos apresenta durante o Advento: da vinda de Nosso Senhor no fim do mundo, para julgar os homens.
- Finalmente, a terceira vinda de Jesus entre nós é aquela que se realiza em cada um de nós: a vinda de Jesus às nossas almas.
E, em suma, se meditarmos um pouco nos textos que a Igreja nos propõe durante estas semanas, percebemos que a vinda mais importante é aquela que diz respeito a nós mesmo. Pois se Nosso Senhor quis descer à terra, é por nós, é para nossa salvação. E se Nosso Senhor virá sobre as nuvens do Céu para nos julgar, é também para saber o que temos feito com os meios que Nosso Senhor nos deu para alcançar nossa salvação.
E a festa do Natal é a que mais evoca, em nós e para nós, a ida de Jesus a Belém, que nos dá lições admiráveis. Porque quando Nosso Senhor vier nas nuvens do Céu, Ele nos perguntará: “O que fizestes com tudo o que eu fiz por vós? Como me recebestes durante sua peregrinação nesta terra? Como me recebestes em minhas mensagens? Como recebestes meus apóstolos? Como recebestes meu Sacrifício, meus sacramentos?”
Então, qual será a nossa resposta? Que ela seja, meus caríssimos irmãos, a primeira que foi dada pela Santíssima Virgem Maria. Como Maria recebeu Jesus? Com ação de graças. Como vos disse ontem, ela cantou seu Magnificat. Ela O recebeu com toda a sua alma ao pronunciar o seu Fiat.
E Deus sabe se ela tinha as disposições favoráveis e necessárias para receber Jesus dignamente.
Também José, depois de hesitar sobre a Santíssima Virgem Maria, recebeu graças extraordinárias para receber a Jesus e a Maria.
E quão admirável é a história de Belém a esse respeito. Quando vemos os pastores, aos quais os anjos anunciam a vinda de Jesus, o que fazem os pastores? Eles poderiam ter feito, como talvez muitos de nós teríamos feito: mas é noite, está frio, não conhecemos o caminho, não o encontraremos….
E muitas desculpas poderiam ter surgido em suas mentes para não irem ao encontro de Jesus.
Mas não. Não foi isso que os pastores fizeram. O Evangelho nos diz: “Levantaram-se e apressaram-se” – festinantes – apressaram-se para ir ao encontro de Jesus. E eles O encontraram e cantaram seus louvores.
E não podemos imaginar o que ofereceram a Jesus, talvez um cordeiro, sinal do que São João Batista diria mais tarde: “Eis o Cordeiro de Deus”? Talvez tenham oferecido a ele alguns produtos de seu rebanho, para que Maria e José pudessem ver o amor que eles tinham por Jesus.
E então, com espírito missionário, os pastores falaram, espalharam a notícia e aqueles – diz o Evangelho – que ouviram suas histórias ficavam maravilhados. Eles também cantaram louvores a Deus.
E como os anjos não nos encorajaram a receber Jesus cantando seu hino: Gloria in exelcis Deo: “Glória a Deus nos céus e paz aos homens de boa vontade”.
E agora devemos nos perguntar, caríssimos irmãos, o que fizemos até agora para receber Jesus? Ouviram no Evangelho que acabamos de ler: Et sui eum receperunt (Jo 1,11): “Eles não O receberam”. Ele veio para sua casa – pois tudo lhe pertence, nós mesmos pertencemos a Ele – in propria venit et eum non receperunt. Fizeram como os da hospedaria de Belém, que não quiseram receber a Virgem Maria e São José. Eles não receberam Jesus.
Todavia, aqueles que recebem Jesus, diz São João, no Evangelho, tais são os filhos de Deus. O que fizemos nós, meus caríssimos irmãos? Realmente recebemos Jesus? Estamos realmente vivendo com Jesus? Nós realmente nos preocupamos com a salvação de nossas almas? Pois é por isso que Jesus desceu à terra. Este é o nome dado a ele. Quando o anjo Gabriel vem ver a Virgem Maria e lhe diz: “Aquele a quem dareis à luz será o Salvador do mundo”. E repete a mesma coisa aos pastores: “Aquele que vereis é o Salvador do mundo”: Salvator mundi. Ele também é Salvator mundi para cada um de nós.
Devemos aplicar a virtude da graça e da ressurreição de Nosso Senhor às nossas almas. Não sejamos indiferentes a Jesus. Como Maria, recebamos Jesus com as disposições necessárias para recebê-lo dignamente.
E, no entanto, Jesus nos amou muito. Se certamente não tivéssemos a alegria de estar em Belém – ah, como teríamos sido felizes, sem dúvida, se estivéssemos perto dos pastores e se com eles pudéssemos acompanhá-los até Maria e José e ver o Menino Jesus – certamente teríamos sido felizes. Mas Nosso Senhor faz mais por nós, mais do que simplesmente carregar Jesus em nossos braços. Podemos recebê-lo em nós através da Santa Eucaristia.
Quando queremos, todos os dias, Jesus está à nossa disposição para que O recebamos, dentro de nós; que de alguma forma nos tornamos, por assim dizer, um com Ele.
Como diz São Paulo: “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim.”
E vivemos realmente com Nosso Senhor Jesus Cristo ao longo dos nossos dias? Vivemos com o seu Espírito, no seu Espírito? Estamos cumprindo seus mandamentos? Recitamos estas orações, que nos preparam para a comunhão e nas quais prometemos a Nosso Senhor que jamais nos separaremos d’Ele, que nunca mais seremos separados d’Ele?
Isto é o que é dito em nossas orações antes da Comunhão. Realmente nunca nos separaremos de Jesus? Isso é o que devemos perguntar. Eis a grande lição do Natal hoje.
Peçamos à Santíssima Virgem Maria, peçamos a São José, peçamos aos pastores, aos santos anjos que cercaram Jesus no seu nascimento e que O acolheram com grande coração, peçamos que nos dêem aquele coração que tiveram a fim de que também possamos ,dignamente, receber Jesus em nossas almas e sermos missionários.
Devemos pensar naqueles que não têm as graças que temos. Aos que não conhecem Nosso Senhor Jesus Cristo; aqueles que não O recebem mais. E hoje em particular, infelizmente, estamos numa época em que tantas pessoas abandonam Jesus; aqueles que O conheceram O abandonaram.
Então faremos todo o possível, para que em nossas famílias, nossos pais, nossos irmãos, nossas irmãs, todos aqueles que são nossos amigos, possamos fazer com que O conheçam novamente e O recebam, como a Virgem Maria, São José e os santos pastores.
Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amem.