Além de uma fé viva, uma esperança firme e uma caridade ardente, nosso bom D. Tissier demonstrou uma profunda confiança em D. Lefebvre e na obra por ele fundada.
Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est
Editorial do Pe. Gonzague Peignot (Fideliter nº 281)
As tempestades aqui na Terra justificam que nos apeguemos a um homem, assim como a uma embarcação, para evitar o afogamento? Não nos adverte o profeta Jeremias quando clama: “Ai do homem que confia em outro homem”? Não é Deus o único que merece nossa confiança?
Contra todas as probabilidades, essa foi, no entanto, a atitude do nosso bom D. Bernard Tissier de Mallerais, decano dos bispos da Fraternidade São Pio X, que partiu para a eternidade há algumas semanas. Contra todas as probabilidades, ele foi capaz de discernir em D. Lefebvre o homem que a Providência havia levantado para salvar a Igreja do seu naufrágio. Ele foi capaz de discernir isso e teve a graça de segui-lo. A Igreja foi abalada por uma crise terrível. Quase 80.000 padres estavam prestes a deixar a vida sacerdotal, e os seminários estavam começando a passar por uma revolução que o Dr. Jean-Pierre Dickès relatou em seu comovente livro: La Blessure. A formação sacerdotal foi jogada pela janela junto com as batinas
Em meio a esse cataclismo, ele procurou um seminário católico.
Foi em meio a esses anos terríveis que o jovem Bernard Tissier de Mallerais, sentindo-se chamado ao sacerdócio, começou a procurar, em meio a esse cataclismo, uma formação que o capacitasse a se tornar um verdadeiro sacerdote católico. Teria ele a mínima chance de encontrá-la, de modo que pudesse levar sua vida sacerdotal no espírito da Tradição? A Providência velava por ele e o jovem Bernard conheceu D. Marcel Lefebvre, Superior Geral dos Espiritanos, já conhecido por suas corajosas intervenções no Concílio. O jovem Bernard teve conversas sinceras com ele e concordou em se colocar sob sua direção quando D. Lefebvre abriu uma espécie de seminário para o primeiro ano em 1969.
Ele então teve a oportunidade de observar esse Arcebispo, ouvi-lo, e conversar com ele. E, pouco a pouco, descobriu nele o homem de Deus que a Providência havia formado para levar grande socorro às almas na crise que a Igreja atravessava. Dom Tissier de Mallerais, contudo, não estava cego por uma admiração puramente humana. Na biografia que escreveu do fundador de Écône, ele soube refletir, sem esconder nada, as limitações humanas de seu herói. Mas sua visão foi além, foi verdadeiramente sobrenatural. Com seu temperamento, com suas limitações, D. Lefebvre foi o homem escolhido por Deus. Bernard Tissier de Mallerais estava convencido e certo disso. Por isso, ele adotou a atitude correta, a única correta diante de Deus: ele confiou e, D. Lefebvre.
Em diversas ocasiões ele teve uma opinião diferente da dele. Ele foi capaz de expressar sua reserva em certas circunstâncias, foi capaz de argumentar e, às vezes, até de convencer o D. Lefebvre. Mas quando este último decidiu, o Pe. Bernard Tissier de Mallerais apoiou sem hesitação a bandeira do fundador da Fraternidade São Pio X e o seguiu com zelo e coragem. Ele sabia que a decisão havia sido tomada sob o olhar atendo de Deus, com a ajuda do Espírito Santo. Ele confiou, com uma confiança sobrenatural.
Em resumo, e citando o próprio fundador, “para a glória da Santíssima Trindade, pelo amor de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela devoção à Santíssima Virgem Maria, pelo amor à Igreja, pelo amor ao Papa, pelo amor aos bispos, aos padres, a todos os fiéis“, era necessário permanecer completamente fiel a D. Lefebvre e à obra que ele havia criado, a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, uma obra providencial, uma obra abençoada por Deus, um refúgio de salvação em meio à tempestade. E por ter confiança sobrenatural em D. Lefebvre, a quem ele corretamente acreditava que Deus havia levantado para se opor à crise na Igreja, ele manteve uma lealdade inabalável, uma lealdade filial.
Parece-me que podemos, por nossa vez, receber de D. Bernard Tissier de Mallerais este legado, que é ainda mais necessário nestes tempos cada vez mais difíceis. Além de uma fé viva, uma esperança firme e uma caridade ardente, nosso bom D. Tissier demonstrou uma profunda confiança em D. Lefebvre e na obra por ele fundada, apesar das inevitáveis falhas humanas que aí podemos detectar. Por fim, uma lealdade inabalável à referida Fraternidade e ao seu fundador.
Dom Lefebvre recebeu a graça de sagrar bispos. Nós recebemos a graça de segui-Lo.
Por ocasião do décimo aniversário das sagrações de 1988, na Revista Fideliter, D. Tissier de Mallerais resumiu sua linha de conduta: “D. Lefebvre recebeu a graça de sagrar bispos. Nós recebemos a graça de segui-lo.” Que essa seja, por sua vez, a nossa linha de conduta!
Pe. Gonzague Peignot, FSSPX