Fonte: A Grande Guerra (*)
Movimento feminista celebra 100 anos do Dia Internacional da Mulher
“100 anos de 8 de março: mulheres em luta por autonomia, igualdade e direitos”
Manifestação acontece no dia 8 de março, às 10h30, na Praça do Patriarca, rebatizada há dois anos pelas mulheres de Praça da Matriarca.
Depois do ato, haverá uma caminhada das feministas pelo centro da capital paulista.
Há exatos 100 anos, a socialista alemã Clara Zetkin propôs, durante a 2ª Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, realizada em Copenhague, na Dinamarca, a criação de um Dia Internacional da Mulher. Havia alguns anos, diferentes datas eram marcadas por jornadas de luta feminista, organizadas sobretudo em torno da defesa do voto feminino e da denúncia contra a exploração e opressão das mulheres.
A partir daí, as comemorações começaram a ter um caráter internacional. Um século se passou e hoje, em todo o mundo, o dia 8 de março é uma data de celebração e afirmação da luta das mulheres por igualdade, autonomia e liberdade. Em São Paulo, o dia será marcado por uma manifestação no centro da capital, que reunirá feministas de diferentes regiões do estado pra dizer “ainda há por que lutar!”.
Com o ato, convocado por dezenas de organizações e movimentos populares, as mulheres querem celebrar as conquistas alcançadas em cem anos de mobilização coletiva, mas também mostrar que a luta por autonomia, igualdade e direitos segue atual e necessária.
Bandeiras históricas como a divisão do trabalho doméstico, salário igual para trabalho igual, o combate à violência doméstica, a reivindicação de creches para todas as crianças e a defesa da legalização do aborto continuam na ordem do dia do movimento feminista.
Neste ano, estão entre as reivindicações das mulheres: a defesa da integralidade do Programa Nacional de Direitos Humanos, incluindo a resolução sobre o aborto, que foi alterada pelo governo federal; da Lei Maria da Penha, que vem sofrendo inúmeros obstáculos para sua implementação e legitimação; do Pacto Nacional de Combate à Violência contra a Mulher, que embora assinado pelo governo de São Paulo até hoje não teve recursos liberados; e do Estatuto da Igualdade Racial.
As feministas também denunciarão os efeitos da crise econômica na vida das mulheres, que foram as maiores vítimas do desemprego; a criminalização dos movimentos sociais e o acordo assinado entre o Brasil e o Vaticano, que viola a laicidade do Estado brasileiro. Haverá ainda manifestações de solidariedade e envio de doações às mulheres do Haiti.
Sobre o 8 de Março
Do final do século XIX até 1908, uma série de greves e repressões de trabalhadoras marcaram a construção do movimento feminista nos Estados Unidos. O primeiro “Woman’s day” foi comemorado em Chicago em 1908, e contou com a participação de 1500 mulheres. O dia foi dedicado à causa das operárias, denunciando a exploração e a opressão das mulheres e defendendo a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres, incluindo o direito ao voto.
De novembro de 1909 a fevereiro de 1910, uma longa greve dos operários têxteis de Nova Iorque, liderada pelas mulheres, terminou pouco antes do “Woman’s Day”, realizado no Carnegie Hall, quando três mil mulheres se reuniram em favor do sufrágio, conquistado em 1920 em todo os EUA.
Neste ano, a socialista alemã Clara Zetkin propôs, na 2a Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, a criação do Dia Internacional da Mulher, que seguiu sendo celebrado em datas diferentes, de acordo com o calendário de lutas de cada país.
Em 1914, ele foi comemorado pela primeira vez em 8 de março, na Alemanha. Mas é a ação das operárias russas no dia 8 de março de 1917, precipitando o início das ações da Revolução Russa, a razão mais provável para a fixação desta data como o Dia Internacional da Mulher.
Documentos de 1921 da Conferência Internacional das Mulheres Comunistas revelam a proposta de uma feminista búlgara do 8 de março como data oficial. A partir de 1922, a celebração internacional é oficializada neste dia.
Essa história se perdeu nos grandes registros históricos, mas faz parte do passado político das mulheres e do movimento feminista de origem socialista no começo do século.
Numa era de grandes transformações sociais, o Dia Internacional da Mulher transformou-se no símbolo da participação ativa das mulheres para transformarem a sua condição e a sociedade como um todo.
(http://psolsp.org.br/) Partido Socialismo e Liberdade
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Alguns trechos dos escritos de Clara Zetkin
(Clara Zetkin — in Notas de Meu Diário. Lênin,
Tal Como Era. Páginas escritas depois da morte de Lênin)
«Devemos criar necessariamente um poderoso movimento feminino internacional, fundado sobre uma base teórica clara e precisa» — começou ele, depois de haver-me saudado. «É claro que não pode haver uma boa prática sem teoria marxista. Nós, comunistas, devemos manter sobre tal questão nossos princípios, em toda sua pureza. Devemos distinguir-nos claramente de todos os outros partidos.
Infelizmente, nosso II Congresso Internacional não teve tempo de tomar posição sobre esse ponto, embora a questão feminina tivesse sido ali levantada. A culpa é da comissão, que faz com que as coisas se arrastem. Ela deve elaborar uma resolução, teses, uma linha precisa. Mas até agora seus trabalhos não avançaram muito. Deveis ajudá-la.»
Dizia Lênin:
“Devemos educar as mulheres que ganharmos para nessa causa e torná-las capazes de participar da luta de classe do proletariado, sob a direção do Partido Comunista. Não me refiro apenas às mulheres proletárias, que trabalham na fábrica ou em casa. Também as camponesas pobres, as pequeno-burguesas, são vítimas do capitalismo e o são ainda mais em caso de guerra.
A mentalidade antipolítica, anti-social e atrasada dessas mulheres, o isolamento a que as obriga sua atividade, todo o seu modo de vida; eis fatos que seria absurdo, completamente absurdo, subestimar. Necessitamos de organismos apropriados para realizar o trabalho entre as mulheres. Isso não é feminismo: é o caminho prático, revolucionário…
Temos o direito de estar orgulhosos de possuir no Partido e na Internacional a fina flor das mulheres revolucionárias. Mas isso não basta. Devemos atrair para o nosso campo milhões de mulheres trabalhadoras das cidades e do campo. Devemos atrai-las para o nosso lado a fim de que contribuam em nossa luta e particularmente na transformação comunista da sociedade. Sem as mulheres não pode existir um verdadeiro movimento de massas…
Pode haver prova mais condenável do que a calma aceitação dos homens diante do fato de as mulheres se consumirem no trabalho humilhante, monótono, da casa, gastando e desperdiçando energia e tempo e adquirindo uma mentalidade mesquinha e estreita, perdendo toda sensibilidade, toda vontade?…
Naturalmente, não me refiro às mulheres da burguesia, que descarregam sobre as empregadas a responsabilidade de todo o trabalho doméstico, inclusive a amamentação dos filhos. Refiro-me à esmagadora maioria das mulheres, às mulheres dos trabalhadores e àquelas que passam o dia numa oficina. Pouquíssimos homens — mesmo entre os proletários — se apercebem da fadiga e da dor que poupariam à mulher se dessem uma mão ‘ao trabalho da mulher’.
Mas não, isto vai de encontro aos ‘direitos e à dignidade do homem': este quer paz e comodidade. A vida doméstica de uma mulher constitui um sacrifício diário, feito por mil ninharias. A velha supremacia do homem sobrevive em segredo. A alegria do homem e sua tenacidade na luta diminuem, diante do atraso da mulher, diante de sua incompreensão dos ideais revolucionários: atraso e incompreensão que, como cupim, secretamente, lentamente mas sem salvação, roem e corroem…
Um congresso não é uma sala de visitas, onde as mulheres brilham com seus encantos, como dizem os romances. É a arena onde começamos a agir como revolucionários. Demonstrai que sabeis lutar. Antes de tudo, contra o inimigo, naturalmente, mas, se é preciso, mesmo no seio do Partido. Teremos o que fazer, com milhões de mulheres. Nosso Partido russo será favorável a todas as propostas e medidas que contribuam para atraídas para nossa movimento. Se não estão conosco, a contra-revolução poderá conduzi-las contra nós. Devemos sempre pensar nisto. Devemos conquistar as massas femininas, quaisquer que sejam as dificuldades.”
(Grifos meus)
(*) a postagem é de 2010, porém ainda é atual