Fonte: SSPX/District of Great Britain – Tradução: Dominus Est
Insanidade no mundo
Meus queridos fiéis,
Parece haver uma escalada alarmante de conflitos e insanidades em nossa sociedade atual. Um “zeitgeist” (sinal dos tempos) frenético de desequilibradas ideologias está acelerando a queda da Igreja Católica e de toda a civilização ocidental: liberalismo, feminismo, construtivismo, amor livre, ideologia de gênero, direitos reprodutivos, ambientalismo, ideologia pandêmica, teoria crítica racial e outros.
Estes são promovidos e impostos pelos pilares do poder mundial: governos, acadêmicos, corporações multinacionais, bancos, mídia e celebridades. Nunca antes eles foram tão coordenados e sem oposição em seus esforços. A hierarquia da Igreja Católica, outrora poderosa no cenário mundial como guardiã tanto da verdade como da moralidade, natural e sobrenatural, repete pateticamente sua mensagem em linguagem pseudo-teológica para não ser deixada para trás.
Como tantos podem abraçar a insanidade? De onde vem isso?
Motivos para aceitar a insanidade
Que as novas ideologias do “zeitgeist” são insanas é fácil de ver, pois elas contêm múltiplas contradições internas e têm consequências catastróficas na sociedade quando implementadas (ver Figura 1).
Alguns realmente não se importam se o zeitgeist é um vento favorável ou desagradável, mas cinicamente abraçam múltiplas e insanas ideologias para ganho pessoal – desde que seguir a ideologia do mundo “seja bom para mim”.
Alguns outros querem apenas prosperar no mundo e, assim, apesar de suas reservas quanto às ideologias, capitulam às suas exigências.
Outros ainda, não conhecendo o amor de Deus, anseiam pelo amor do mundo e por isso estão prontos para acreditar no mundo. Os pensadores desse grupo tentarão elaborar uma ginástica intelectual para dar sentido às ideologias, mas, falhando em conciliar proposições contraditórias, irão aceitá-las com fé porque querem que o mundo os aceite.
Finalmente, existem aqueles que levariam o mundo inteiro à escravidão. São eles que propõem e impõem ideologias insanas, desafiando, e com vontade de romper, a ordem estabelecida. Quando desafiados sobre a natureza irreconciliável de suas insanas ideologias, eles costumam mentir livremente e proclamar ferozmente “É a minha verdade!” e, em seguida, se lançam a destruir toda oposição. (Veja a Figura 2) .
Este último grupo é diferente dos outros, pois não aceita a insanidade, mas na verdade são loucos. É, na retorta deles, “É a minha verdade” que temos nossas evidências disso e uma explicação do zeitgeist.
“É a minha verdade”
Para explicar, o único ser que pode dizer “É minha verdade” como uma reivindicação de domínio sobre a verdade é Deus. “Deus é dono da verdade”, pode-se dizer.
Assim como um carpinteiro pode olhar atentamente para o seu trabalho e dizer com satisfação: “Esta porta é verdadeira“, porque se ajusta perfeitamente ao plano, Deus pode olhar para uma de Suas criaturas e dizer “Esta criatura é verdadeira” porque está de acordo com Seu plano. Como Criador de todos os seres, Deus é o autor de toda a verdade porque Ele é o autor do plano contra o qual toda criatura é medida. Chamamos essa verdade de verdade ontológica: a conformidade de um ser com o plano Divino.
Agora, como criaturas intelectuais, não podemos ser autores da verdade, mas podemos ser iluminados pela verdade. Isso acontece quando o intelecto é suficientemente informado por um objeto em consideração, ou quando o intelecto se conforma ao seu objeto. Chamamos essa verdade de verdade lógica. Em filosofia, a verdade lógica é definida como “a conformidade do intelecto a uma coisa compreendida (adequatio intellectus cum re intellecta).”
É dessa verdade que necessitamos se quisermos chegar à nossa perfeição natural e sobrenatural. Devemos conhecer a Deus e saber todas as coisas em relação a Deus. As verdades naturais são possuídas pela simples apreensão, julgamento ou raciocínio das informações recebidas através dos sentidos. As verdades sobrenaturais são possuídas pela virtude sobrenatural da fé aplicada à Revelação Divina contida nas Escrituras e na Tradição e ensinada a nós pela Igreja.
A natureza da insanidade
A ironia para aqueles que reivindicam domínio sobre a verdade é que, ao reivindicar uma prerrogativa divina para si, ao invés de se tornarem senhores do universo como gostariam, eles se limitam a um universo pessoal fortemente restrito, isolado de todas as outras criaturas. Ao buscar a liberdade de Deus, eles entram em uma prisão de sua própria autoria e jogam a chave fora. Eles se encaixam perfeitamente na definição característica de um louco, dada por Chesterton: “Um louco não é alguém que perdeu sua razão, mas alguém que perdeu tudo, exceto sua razão” (Ortodoxia). Eles renunciam a todos os pontos de referência externos; eles não têm senso de proporção porque não há modelos com os quais comparam as coisas (o que também explica porque não têm senso de humor); eles não têm um ponto de partida com o qual todos possam concordar, nenhum fundamento comum sobre o qual se possa construir um edifício universal de entendimento.
Como tal, a sua recusa em aceitar a ordem da realidade – a ordem da verdade – é simplesmente um eco daquele grito de Lúcifer no princípio dos tempos: “non serviam!”. Eles poderiam muito bem ter gritado “Eu não aceitarei Seu universo, Sua realidade, Sua verdade, moldarei uma para mim!” Com Lúcifer, eles rejeitam o dado, a âncora na realidade, e se encontram sozinhos, recusando-se a aceitar que existe uma referência última para todas as coisas, uma medida de todas as coisas fora de si mesmas pela qual uma coisa é objetivamente verdadeira ou falsa, boa ou ruim.
Eles semeiam o zeitgeist e colhem um turbilhão de males.
O remédio
Só há uma maneira de ajudar essas pobres almas isoladas e enganadas. Recorrer ao motivo dos danos para restaurar a razão não funcionará: eles só podem ser ajudados pela graça sobrenatural.
O mesmo é verdade para os outros grupos: os escravos do prazer, os escravos do medo e aqueles que desejam tão desesperadamente ser amados pelo mundo. Todos eles precisam das virtudes teológicas e morais sobrenaturais para retornar à sanidade da Verdade e à segurança da Bondade.
Pelos cálculos humanos, a insanidade que testemunhamos se intensificará até que a Igreja seja destruída e a sociedade humana passe pela tirania para se tornar o inferno na terra. Por determinação Divina, entretanto, a vitória já foi conquistada sobre o pecado e o inferno. Eles mataram o Autor da Vida e da Verdade e, involuntariamente, operaram a salvação de muitos. Eles tentam matá-Lo repetidamente e estão simplesmente preparando o cenário para Seu retorno em glória, se Deus quiser, em suas próprias almas primeiro antes de morrerem, depois no Juízo Final.
Nossa parte no remédio
Essa inevitável vitória, no entanto, não significa que podemos levantar as mãos para o alto e deixar tudo para Deus, pois somos chamados a ser Seus instrumentos da graça sobrenatural que salvará suas almas. Nossas ações futuras, embora sejam livres, já estão entrelaçadas no plano Providencial do universo. Devemos ser fiéis ao plano Divino. Não devemos apenas rezar por todos aqueles que semeiam e seguem o zeitgeist, devemos tornar-nos para eles como os apóstolos em Pentecostes foram para os judeus e gentios.
Nossas vidas devem se tornar como a vela Pascal que vimos arder nas últimas semanas em cada Missa. Devemos ser uma luz para o mundo, a luz das boas obras, um sacrifício noturno de louvor, um fogo resplandecente em honra de Deus, um fogo que pode ser dividido em muitas chamas, mas que nunca se apagará ao compartilhar sua luz.
Estamos enfrentando uma batalha, meus queridos fiéis. Na Irlanda, a antiga Ilha dos Santos, a Missa pública continua proibida e ouvir confissão agora é crime. Aqueles que reivindicam domínio sobre a verdade querem que aceitemos suas mentiras e nos juntemos a eles em suas prisões pessoais de insanidade.
Mas temos a Bem-Aventurada Virgem Maria como nossa mãe, e seu mês de maio está em nossa porta! Temos todos os motivos para aprofundar nossa devoção a ela, rezando o terço da família e recitando sua ladainha lauretana. Como podemos temer quando ela está ali para expor Aquele que é a Verdade, não a minha verdade, mas a Verdade, o Caminho e a Vida? O mês de junho também está próximo: um momento perfeito para trazer essa luz da Verdade para nossos lares, pela consagração de nossas famílias ao Sagrado Coração de Jesus.
In Jesu et Maria,
Pe. Robert Brucciani, FSSPX, Superior do Distrito da Grã-Bretanha