HISTÓRIA DA INVOCAÇÃO DA VIRGEM DO CARMO

12madonn_1467607Fonte: Hojitas de Fe – Tradução: Dominus Est

O dia 16 de julho é a festa de Nossa Senhora do Carmo, devoção muito popular da Virgem, por ser a padroeira de uma das mais insignes ordens religiosas, e por nos ter dado o Santo Escapulário, que é uma das devoções marianas mais queridas do povo fiel.

1ª História da Ordem do Carmo.

A Ordem de Carmo e a invocação de Nossa Senhora do Carmo, segundo antigas tradições, remonta ao profeta Elias, que viveu no século IX aC. Este profeta viveu no Monte Carmelo, localizado na Palestina, em um promontório que entra no Mar Mediterrâneo, e é famoso por dois acontecimentos na vida do profeta Elias:

• A vitória contra os sacerdotes idólatras de Baal, no tempo do ímpio rei Acabe (860-852 aC), a quem o profeta fez matar após punir Israel com uma seca de três anos e meio.

• A visão da nuvenzinha misteriosa que a chuva trouxe: depois de matar os sacerdotes de Baal, Elias reabriu o céu que antes havia fechado; e foi então que ele viu uma nuvem misteriosa vinda do mar, muito pequena a princípio, mas que cresceu progressivamente, até trazer uma chuva abundantíssima; e por revelação divina Elias soube que esta nuvem era uma figura da futura Mãe do Messias.

Santo Antônio Maria Claret ensina que mais tarde, por inspiração divina, Elias se retirou para o Monte Carmelo com seus discípulos para venerar ali a futura Mãe de Deus. Seu sucessor, Eliseu, continuou morando no mesmo local, recolhendo toda uma companhia de santos personagens, chamados “filhos dos profetas”, aos quais prescreveu certas regras de abstinência, jejum, orações e outros exercícios de piedade, que os distinguiam do comum dos judeus. Eles formaram o que poderíamos chamar de “Ordem do Carmelo”, que se perpetuou até a vinda do Senhor, tanto quanto o permitiu a dominação dos reis da Babilônia, Síria, Pérsia e Egito.

“Quando no dia de Pentecostes, os Apóstolos, inspirados pelo Espírito Santo, falavam diversas línguas e faziam muitos prodígios pela mera invocação do nome de Jesus, muitos homens que, segundo a tradição, tinham seguido os exemplos dos santos profetas Elias e Eliseu, e que tinham sido preparados para a vinda do Messias pela pregação de São João Batista, convencidos da verdade da doutrina apostólica, abraçaram a fé evangélica e começaram a honrar com ternura filial à Santíssima Virgem, de cuja presença e conversação puderam gozar enquanto Ela estivera em vida; e foram os primeiros a elevar uma capela à Mãe de Deus, no mesmo lugar do Monte Carmelo onde, em outro tempo, o profeta Elias vislumbrara elevar-se uma nuvem brilhante no céu, figura desta augusta Virgem. Reuniam-se várias vezes ao dia na nova capela, e ali honravam com toda sorte de orações, cânticos e piedosos exercícios à Santíssima Virgem como a soberana protetora de sua Ordem, quando começaram a ser chamados “Irmãos de Nossa Senhora do Monte Carmelo”; e os Sumos Pontífices não só confirmaram esse título, mas concederam indulgências especiais àqueles que honrassem a Ordem ou seus membros com este nome” (Breviário Romano, lições da festa de 16 de julho).

Assim, os religiosos provenientes de Elias se converteram à fé a partir de Pentecostes, conheceram a Mãe de Deus, a quem antes já haviam consagrado sua vida, e começaram a levar uma vida religiosa totalmente consagrada à Santíssima Virgem.

“Esta Ordem não tardou em ser muito florescente, pois já no final do século I o Monte Carmelo encontra-se povoado de monges e chama a atenção dos mesmos pagãos; e no ano 400 o número de religiosos aumentara consideravelmente, porque muitos monges se retiraram para a Palestina, para o Monte Carmelo, onde abraçaram fervorosamente os exercícios da vida religiosa, uns em comunidade, outros em lugares solitários. Os fiéis que acudiam ao Monte Carmelo visitavam assiduamente a capela em honra da Virgem, assistiam aos exercícios dos religiosos e compartilhavam seus cultos com a Rainha dos Céus; daí nasceu a Confraria de Nossa Senhora do Monte Carmelo, que deve ter existido no início do século IX, desde que o Papa Leão IV concedeu-lhe indulgências no ano de 847. Esta Confraria foi, portanto, a mais antiga e mais favorecida por Deus, pela Virgem Maria e pela Santa Sé.

Os religiosos do Carmo, célebres desde há muitos séculos na Palestina, vieram para o Ocidente antes das Cruzadas, para escapar da perseguição sarracena, e estabeleceram-se na Itália, França e Inglaterra, mas não foram bastante conhecidos na Europa até São Luís, que vira sua vida angelical na Palestina, trouxe-os para a França ao regressar de sua primeira Cruzada.

Os bons religiosos gozavam em paz o glorioso título de Irmãos de Nossa Senhora do Monte Carmelo, que os Sumos Pontífices haviam confirmado, e a sua Ordem estendia-se pela Europa, quando arrefeceu-se uma dura perseguição contra ela, por parte de alguns homens influentes, que queriam suprimi-la; tão furiosa foi a perseguição, que o Papa Honório III (1216-1227), vacilante, decidiu suprimi-la. Então a Santíssima Virgem lhe apareceu em sonhos e manifestou-lhe que tinha esta Ordem sob sua especial proteção, e que, de maneira alguma, ele deveria ceder aos seus adversários, ao contrário, que a honrasse e a favorecesse, confirmando-lhe sua regra, seu título e seus privilégios. E para mostrar-lhe a verdade de seus mandatos, disse a Honório III que naquela mesma noite dois de seus íntimos conselheiros, os maiores adversários de sua Ordem, encarregados de preparar o Breve de dissolução, morreriam inesperadamente durante o sono. De fato, quando o Papa despertou, foi notificado da morte de seus dois conselheiros. O Papa, então, ordenou que reunisse o Sacro Colégio de Cardeais, referiu-se à aparição da Santíssima Virgem e seus desejos, e aprovou a Ordem de Nossa Senhora do Monte Carmelo [ou Nossa Senhora do Carmo], dando-lhe uma Regra por meio de uma bula especial (30 de janeiro de 1226).

2ª História do Santo Escapulário.

Como apesar de tudo, a perseguição contra a Ordem Carmelita não cessara, a Santíssima Virgem decidiu conceder um novo privilégio aos seus queridos Irmãos, com os quais a Ordem foi mais uma vez enaltecida: era o Santo Escapulário. Em 16 de julho de 1251, a Mãe do Senhor apareceu a São Simão Stock, carmelita inglês e general das Carmelitas do Ocidente, para entregar-lhe a insígnia do Santo Escapulário com as seguintes palavras:
“Recebe, amadíssimo filho meu, este escapulário da tua ordem, como o sinal distintivo de minha Confraria e o sinal do privilégio que obtive para ti e para todos os carmelitas: quem morre dele revestido não padecerá o fogo eterno. Eis aqui o sinal da salvação, salvaguarda dos perigos, e o penhor de uma paz e de uma proteção especial até o fim dos séculos”.

São Simão enviou uma circular a todos os conventos da Ordem, no qual notificava a boa nova. Quando o povo fiel conheceu o privilégio concedido pela Virgem a esta sua Ordem, o nome de seus devotos se multiplicou consideravelmente, a perseguição feroz que se lhe fazia repentinamente desapareceu, e a Ordem do Carmo pode prosperar no Ocidente, em todos os países.

Sessenta anos mais tarde, em 1314, a Santíssima Virgem apareceu novamente ao Papa João XXII, dizendo-lhe estas consoladoras palavras:

“Quero que anuncies que a todos aqueles que, por devoção, entrarem na minha Confraria do Carmo e vestirem o meu Escapulário…, Eu, como Mãe de Misericórdia, por meio de minhas orações, méritos e proteção especial, conceder-lhes-ei que sejam livres de suas penas no Purgatório no sábado imediato após sua morte, transladando-os dali para a bem-aventurança eterna”.

João XXII promulgou este favor na Bula chamada “sabatina”; e desde então os Papas que o sucederam, como Alexandre V, Clemente VII, Paulo III, São Pio V e Gregório XIII, não deixaram de acrescentar novas indulgências ao Escapulário do Carmo.

Dois são, portanto, os principais privilégios que a Virgem nos obtém pelo devotado porte do Santo Escapulário: o primeiro é a salvação eterna; o segundo é a liberação do Purgatório no sábado seguinte à morte. Para ganhar estes privilégios, a Santíssima Virgem solicitou várias condições, que podemos resumir em quatro: 1º receber a imposição do Escapulário de um sacerdote com poder para impô-lo, e levá-lo sempre devotadamente, isto é, como expressão de devoção a Nossa Senhora (esta primeira condição é a única requerida para conquistar o primeiro privilégio; para ganhar o segundo requerem-se outros três): 2º guardar castidade segundo o próprio estado de vida; 3º rezar diariamente o Ofício Parvo, para os que sabem ler, que costuma ser comutado pela recitação diária do Santo Rosário; 4º para os que não sabem ler, observar jejum e abstinência todas as quartas, sextas e sábados do ano.

3º Espírito de devoção a Nossa Senhora do Carmo.

Mas há mais.

O Escapulário há de conduzir o fiel a uma terna devoção à Santíssima Virgem, assimilando-o ao espírito da Confraria do Carmo, que é se unir aos religiosos do Carmo, na profissão particular que fazem de honrar a Mãe de Deus, isto é, à mais pura das Virgens, à mais gloriosa de todas as Mães; em uma palavra, o que há de maior depois de Deus, segundo a frase de São Bernardo: “Sobre ti, só Deus; abaixo de ti, tudo o que não seja Deus”.

Os confrades, como sinal de sua devoção a esta gloriosa Virgem, revestem-se de seu hábito, para professar por meio dele o culto que querem dar a Nossa Senhora. Desse modo eles sustentam os sinais de sua dependência, a libré de sua Soberana; anunciam publicamente que pertencem a Maria e que não querem apenas honrá-la e respeitá-la, mas por Ela ser protegidos, e viver sob o seu manto.
Conclusão

A devoção à Santíssima Virgem sempre foi considerada na Igreja como um sinal infalível de predestinação: “Um servo de Maria não perecerá jamais”. E a festa de Nossa Senhora do Carmo confirma esse sentir. Com efeito, Nossa Senhora promete a seus devotos, neste caso através do porte devotado do Santo Escapulário, a graça da perseverança final. O mesmo acontece com outras práticas marianas, como a recitação diária do Santo Rosário e a comunhão reparadora dos primeiros sábados do mês:

“Prometo assistir na hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação de sua alma, todos aqueles que, nos primeiros sábados, durante cinco meses, confessarem, receberem a Sagrada Comunhão, rezarem o Rosário e me fizerem companhia durante quinze minutos, meditando sobre os mistérios do Rosário, com espírito de reparação”.

Ao nos apegarmos, pois, ao Santo Escapulário, não nos apegamos a um simples pano de lã, ao modo de um amuleto, mas à promessa de Nossa Senhora do Carmo, que prometeu salvar aqueles que o usem devotadamente; isto é, aqueles que o levam como um sinal externo de sua devoção interior à Santíssima Virgem, da confiança depositada em sua proteção e de uma vida santa, como convém a um filho devoto de Maria Imaculada.