IMPRESSÕES SOBRE O SÍNODO DA FAMÍLIA: O ESPÍRITO CONTRA A LETRA

12088425_10153058478025723_4365017566234380313_nPor Pe. Romano | FratresInUnum.com

As três últimas semanas, para a Igreja Católica, foram vividas com muita intensidade e ansiedade. De fato, era grande a expectativa sobre as conclusões que os Padres Sinodais e, em última instância, o Papa, iriam dar às questões mais problemáticas envolvendo as famílias, em especial aos divorciados em segunda união e à possibilidade dos mesmos poderem ter acesso aos sacramentos, isto é, à confissão e à comunhão. Tal debate, iniciado no Sínodo extraordinário do ano passado com a proposta do cardeal Kasper e de outros purpurados e teólogos, havia suscitado forte apreensão por parte de milhares de fiéis – clérigos e leigos – que se chocaram diante de uma posição frontalmente contrária à doutrina sobre a indissolubilidade do matrimônio, divinamente revelada e confirmada, ao longo dos séculos, pelo magistério da Igreja, a despeito de fortes pressões e perseguições.

Como se encerra o Sínodo? Desde o Concílio Vaticano II, nenhuma assembleia da cúpula da Igreja havia suscitado tanto interesse, sobretudo por parte da mídia. E, a despeito de se afirmar que o centro do debate era a família, e não a questão da comunhão para os divorciados em segunda união, o que se viu foi uma dura batalha, no interior da aula sinodal, sobre esta questão, entre posições bastante divergentes: de um lado, os inovadores; do outro lado, os fiéis à doutrina católica. O segredo, que deveria ser mantido ao longo dos trabalhos, deixou de sê-lo, desde o início, e foi despudoradamente apresentado à mídia. A imagem que se queria passar, evidentemente, era a de uma Igreja mais “humana”, samaritana, misericordiosa, que punha ao centro o homem, na sua situação concreta. Esta imagem é a que o Papa Francisco, desde o início de seu pontificado, tem se esforçado para passar. E não é difícil perceber de que lado está o Papa. Para se entender o que virá depois do Sínodo, não é tanto ao texto das propostas dos Padres Sinodais  ao Papa que devemos nos ater. Francisco sabe o que quer, e irá até o fim em seu projeto revolucionário.

Pela enésima vez, Bergoglio, no discurso de encerramento do sínodo, disparou, sem misericórdia, contra cardeais, bispos, padres e fiéis conservadores:

A experiência do Sínodo fez-nos compreender melhor também que os verdadeiros defensores da doutrina não são os que defendem a letra, mas o espírito; não as ideias, mas o homem; não as fórmulas, mas a gratuidade do amor de Deus e do seu perdão. Isto não significa de forma alguma diminuir a importância das fórmulas, das leis e dos mandamentos divinos, mas exaltar a grandeza do verdadeiro Deus, que não nos trata segundo os nossos méritos nem segundo as nossas obras, mas unicamente segundo a generosidade sem limites da sua Misericórdia (cf. Rm 3, 21-30; Sal 129/130; Lc 11, 37-54). Significa vencer as tentações constantes do irmão mais velho (cf. Lc 15, 25-32) e dos trabalhadores invejosos (cf. Mt 20, 1-16). Antes, significa valorizar ainda mais as leis e os mandamentos, criados para o homem e não vice-versa (cf. Mc 2, 27).

Portanto, exaltação do espírito contra a letra, ou seja, contra quem defende a moral católica e é equiparado aos fariseus e doutores da lei do Evangelho. Discurso duro, recheado de insinuações de quem não gostou de ter sido contrariado.

Discurso ambíguo – como quando se fala de inculturação -, que deixa aberto o caminho para cada um fazer o que lhe for mais conveniente, quando, no documento sinodal, alude-se ao acompanhamento e discernimento de cada caso concreto. Amplo espaço dado à subjetividade, nenhuma alusão às necessárias condições para se receber a absolvição sacramental validamente – arrependimento e propósito de emenda – e assim poder comungar com as devidas disposições; a primeira, delas, estar em estado de graça.

A mídia italiana, também a católica, está exultante! Todavia, não se vê tanto entusiasmo assim entre os Padres Sinodais. Um deles, vindo de um país do leste europeu, dizia, resignadamente: “agora se fará [oficialmente] o que muitos padres já faziam. Permitirão comunhões sacrílegas!”.

Um purpurado italiano – o arcebispo de Gênova e presidente da Conferência Episcopal Italiana, o cardeal Bagnasco – tentava explicar a uma jornalista católica que o texto não afirmava isso, e que se deveria esperar a última palavra do Papa.

A última palavra do Papa!

Será a vitória do espírito do Sínodo sobre a sua letra — já não muito clara; a vitória da teoria de Kasper, compartilhada por Bergoglio – que já agia assim, quando era arcebispo de Buenos Aires -, sobre uma doutrina fossilizada e não atual ao homem moderno; será o triunfo da Igreja sinodal, descentralizada (conf. Evangelii Gaudium, 32) e inculturada, e as exéquias do papado romano. A menos que – é o que esperamos – Deus tenha compaixão da Sua Igreja, e revele a Sua Misericórdia – a verdadeira, que não se contrapõe à verdade, à justiça e às Leis Divinas, imutáveis e eternas!